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As massas de modelar e os quebra-cabeças…

Ontem à noite, observando minha filha brincar no chão...

Carlos Ferrari
13/04/2015 | 07:00
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Ontem à noite, observando minha filha brincar no chão em meio a um monte de pequenos pedaços/peças de papelão, pus-me a pensar sobre a satisfação quase inconsciente que temos diante da possibilidade de desconstruir para, logo em seguida, exercitarmos uma deliciosa capacidade de encontrar o caminho antes já feito. Prova disso são as palavras cruzadas, as apaixonantes maquetes de carros e aviões e até mesmo os milenares tangrans chineses.

Minha princesinha, ainda com pouco mais de 4 anos, não estava nada preocupada em encontrar a lógica que daria forma àquelas pequenas partes. O objetivo dela era simplesmente brincar, ou seja, juntar as peças formando o aleatório, criando e, por vezes, até dando um sentido que, para ela, era bastante claro às suas próprias construções. À propósito, na mesma perspectiva, minha menina adora passar o tempo se divertindo com as coloridas e flexíveis massas de modelar.

Acredito que isso reflete outra paixão humana, que também segue para a vida toda, ou seja, criar a partir do improvável, do zero, quase do nada. Vejam só o sucesso do Lego e do Minecraft na internet.

Constatamos então, um pouco por observação, mas principalmente por experiência própria, que à medida que crescemos vamos enxergando e buscando dar sentido às partes dos jogos de montar e, claro, refinando nossa criatividade diante das possibilidades desafiadoras e infinitas proporcionadas pelas velhas massinhas, que assim como os quebra-cabeças, sobreviveram a tantas gerações.

Passam os anos e nos tornamos adultos. Logo o cotidiano, repleto de tarefas, agendas e imprevistos, despeja em nossas vidas milhares de pedaços de fatos e fotos. Agora pensem: podemos decidir diante de tudo isso por buscar incessantemente pela resposta (verdade) que dará sentido a todas as partes ou, por outro lado, encararmos tais fragmentos como simples peças aleatórias de um passado e do presente que, quem sabe, nos darão a condição de projetar um futuro.

Pessoalmente, gosto demais de massas e quebra-cabeças. Logo, acredito ser um privilégio pensar que podemos ao longo da vida, em alguns momentos, optar por encaixar as partes ou, em outros, concluir que caberá a nós darmos sentido a elas.

Gosto muito do trecho da música dos Titãs que nos alerta: “As ideias estão no chão, você tropeça e acha a solução.” Para quem não se lembra ou não conhece, o título dessa canção é A melhor forma.

Pois então, qual será a melhor forma que temos dado para os tantos pedaços de vida com os quais nos deparamos ou até ‘tropeçamos’ pelo caminho?

Carlos Ferrari é presidente da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), faz parte da diretoria executiva da ONCB (Organização Nacional de Cegos do Brasil) e é atual integrante do CNS (Conselho Nacional de Saúde). 




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