A começar pelo suporte - a fotografia -, as exposiçoes apresentam um momento em que as artes visuais começam a questionar a representaçao, norma vigente na produçao plástica até entao. A idéia da reproduçao, da criaçao em série - que se tornou uma prática com o advento da fotografia -, colocou em cheque as noçoes de obra única e de autoria. Essa encruzilhada ajudou a deflagrar movimentos como o dada, cujo desdobramento em Berlim foi inaugurado por Raoul Hausmann (1885-1971).
Além da individual, o artista plástico alemao está representado na coletiva e também na interpretaçao de Lucio Agra de "Ursonate - Sonata Primordial", composiçao criada por Kurt Schwitters (1887-1948) a partir de uma colagem tipográfica de Hausmann (poema feito de fragmentos de palavras tiradas de jornais). A peça terá um trecho mostrado esta terça-feira no Paço e será executada na íntegra de quarta-feira a sexta-feira, no Instituto Goethe.
Hausmann é tido como o criador da fotomontagem. "Que é uma continuidade moderna da colagem", acrescenta o intérprete da performance, que estuda a vanguarda russa e a alema desde a década de 80. "A fotografia tornou-se um suporte importante entre as manifestaçoes dadaístas porque representa a entao nova semântica moderna, que também inaugurava um modo coletivo de trabalho e um intercâmbio entre as áreas", acredita Agra. "E a conexao entre a áreas de atuaçao assim como a coletividade sao questoes do período que permanecem fundamentais na arte contemporânea".
Nao é à toa que, ao lado de Hausmann, a exposiçao traz uma coletiva dividida em temas. Contemporâneos, Urbanismo, Publicidade e As Coisas agregam trabalhos de Erst Fuhrmann, Karl Blossfeldt, Umbo e outros contemporâneos de Hausmann. "Essa reuniao é interessante porque o grande público brasileiro conhece o dadaísmo francês, mas sabe pouco sobre o alemao", acrescenta Daniela Bousso, diretora do Paço das Artes, que também abrigará, no dia 1.º, uma palestra do artista plástico e professor alemao Tim Ulrichs, sobre Hausmann e o movimento a que pertenceu.
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