Dois escândalos revelados pelo Diário nos últimos dias denunciam a falta de fiscalização sobre o setor imobiliário no Grande ABC. Reportagens elaboradas pela equipe do jornal mostram que as construtoras agem de modo completamente discricionário, sem dar nenhuma satisfação ao poder público ou à população. Eis tema de extrema importância que vem sendo negligenciado pela sociedade civil organizada. Para as grandes corporações do segmento, que lucram rios de dinheiro com seus negócios nem sempre 100% lícitos, a região se transformou no melhor dos mundos.

Em Diadema, por exemplo, a Tecnisa recebeu licença da Prefeitura para erguer conjunto habitacional no bairro Piraporinha, desde que, em contrapartida para compensar o impacto urbanístico da obra, construísse travessa ligando as avenidas Fábio Eduardo Ramos Esquível e Ulysses Guimarães. Embora oficializada em lei de 2012, a implantação da via foi solenemente ignorada, enquanto os apartamentos começam a ser entregues aos proprietários.

São Bernardo também tem episódio nebuloso no setor imobiliário para chamar de seu. Companhia ligada ao conglomerado dirigido por Milton Bigucci feriu as regras de edital ao adquirir terreno público, da Prefeitura, no Parque Anchieta. A Big Top 2 arrematou a área em leilão e terceirizou – para as concorrentes! – o pagamento de parcelas. É evidente que as normas do certame vedavam o expediente esdrúxulo, mas o construtor entendeu que se tratava de “uma bobagem”.

E, até hoje, sete anos após a assinatura do contrato, autoridades parecem concordar com Bigucci. A recente publicação das duas reportagens pelo Diário é tentativa de devolver os processos à legalidade. No caso de Diadema, a Câmara cumpre o seu papel de fiscalizar os atos do Executivo e cria CPI destinada a investigar por que a Tecnisa se “esqueceu” de construir a rua. Em São Bernardo, todavia, a inércia ainda impera. Para a felicidade de alguns.