Conseguir entrevista com os Racionais MCs nunca foi tarefa das mais fáceis. Referência do rap nacional, o grupo paulistano, que se apresenta hoje, às 20h, no Espaço de Eventos do Sesc Santo André, prefere manter distância de repórteres e fotógrafos.
Mas nem sempre é assim. Depois de muita insistência e tentativas frustradas, a produção dos músicos destacou o DJ KL Jay para falar sobre temas como carreira, discriminação racial e mazelas sociais brasileiras.
Esses assuntos inspiram clássicos que deverão integrar o repertório do show, como Diário de um Detento e O Homem na Estrada, responsáveis pela popularidade do quarteto, tão evidente que os ingressos para a apresentação esgotaram-se ontem à tarde. Entretanto, o grupo, que prepara álbum de inéditas com lançamento previsto para 2010 pelo próprio selo, o Cosa Nostra, não se preocupa com os números que medem a fama.
"Se pensasse assim, estaria preso a resultados. Fazemos nossa música do jeito que a gente acha que tem de fazer. Quem quiser nos seguir que siga", afirma KL Jay.
LONGE DA MÍDIA - O DJ explica o porquê de a banda preferir o relacionamento direto com o público e preservar o distanciamento em relação aos holofotes da mídia. "É uma opção nossa não aparecer. A gente põe a cara para bater, faz as músicas e lança em CD ou coloca na internet para qualquer um acessar, ouvir e tirar suas conclusões."
Ele não quis responder se essa postura teria relação com a cobertura feita pela imprensa do tumultuado show dos Racionais na edição de 2007 da Virada Cultural, na Capital, em que houve confronto entre fãs e policiais. Para explicitar seu posicionamento, KL Jay, que divide o palco com os rappers Mano Brown, Ice Blue e Edy Rock, fez analogia com o futebol.
"É a mesma coisa com o Ronaldo quando joga no Corinthians. A gente só espera que ele jogue bem. No Sesc Santo André, vamos tentar fazer um belo show para as pessoas que forem lá e só isso", explica.
RACISMO E VIOLÊNCIA - O DJ comentou o caso do vigilante negro espancado por seguranças em supermercado de Osasco, na Grande São Paulo. Na ocasião, a vítima tentou abrir o próprio carro e foi confundida com assaltante.
"Isso acontece toda hora em todos os lugares de São Paulo. No Brasil, essa questão (o combate à discriminação) ainda precisa melhorar muito, porque o racismo é disfarçado. Acredito que melhorou um pouco porque, se fosse antigamente, tinham atirado no rapaz. Não deixa de ser constrangedor".
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