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Zico é o maior artilheiro do Maracana
Do Diário do Grande ABC
10/06/2000 | 16:56
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O Maracana completa o seu cinqentenário na sexta-feira, dia 16 de junho, quando um combinado de jogadores cariocas enfrentou o combinado paulista no jogo de inauguraçao (os paulistas venceram por 3 a 1). Na história do maior estádio do mundo, que começa em tom de tragédia, com a perda do campeonato mundial para o Uruguai, foram os heróis muito mais do que os viloes quem escreveram os capítulos que entraram para sempre no imaginário das pessoas.

O Maracana testemunhou a consagraçao dos gênios Pelé e Garrincha. Reverenciou Didi (autor do primeiro gol do estádio), aplaudiu Zizinho e Nílton Santos e forjou várias geraçoes de craques. Santos, Botafogo, a Academia do Palmeiras, o Cruzeiro de Tostao e o Flamengo campeao do mundo desfilaram seus grandes times diante de multidoes fascinadas. Mas foi no Maracana, sobretudo, que os rubro-negros viram nascer aquele que seria seu astro principal. Zico, Arthur Antunes de Coimbra, tornou-se com seus muitos gols (333 nos juvenis e profissionais em 435 jogos) e exibiçoes memoráveis o maior artilheiro do Maracana, aquele que tornou melhor as tardes de domingo de milhoes de apaixonados flamenguistas. ``O Maracana marcou a minha carreira e a minha vida. Ali conquistei muitos títulos, me tornei ídolo do time do meu coraçao. Isso vai ficar para sempre', conta Zico.

   A trajetória de Zico no Maracana e na carreira é contada num caderno escolar. Guardado com carinho na sala de troféus da casa do ex-jogador, na Barra da Tijuca, já velho de tantas vezes manuseado, o documento só nao registra a emoçao da primeira vez que Zico foi ao Maracana. ``Meu pai já me levara antes, bem pequeno. Mas a primeira lembrança, a imagem que eu guardei para sempre, foi ver da arquibancada o Dida fazer um gol (Zico reproduz o gesto do chute de Dida) num jogo contra o Corinthians, em 1961', lembra.

   Dida já era o ídolo de Zico. Desde as primeiras palavras, ensinadas pelo pai, o português Seu Antunes. Zico voltaria várias vezes ao Maracana para ver o entao camisa 10 da Gávea jogar. ``No ano seguinte, fui de novo com meu pai ver a decisao do campeonato contra o Botafogo. O Garrincha acabou com o jogo e perdemos de 3 a 0.'

   Talvez daí, dessa frustraçao de criança (Zico tinha oito anos), tenha nascido o prazer assumido em cada gol que marcou sobre o Botafogo. ``Sou de uma geraçao que cresceu sofrendo com o Botafogo. Acho que ajudei a inverter a escrita.'

   Nao dá para esquecer o primeiro gol marcado no Maracana. Em 1971, Zico era o franzino camisa 10 do juvenil rubro-negro. O jogo foi contra o Botafogo, na preliminar de um domingo de Maracana lotado. Zico sabia que a família inteira estava na arquibancada para vê-lo jogar. ``Houve um pênalti contra o Botafogo. No gol onde fica a torcida do Flamengo, eu sabia que meu pai estava lá, no lugar de sempre. Mas nao fiquei nervoso. Cobrei e marquei. Depois subi para assistir ao jogo principal com eles (o Flamengo perdeu)', conta.

   Esse foi o primeiro, vieram outros mais, de pênalti, em cobranças de falta, a maioria com a marca do craque, do talento raro de finalizador que nao costumava desperdiçar as oportunidades que surgiam. ``Nao me preocupava em fazer gol bonito. Procurava chutar sempre de primeira, no contrapé do goleiro, nao dava tempo para ele armar a defesa. Fiz muito gol também de rebote. Quando chutavam uma bola para o gol, corria logo, sempre na esperança de que o goleiro soltaria a bola' conta.

   O primeiro gol no time profissional, em que estreou em 1971, também guarda lugar certo na memória _ e no livro. Em 1973, ainda sem ser titular, Zico amargou uma espera de 23 jogos até deixar sua marca. ``Custei a fazer o primeiro como profissional. Perdi muitos, a bola nao entrava.' Até que num Flamengo e Vasco pelo Campeonato Brasileiro, Zico desencantou _ outra vez de pênalti. ``Na hora ninguém queria cobrar. O Fred (zagueiro irmao do Paulo César), que me conhecia do juvenil, pegou a bola e me mandou bater. Fiz o gol', lembra Zico, que se despediu do Flamengo e do Maracana em 1990, no empate em 2 a 2 contra uma seleçao do Resto do Mundo.

Gol do Galo vai pro caderninho - Idolo tem anotados os 831 gols que marcou e os títulos que conquistou

  Está tudo no caderno. A história de Zico no Maracana e na carreira é contada em detalhes, bem do início, ainda na escolinha, quando o Flamengo empatou em 0 a 0 com o América, em 1970. ``Nao chegou a ser bem um jogo. Foi mais uma exibiçao, de 20 minutos, antes da partida principal', lembra Zico.

   As páginas se sucedem cheias de lembranças. Zico anota no canto os gols que marcou de pênalti, os de falta, se foi em amistoso ou competiçao oficial. ``Perdi um penalty', registra Zico, assim mesmo, em inglês. Gol, na caneta de Zico, vira goal também.

   Estao lá dezenas de títulos, às vezes em que foi artilheiro do Rio (cinco) e do Brasil (quatro), do Campeonato Brasileiro (duas) e da Libertadores (em 81). Tudo contado com o orgulho que a frieza do papel nao denuncia. O caderno traz ainda uma honrosa lembrança: em 81, Zico foi considerado o melhor jogador do mundo em enquete realizada pelas revistas Guerin Sportivo, Don Balon, Placar e El Mundo.

   Mais anotaçoes: ``Fui expulso' (três vezes). Gols olímpicos foram dois, sobre a Portuguesa, na Ilha do Governador, e no Rio Negro, em Manaus. Gol de calcanhar também tem, outro de letra. O dia da morte de Geraldo é sublinhado, num momento de dor, já que o apoiador era um grande parceiro. ``Ele nao gostava de fazer gols. Preferia dar o passe para eu marcar', conta Zico.




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