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Em 'Bróder', violência na favela fica em 2º plano
19/02/2010 | 07:00
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Antigo palácio do Festival de Berlim, o Zoo Palast, na praça central da capital alemã, tem mais de 1.000 lugares e estava quase cheio na noite de quarta-feira, quando "Bróder", de Jefferson De, teve sua primeira exibição na Berlinale, na mostra Panorama. Uma boa parte da ruidosa plateia era formada por brasileiros.

"Bróder" passa-se na favela, ou melhor, na comunidade Capão Redondo, São Paulo. Mais um filme sobre favela, violência, vai pensar o leitor. Mas este é diferente. No fim da sessão, chamado ao palco com seus companheiros de elenco - Sílvio Guindane e Du Bronx -, Caio Blat assinalou a diferença.

Muitos filmes brasileiros revelam a favela, mas em geral são obras de diretores brancos, de classe média, que olham aquele mundo de fora. Jefferson De é negro e olha a favela de dentro. O mundo é violento - o filme trata de um plano de sequestro, entre outras coisas -, mas a violência não ganha o primeiro plano. Ela fica de fundo, subentendida.

"Bróder" é um filme sobre relações - de família, de amizade, de poder. "Acho que não tem outro filme brasileiro recente em que as pessoas se abracem tanto", disse, após a sessão, o próprio diretor.

O longa tem realmente algo a mais. Mas ali mesmo já se fizeram ouvir algumas vozes contrárias - o filme é coprodução da Sony, da Lereby (de Daniel Filho) e da Globo, o que, a certos olhos, já o torna ‘suspeito'. De quê, agora que a nomenclatura da cosmética da fome parece arquivada?

Os globais do elenco são sempre uma ferramenta para se atacar o filme como sendo de ‘mercado', mas quem será louco de dizer que Cássia Kiss, mais uma vez, não é verdadeira ao vestir a pele dessa dona de casa da favela, que pressente o perigo que ronda seu filho? Cássia e Ailton Graça formam o casal inter-racial. Dançam numa (bela) cena.

Contra toda a violência do mundo, Jefferson De, que lançou há anos o Dogma Feijoada, acredita nas relações. Seu filme é a prova.




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