“Há muito queria dar voz à história da minha família.”

Raquel de Medeiros Alexandre

Memória conheceu a professora Raquel no ano passado, em Diadema, numa feira de livros promovida pela Prefeitura. Ela falou que gostaria muito de contar a história da sua família, os Medeiros Pinto. “É só escrever”, respondemos.

Raquel fez mais: levou-nos aos meandros de um projeto fantástico, o EJA (Educação de Jovens e Adultos) no Jardim Portinari. Conhecemos outros professores e alunos. E os acolhemos com alegria em Memória. Cada um contou sua história.

Faltava o relato dos Medeiros Pinto. Em janeiro Raquel nos enviou. Pedimos fotos. A ideia era publicar em abril. Mas o texto estava longo. Vieram as várias semanas, séries e coberturas pontuais deste espaço aqui no Diário. No último fim de semana decidimos: publicamos neste começo de junho.

Está longo o texto? Mas está tão bom. Nenhum corte. Dividimos em dois. A análise do resultado final fica com você, caro leitor.

De uma coisa temos certeza: Raquel, a professora de Diadema, nos oferece uma nova receita de como se pode e deve construir a memória familiar. Seguimos, pois, à cidade de Paraíba do Sul. Sabem onde fica?

Mariquinha e Victorino

Texto: Raquel de Medeiros Alexandre

A história que vou contar não é minha, mas é graças a ela que eu tenho também minha história. Ela se inicia no começo do século 20, num pitoresco lugar da Baixada Fluminense, Paraíba do Sul.

A mocinha Mariquinha, com seus 12 anos, como em todo o dia, vai levando um balde d’água à cabeça, do poço à sua casa, despertando em Victorino encantamento por sua graciosidade.

Victorino em seus 20 e poucos anos, já é jovem maduro neste tempo, mas promete a si mesmo que espera a menina crescer e com ela vai se casar.

Claro que não seria uma paixão de verão a iniciar a história, e sim o amor genuíno de Victorino por Mariquinha. Ele conquista o coração da menina e, de fato, conforme promessa feita, no tempo certo, a levou a dizer ‘sim’ ao seu pedido.

Era este o início da felicidade duradoura do casal, que seguiria vida com os cinco filhos que tiveram, dois meninos e três meninas, no belo sítio, a rica e tranquila morada incrustada no vale da Baixada. Rica, digo, por natureza. Não tinha ali o que não vingasse nas terras regadas pelo majestoso Rio Paraíba, plantações tão bem cultivadas pela família.

No entanto, a felicidade duradoura foi interrompida quando a morte os visitou, levando Mariquinha, esposa-mãe tão querida, fazendo com que Victorino, em sua tristeza sem cura, fosse aos poucos partindo também. Logo, os cinco irmãos ficaram sozinhos na vastidão daquelas terras.

Os tios, vindos de distintos lugares da região, organizaram-se em reunião para decidir o futuro das crianças.

“Levo dois”, dizia um. “Levo um”, repetia outro. E graças a esta conversa ter sido ouvida por Zenith, a mais velha, é que todos permaneceram juntos.

A mocinha ainda não emancipada caiu em choro desesperada por pensar na perda também dos irmãos, assustando e constrangendo os tios.

Sem saber o que fazer, José da Silva, o tio de São Paulo, liga para a esposa, Alexandrina. E é ela quem decide: “Traga os cinco.”

Assim, os irmãos – Zenith, Louvenil, Demerval, Zélia e Zelina – dizem ‘adeus’ ao vale e suas verdes matas, a seus animais e seus plantios e dizem ‘olá’ à cidade grande, às fábricas e suas cinzentas máquinas. Mas estavam juntos e só isso importava.

PARAÍBA DO SUL

- Situa-se num remanso descoberto no Rio Paraíba do Sul em 1681 por Garcia Rodrigues Paes, filho do bandeirante Fernando Dias Paes Leme.

- Fica a 138 quilômetros da Capital.

- Elevado a município em 1833.

- Pelo Censo 2010, possui 41.088 habitantes

- Slogan: A Rainha das Águas Minerais

AMANHÃ

A chegada a Santo André e a Primeira Igreja Batista.

Diário há 30 anos

Domingo, 2 de junho de 1985 – ano 28, nº 5841

Manchete – Sarney (José, presidente da República) põe princípios econômicos em debate

Movimento Sindical – Meneguelli (Jair, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema) tenta acordo com a Ford.

Ferrovia – Refesa (Rede Ferroviária Federal) desmonta sistema funicular entre Paranapiacaba e Baixada.

- Material retirado será leiloado pelo superintendente regional da Refesa, José Sartoris Neto.

- No lugar será aberta uma estrada de serviços.

- O trecho a ser desmontado mede 10,5 quilômetros e foi desativado em 1974.

Nota – Uma pena. Destruía-se um verdadeiro patrimônio da humanidade, o equipamento mais nobre do sistema ferroviário da Serra do Mar. Por muito menos, Monte Serrat, em Santos, e Bérgamo, na Lombardia, exploram, com sucesso, seus respectivos sistemas funiculares, muito menores que o de Paranapiacaba.

Em 2 de junho de...

1915 – Moradores de Santo André querem a volta do destacamento policial. Os soldados foram recolhidos depois de terem matado um morador do Ipiranguinha que resistia à prisão. Representação deverá ser enviada ao secretário da Justiça e Segurança Pública, Eloy Chaves, que determinara a retirada dos policiais.

- A guerra. Do noticiário do Estadão: ‘A probabilidade da entrada da Bulgária na guerra’.

1930 – Até 30 de abril Prefeitura havia licenciado, na região, 789 veículos automotores.

1975 – Médico Jerônimo Adamo nomeado pelo prefeito Geraldo Faria Rodrigues o primeiro presidente da Fubem (Fundação do Bem-Estar do Menor de São Bernardo).

Hoje

- Festa Nacional da República Italiana. A data marca o referendo da República realizado no país, depois de mais de 80 anos de regime monárquico e 20 de fascismo.

Santos do dia

Na estampa, Marcelino e Pedro. Em Roma, no ano 303, durante a perseguição de Diocleciano, foram ambos decapitados e tiveram a honra de ter seus nomes inscritos no Cânon tradicional da Santa Missa.

- Erasmo

- Blandina