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‘Por que eles fizeram isso com Celso?’, quer saber José Dirceu
Maurício Klai
Do Diário do Grande ABC
10/02/2002 | 19:47
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O presidente nacional do PT, deputado federal José Dirceu, afirmou que o pré-candidato do partido à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, deverá retomar sua agenda política – inclusive com viagens aos Estados Unidos e Europa – a partir do dia 15. Segundo Dirceu, caminham muito bem as negociações com o PL em torno do vice de Lula, sendo o nome mais cotado o do senador mineiro José Alencar.

O deputado recebeu a reportagem do Diário para uma entrevista exclusiva em seu apartamento na última semana. Abaixo, revelou detalhes de investigações conduzidas pelo próprio PT – dentro e fora do partido – na tentativa de encontrar o porquê do assassinato “bárbaro e brutal de Celso Daniel”, prefeito de Santo André. Apesar de ainda sem resposta, Dirceu declarou-se esperançoso de, em breve, ver presos pela polícia os assassinos “de um dos maiores nomes do Partido dos Trabalhadores.”

DIÁRIO – O sr. está satisfeito com as investigações do assassinato de Celso Daniel?
JOSÉ DIRCEU – Estou e não estou. Não estou porque durante as investigações houve muita utilização política contra o PT. O vazamento da informação de que o irmão do Celso remetera US$ 90 mil para o exterior, a insinuação de que esse dinheiro era ilegal e podia ter sido fruto de corrupção da Prefeitura... Em 2001, isso já estava esclarecido e havia surgido pela primeira vez na campanha de 2000. Considero uma infâmia as suspeições sobre a Prefeitura, ou seja, começaram a investigar o governo, a família do Celso, o Sérgio Gomes da Silva e o PT e deram publicidade a isso. Mas agora, acredito que as investigações estejam prestes a uma solução porque as prisões estão acontecendo, as provas aumentando.

DIÁRIO – Se isso se concretizar, cai-se numa situação dúbia. Porque seqüestraram o Celso, mas em nenhum momento tentaram contato e, mesmo assim, o executaram de maneira muito brutal.
DIRCEU – Nós vamos ter de investigar isso. Precisamos tomar cuidado para não aparecer laranjas, falsos asssassinos, porque no Brasil temos precedentes disso, não vai ser a primeira vez. Espero que se descubra quem matou daquela forma brutal e covarde Celso Daniel, mas é preciso descobrir as motivações porque tudo aconteceu daquela forma, com desenlace tão trágico que não é comum no caso de seqüestro. No caso de Campinas, havia situações de enfrentamento direto com o crime organizado, com o narcotráfico, com a corrupção. Em Santo André, não havia nada ocorrendo que levasse ao enfrentamento.

DIÁRIO – A polícia também trabalha com a possibilidade de crime administrativo. Como o sr. analisa essa ótica?
DIRCEU – Acho que há muita notícia para atingir o PT. Agora estão procurando nos atingir por causa do seqüestro do Washington Olivetto, porque foi um grupo criminoso do Chile que se auto-intitula político, a chamada Frente Patriótica Manoel Rodrigues. Então já querem fazer ligação com o seqüestro do Abílio Diniz, já querem dizer que o PT defendeu que o seqüestro era político, isso não foi verdade. Nós fomos vítimas daquele seqüestro, porque colocaram camiseta em um dos seqüestradores, colocaram material da campanha, difundiram pelo país que o PT tinha participação e essa foi uma das razões pelas quais o Lula perdeu as eleições, talvez uma das mais importantes. Nós repudiamos essa campanha que está sendo feita, porque somos vítimas de seqüestro hoje e não podemos virar réus.

DIÁRIO – A aceitação de Celso como coordenador foi unânime na direção do partido?
DIRCEU – Foi uma coisa inédita. Pela primeira vez, um posto tão importante no PT – coordenador de programa de governo do Lula –, e o Celso, com o conhecimento, a experiência, o prestígio e as relações que ele tinha na sociedade, evidentemente seria uma das pessoas mais importantes na campanha e se vitoriosa, do governo, repito, por unanimidade. No PT é difícil isso no diretório nacional. Todos sabem que o partido tem muitas visões, muitas lideranças, muitas correntes, como partido democrático. No PT votam todos os membros do diretório, 85, e votam os filiados para tomar as decisões. O processo de consulta do Celso foi acatado por unanimidade e para nós foi uma grande perda.

