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Escolas da rede estadual são palco de violência
Vanessa Fajardo
Do Diário do Grande ABC
17/05/2009 | 07:21
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Espaços que deveriam ser utilizados para construir conhecimento e formar cidadãos cada vez mais são palco de violência das mais diversas formas. Quinta-feira, alunos depredaram a Escola Estadual Professor Antônio Firmino de Proença, na Zona Leste da Capital, depois que dois ex-alunos, suspeitos de serem traficantes, foram tirados de dentro do prédio. A escola é a mesma onde o governador do Estado, José Serra (PSDB), concluiu o Ensino Médio.

O fenômeno não é restrito à Capital. Nas escolas do Grande ABC, a violência não é característica apenas dos colégios dos bairros periféricos. No dia 23, dois irmãos alunos da Escola Estadual Robert Kennedy, no bairro Assunção (área central), em São Bernardo, foram agredidos. Felipe (nome fictício), 13 anos, levou uma rasteira, caiu, perdeu o ar e foi levado para o hospital. Thiago (nome fictício), 17, teve traumatismo craniano após ser espancado por um grupo de 15 garotos na saída da aula. Ele foi chutado na cabeça e chegou ao hospital com múltiplas contusões na face. O espancamento seria uma retaliação por ele ter tirado satisfações com o agressor do irmão.

"Ele tomou dois socos e desmaiou. Não deu tempo de reagir. Você manda um filho à escola para estudar e acontece isso. Fica uma sensação de angústia", conta o engenheiro Murilo Sanches Rosa, 43 anos, pai dos meninos.

O assunto repercutiu em toda a escola. Na semana passada, a reportagem do Diário ouviu alunos na saída das aulas. "É muito comum ter briga entre alunos aqui. Nós até já acostumamos", disse uma garota da 6ª série.

A doméstica Gineide Severina da Conceição, 33, explicou que faz questão de buscar e levar o filho Matheus, 11, ao colégio. "Eu vi a confusão naquele dia, fiquei menos preocupada porque soube que os meninos que bateram não são da escola. Mesmo assim, não tenho confiança de deixar o Matheus ir e vir sozinho."

Distante dali, no bairro Alvarenga, em frente à Escola Estadual Domingos Peixoto, um grupo de adolescentes contou à reportagem que sempre se envolveu em brigas. "Se você não bate, apanha. Tem de ser brava. Já bati numa menina dentro da sala porque ela ‘mexeu' comigo", resume Jéssica (nome fictício), 13. Ela disse que até a diretora já foi agredida no colégio. Para elas, as brigas são "divertidas" e as pessoas se "agitam" ao ver a troca de agressões. "Se a polícia vem? Sim, às vezes. Aí, todo mundo sai correndo", concluiu.

A Secretaria Estadual da Educação informou que os dois alunos envolvidos na briga da escola Robert Kennedy foram transferidos a outra unidade.

‘Estamos mergulhados num clima de guerra'
Especialistas acreditam que a violência no âmbito escolar é a extensão de um problema que assola a sociedade como um todo.

"O contexto social mundial é de violência. Somos bombardeados constantemente com informações sobre violência das mais diversas ordens. Há discursos de paz, mas ações de violência", define o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos.

Para ele, a violência faz parte do cotidiano social também no Brasil. "É polícia contra polícia, bandido contra cidadão, milícias... Estamos mergulhados em um clima de guerra civil não declarada."

O especialista diz que em meio a esse contexto, a escola perdeu as características antigas de rigidez. "O ensino deixou de ser educação para se tornar administração de ensino. Hoje ensina-se Química, Física e Biologia, mas o relacionamento humano e os valores éticos foram deixados de lado."

A socióloga do Núcleo de Estudos da Violência da USP (Universidade de São Paulo) e autora do livro Violência na Escola, Caren Ruotti, diz que precisa haver resignação por parte das escolas porque, para os geradores de conflito, elas não possuem qualquer representação. "As escolas não sabem lidar com a violência. Transferência e expulsão dos alunos agressores não resolvem nada. É uma velha fórmula. A escola tem de quebrar o ciclo de uma sociedade violenta."

A socióloga aponta como solução o trabalho conjunto entre direção, corpo docente e comunidade, o que inexiste nas instituições onde o índice de violência é alto. "É preciso trazer a família para a escola não só quando os filhos se envolvem em situações de conflito."




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