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Júnior Costa voa alto na Sampdoria
Nelson Cilo
do Diário do Grande ABC
05/06/2011 | 07:11
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Apesar do rebaixamento da Sampdoria, a estrela individual de Júnior Costa - ou Da Costa, segundo a imprensa italiana - sobe como nunca no país. É como se o ex-goleiro do Santo André interpretasse o papel daqueles mocinhos que saltam diferentes degraus nos imprevisíveis filmes do futebol. Aqui, nosso personagem abre-se de corpo e alma sobre as incertezas de quem aprendeu a superar desafios e preconceitos contra os novatos da corte. O afastamento como titular às vésperas da finalíssima da Copa do Brasil o alertaria para o fim do ciclo no Bruno Daniel.

Coube a Júlio César erguer o troféu no Maracanã. Houve outros vencedores que derrubaram o poderoso Flamengo. Só que um dos heróis da campanha viu tudo apenas como coadjuvante na derradeira batalha nacional. Alguns títulos o valorizariam nas arquibancadas, mas nem tanto nos bastidores do clube. Sorte dele. Que, ousado, decidiu seguir a trilha reservada aos mais fortes. Os pais Dora e Angelo Costa, além de Sandra (irmã), Laura e Pedro (sobrinhos), agradecem aos céus e às injustiças que o incentivariam a não desistir da luta. Confiram os principais trechos da entrevista exclusiva no apartamento da família, em Rudge Ramos, São Bernardo.

 

DIÁRIO -Do Santo André à vitrine do futebol mundial...

JÚNIOR COSTA - É como se a minha ficha não caísse. É provável que um dia eu caia na real, sei lá. De repente, estou nos mais importantes campeonatos do planeta. O Italiano, a Champions League, a Liga da Europa, a Copa da Itália, tudo.

 

DIÁRIO - Na frente dos principais astros do meio...

JÚNIOR -  Na frente das maiores estrelas, principalmente aquelas da Seleção Brasileira. Aí não tem como a gente não voltar ao passado de tantas incertezas nos meus tempos de Santo André. É lá que construí meu sonho. Ainda não consegui acordar.

 

DIÁRIO - como é que aconteceu a mudança?

JÚNIOR - Meu agente (Oscar Damiani) sugeriu que eu ficasse três meses no Varese para treinar. Ele justificou que seria preciso assimilar o idioma e conhecer o futebol do país. Aí, sim, ele iria me colocar em clubes maiores. Logo, assinei no Ancona.

 

DIÁRIO - Como foram as primeiras experiências?

JÚNIOR - De 2008 a 2010, permaneci no Ancona. Passei a pegar o jeito. Aprendi a língua. Escrevo fluentemente. Fui tão bem que a imprensa começou a me chamar de o Júlio César (Inter e Seleção Brasileira) da Série B. Aí ganhei muita confiança.

 

DIÁRIO - Não demorou para que a Sampdoria o levasse?

JÚNIOR - Me buscaram para disputar a temporada 2011. Tenho mais três anos de contrato. Apesar do rebaixamento, sou muito respeitado. Me valorizam. Eu e o Curcci nos revezamos, mas, como aconteceu na Copa da Itália, terminei como titular.

 

DIÁRIO - Você não sentiu o peso da responsabilidade?

JÚNIOR- Ao sair do Santo André para buscar novos ares, é provável que os desafios me deixassem inseguro ou me balançassem. Só que pude crescer interiormente. Recriei as forças que me ajudaram superar as dificuldades. Jamais desanimei.

 

DIÁRIO - É como se você fosse mais você na Itália?

JÚNIOR - Como é que eu diria? Aquilo tudo não me assustava. Ao contrário: aos poucos, me adaptei. Me sentia muito seguro. Sou de me transformar debaixo das traves. Aí assumo outra personalidade. O cara comportadinho desaparece de mim.

 

DIÁRIO - É como se o bicho te incorporasse. Seria isso?