DIÁRIO – O sr. considera o PT de Santo André uma usina de sucessos?
DIRCEU – De sucessos, de políticas públicas, de proposta administrativa, inclusive de planejamento urbano, regional, no caso do Grande ABC, no caso da Câmara, e também de visão de política de desenvolvimento regional, de criação de emprego e renda, não só as políticas públicas que são marca do PT. O Celso tinha a capacidade de inovar, não era um homem conservador, tradicional, mesmo sendo de esquerda. Os prêmios que Santo André e ele ganharam no mundo todo são prova disso. Não é o PT que fala, o povo falou ao elegê-lo com grande votação.

DIÁRIO – Substituí-lo então será...
DIRCEU – Muito difícil. Nós temos nomes, Tarso Genro, Antonio Palocci, Jorge Bittar, Luis Soares Dulce, Patrus Ananias. Pelo menos esses cinco nomes nós estamos avaliando para o partido escolher. Alguns são candidatos a cargos majoritários, dois são prefeitos, outros ao Senado ou ao governo. Vamos encontrar, não agora a curto prazo, mas depois das prévias de 17 de março. Mas em 22 de fevereiro já haverá uma reunião da comissão que irá continuar o trabalho planejado, rever os grupos setoriais e regionais, planejar seminários, reuniões com entidades, com aliados.

DIÁRIO – Ele já havia rascunhado muito material?
DIRCEU – Nós já pedimos para o Gilberto Carvalho, para a Ivone, para termos acesso a todo o material para copiar, deixar evidentemente com a família. O Celso já tinha avançado, o texto final já tinha sido redigido, as diretrizes do governo, o planejamento. Ele já tinha tomado decisões sobre encaminhamentos práticos. Acredito que tenhamos de criar uma fundação em Santo André da memória do Celso, para homenageá-lo e depositar todos esses documentos que nós vamos tirar cópia e continuar o trabalho.

DIÁRIO – Como o sr. acha que esse momento de insegurança irá refletir na cabeça do eleitor? O sr. tem alguma pesquisa sobre isso?
DIRCEU – Não fizemos pesquisa. Mas as informações que temos mostram que o governo é visto pela sociedade, pela maioria, como não atuante na área de segurança pública. Os programas, os projetos não saíram da gaveta, o governo federal se ausentou. E há muita crítica à atuação dos governos estaduais. O PT não fez uma pesquisa para analisar o efeito eleitoral disso porque nós não estávamos preocupados. Mas não acredito que esse fato terá um efeito favorável ou desfavorável ao PT ou ao governo. No próximo dia 26, vamos lançar nosso programa de segurança.

DIÁRIO – E as negociações para o vice do Lula em meio a esse crime bárbaro?
DIRCEU – Passamos dias entre a indignação e a revolta. Já tínhamos vivido isso com o Toninho do PT (Antonio da Costa Santos), prefeito de Campinas. Mas a vida continua e se o Celso estivesse conosco e isso tivesse acontecido com outro de nós, ele já estaria pensando no programa de governo, no aluguel da casa e no governo em Santo André. A partir do dia 15, vamos começar a fazer atividades com o Lula. Ele fará uma viagem com o senador José Alencar, visitará as fábricas – o José é proprietário do grupo Coteminas –, um dos maiores grupos brasileiros da área têxtil e de confecção, que exporta para o mundo todo. O presidente do PL (deputado Valdemar da Costa Neto) também irá. Vamos conversar, nos conhecer melhor, conversar com o PT e o PL nessas cidades e Estados – Minas, Paraíba e Rio Grande do Norte. Depois, Lula participará das comemorações do 22º ano da fundação do PT, com homenagem ao Apolônio de Carvalho que faz 90 anos no Rio. Em todo o Brasil, Celso será homenageado. Teremos inclusive um vídeo e um livro do programa de governo em homenagem a ele. Terá início uma agenda política e o Lula viajará para os Estados Unidos e Europa entre abril e maio. Dia 17, enfrentará as prévias.




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