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Mercado de vendas e serviços para bikes acelera no Grande ABC

Setor tem impulso de até 40%, estimulado por nova ciclofaixa e passeios ciclísticos

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
18/05/2015 | 07:15
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Ari Paleta/DGABC


As ciclofaixas em Santo André e em São Caetano, eventos como pedaladas noturnas e passeios durante o dia para famílias aos fins de semana e até a busca por meio de transporte mais em conta na região estão estimulando a adesão ao ciclismo. Com isso, lojistas do Grande ABC que trabalham com a venda de bikes e com peças e serviços para a magrelinha sentem impulso nas vendas neste ano, que chega a até a 40% em relação aos números do início de 2014.

O aumento da procura já vinha sendo percebido nos últimos anos, mas a destinação de mais espaços para a prática, ainda que timidamente, está colaborando para acelerar os resultados – apesar de percalços, como a retirada da ciclofaixa em Mauá no fim de 2014.

É o que observa o empresário Marcel Padial, que há seis anos montou sua primeira loja, de nome MBike, em espaço de apenas 18 m², no bairro Vila Helena, em Santo André, motivado pelo amor às bicicletas e pela sensação de que havia carência de comércios desse tipo. Três anos depois, ele se mudou para espaço mais amplo no bairro e, há um ano, abriu outra filial, junto com um sócio, na Vila Guiomar, no mesmo município.

“A cada dia vemos mais pessoas interessadas em começar a pedalar, em grande parte por conta da nova estrutura (a ciclofaixa em Santo André, lançada em fevereiro). Muitos não pedalavam por medo e falta de um local adequado, mas ao ver famílias inteiras pedalando, tomam coragem”, afirma Padial. Ele cita que suas vendas, de bikes, peças e serviços, cresceram 40% neste ano, e acrescenta que em sua clientela há desde pessoas que usam o veículo para lazer e para esporte quanto as que optam como meio de transporte.

Outro lojista, Alexandre Payão, que tem comércio do ramo, a Bike Store, há quatro anos no bairro Rudge Ramos, em São Bernardo, também registra melhora nos resultados. Ele calcula em 20% o crescimento neste início de 2015, que ocorre tanto na procura de bicicletas mais populares – na faixa entre R$ 350 a R$ 500 – quanto em serviços de manutenção e peças e acessórios.

Payão afirma que as ciclovias em São Paulo, a ciclofaixa em Santo André e também os grupos de pedaladas, formados por amantes das bikes que se unem para passeios à noite ou aos fins de semana, contribuem para elevar seus negócios. “Ajudaria mais se tivesse uma ciclovia aqui em São Bernardo também”, ressalta.

“Deu uma aquecida, embora a economia parada atrapalhe”, destaca Marcelo Alborguetti, da Italy Bike, que fica no bairro Assunção, em Santo André. Ele está há 20 anos no mercado e espera, mesmo com a crise econômica do País, igualar as vendas deste ano com as de 2014. Em sua loja, os serviços de manutenção têm sido o mais forte, junto com a venda de peças e acessórios, como capacetes – comercializados ali por R$ 80 até R$ 500.

Para os lojistas, a procura pode até ganhar impulso com novos projetos municipais, como o de montagem de ciclovia em Santo André – prevista para inaugurar em agosto e interligar a região da Vila Luzita à Estação da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) Prefeito Celso Daniel –, e o interesse de consumidores em ter a bicicleta como meio de transporte barato, para ir ao trabalho. “Acredito em melhora nas vendas das de baixo custo e nas seminovas”, diz Paula Paschoalin, da Star Bike, de São Caetano, que recebe muitos clientes com quadros de bikes antigas para reforma.

Na avaliação do empresário Leonardo Raia, os negócios poderiam ir melhor, se o governo federal não tivesse elevado, no início da década, o imposto (de 20% para 35%) de bicicletas e peças importadas. Ele entrou no mercado em 1999, com as lojas Bike Dream, presentes hoje em Santo André, Mauá e São Paulo, e, mais recentemente, em 2013, abriu a Pedal Center, em São Caetano. “O governo tem a política de não incentivar”, lamenta.


Aficionados formam grupos para pedalar

Um dos fatores de estímulo à prática do ciclismo, e consequentemente, às vendas de bikes, peças e acessórios, e também aos serviços de manutenção desses veículos, são os grupos formados por aficionados pelo esporte, que organizam passeios semanalmente na região.

Um deles é o Pedal Urbano, do bairro Rudge Ramos, em São Bernardo, existente há um ano e meio. Um dos participantes, Júlio César Alves Correa, 33 anos, conta que são realizadas, toda semana, pelo menos duas pedaladas noturnas e um passeio durante o dia, neste último caso, aos sábados. O percurso varia, podendo incluir voltas pelos paços municipais de Santo André, São Caetano ou São Bernardo, ou idas a São Paulo, normalmente com até 56 pessoas.

Correa destaca que os trajetos em grupo dão mais segurança, para minimizar riscos de assalto ou de acidentes no trânsito, o que ajuda também na popularização do hábito saudável e não poluente do ciclismo. Ele mesmo, além de passear, utiliza uma bicicleta para fazer compras no supermercado – uma de sua bikes tem bagageiro – e outra para ir trabalhar.

Seu grupo tem até pessoas de fora da região que vão a São Bernardo para participar. Edvilson Oliveira, o Ed, 33, está no Pedal Urbano desde o início. Ele considera que os trechos de ciclovias e ciclofaixas são bem-vindos, sobretudo para os iniciantes, embora no seu caso não tenha tanta influência, já que ele costuma fazer trajetos de até 100 quilômetros.

Em relação aos espaços destinados à prática, ele acha que ainda podem melhorar muito. “O Brasil está só iniciando, ainda estamos muito atrás de Espanha, Itália, Holanda e Alemanha, que têm tradição”, diz.

Na Holanda, por exemplo, 55% dos deslocamentos para trabalhar se dão por meio de bicicleta, e o uso desse veículo é peça central de políticas de transporte nas cidades, aponta o estudo da Rosemberg Associados, que mostra ainda que nesse país praticamente todo mundo tem uma bike (99% da população), enquanto no Brasil essa proporção é de 30%.
 




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