Esse artista, vindo do teatro, com vocação mambembe, começa a história se relacionando com duas mulheres, uma das quais tem uma filha pequena. Depois as deixa e, virando indigente, vai parar em um abrigo de sem-teto, onde funda um pequeno teatro com os internos. Põe o pé na estrada mais uma vez e relaciona-se com outra mulher, mas o caso também não dura.
Finalmente, uma jovem ressurge do passado e dá novo sentido à sua vida. Mas também provisoriamente. Aliás, tudo é provisório nessa história de uma vida sem portos seguros, a não ser o da arte. Descrição quase realista da condição do artista no Brasil ou alegoria da vitória da arte sobre uma vida sem sabor?
Capovilla, em entrevista, discutiu essas e outras questões. Disse que tinha o livro de Noll na estante desde 1993, mas não o havia lido direito. Um dia, atrás de uma história, voltou a abri-lo e o devorou de um fôlego só. “O que me encantou foi o personagem e evidentemente a sua história que, na verdade, não chega a ser bem uma história, mas uma peregrinação entremeada por uma série de situações limites. Ele vive sempre no limite, com altos e baixos, esperanças e frustrações, tais como todo artista brasileiro. Somos todos um pouco esse Ator desmemoriado, que não quer saber do passado, vive o presente com toda plenitude, se joga na vida sem premeditação, culpa ou medo”, diz.
Capovilla achava que Paulo César Pereio seria o ator ideal para esse papel difícil. De fato, ele encarou o desafio com entrega total. Em Brasília, Pereio chegou a dizer que havia se reconstruído com esse trabalho. “Creio que, entre todos os grande atores brasileiros, ele era o único capaz de encarnar profundamente o papel e se oferecer, de certa forma, para o cadafalso, pois a linha dramática do personagem pressupõe uma entrega que é uma espécie de desnudamento. E para fazer isso é preciso estar pronto para recomeçar, coisa que não é fácil em uma determinada época da vida”, afirma Capovilla.
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