JÚNIOR - É como se eu entrasse em transe. O goleiro é aquele cara que precisa explorar o lado maluco sem perder a inteligência. Afinal,ele analisa tudo em condições melhores. É necessário gritar, xingar e orientar, mas manter sempre o equilíbrio.

 

DIÁRIO - Ninguém invade?

JÚNIOR - Lá (na pequena área) aquele espaço é meu. Sou dono daquele território. Batalho demais durante a semana para defender a honra e a camisa do meu time. Não posso fraquejar nem vacilar. É do jeito que eu quero.

 

DIÁRIO - Já era assim naquela época do Santo André?

JÚNIOR - Me aprimorei no futebol italiano. Lá, eles te cobram pesado nos treinamentos. Exigem a mais absoluta concentração mental. Pedem que você esteja completamente focado. Caso contrário, te chamam para uma conversa. É na base do mais puro profissionalismo.

 

DIÁRIO - Aí você procurou envolver-se rapidamente?

JÚNIOR - É claro que sim. Aprendi que a gente deve usar a cabeça e não apenas o corpo. É como se eu descobrisse a nova paisagem de minha vida. Então, recuo aos meus primeiros passos e comparo as transformações do meu filme pessoal. Estou bastante feliz na carreira.

 

DIÁRIO - As lembranças da escolinha do Santo André...

JÚNIOR - Desde a Copa São Paulo (de Juniores, 2003). Dos amigos que tomaram diferentes rumos: Alex Bruno, Richarlyson, Nunes, Denni, Gabriel, Rodrigo Sá, o Tássio que agora defende o Palestra. Você não prevê o que virá. A gente deve usar a cabeça para que um dia...

 

DIÁRIO - No ano seguinte, veio a Copa do Brasil...

JÚNIOR - Faltavam três rodadas no momento em que o Júlio César me substituiu. Era como se aquele impacto emocional me tirasse a segurança. Posso ou não posso? Ai pensei: aqui acabou. Mas a culpa não era de ninguém. Era só minha mesmo.

 

DIÁRIO - Contam que a diretoria o teria dispensado...

JÚNIOR - Não, nunca. O Ronan (Maria Pinto, presidente) e o Romualdo (Magro Júnior, vice) até se propuseram a esticar meu contrato. Não concordei. Meu empresário italiano pagou uma certa quantia. Eles me liberaram e fui embora. E lá na Itália criei novas paisagens.

 

DIÁRIO - De repente, você lá no templo do San Siro...

JÚNIOR - É isso. No San Siro, no Olímpico de Roma e nos demais cenários que passaram a compor a minha vida profissional diante de Ronaldinho Gaúcho, Robinho, Alexandre Pato, Thiago Silva... Guardo as camisas de todos eles (orgulha-se ao buscá-las no quarto, mostrá-las e depois estendê-las no sofá do apartamento em que mora). Isso não tem preço, não é?

 

DIÁRIO - Quem é o mais chato e simpático da turma?

JÚNIOR - Alexandre Pato é o mais receptivo. Só que os quatro são muito legais. O Lúcio é o mais fechado. É o jeito dele. Ah, um detalhe curioso: quando encontro Hernanes (da Lazio), meu ex-companheiro no Santo André, a gente fala daqueles tempos. Engraçado: ele era reserva, mas retornou ao São Paulo como titular e até chegou à Seleção Brasileira.

 

DIÁRIO - Como é a tua rotina pessoal lá em Genova?

JÚNIOR - É de casa para os treinamentos. Vivo sozinho. Não tenho namorada. Existem 600 mil habitantes na cidade, muito trânsito e o porto mais importante de lá. O aquário é um dos mais famosos do mundo inteiro. Sempre que posso, vou conhecer outros países europeus.

 

DIÁRIO - Te idolatram?

JÚNIOR - O assédio é enorme nos shoppings. Todos te cercam, pedem autógrafos, querem tirar fotos. Às vezes, não dá nem para sentar nos restaurantes. É uma loucura. Já me acostumei. Genova me agrada. Mas no futuro não viveria lá. Meu lugar é aqui.

 




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