O próprio Pires interpreta Dalva, um travesti em crise existencial que descobre ter problemas de saúde e entra num teatro para aliviar a mente dos pesos que carrega. “O texto é inspirado no romance de Chopin com (a escritora) George Sand, que se travestia de homem para conquistar respeito social”, conta o ator e autor.
O ponto de partida, portanto, é o preconceito. Mas o monólogo aborda também questões inerentes ao contexto dos marginalizados pela sociedade, como os menores de rua. Dalva convive, por exemplo, com um policial. “Ao mesmo tempo que a oprime, ele também é oprimido pela situação”, diz Pires.
A interpretação é baseada num diálogo intenso com a platéia, como se Dalva estivesse conversando diretamente com os espectadores. A idéia é criar intimidade com o público. Para isso, a iluminação tem papel importante. “A luz está mais caseira, deixa Dalva mais exposta”, afirma Pires.
A trilha sonora se contrapõe ao ar decadente que acompanha Dalva. “Trata-se de uma tentativa de resgate da essência dela, que não nasceu marginal, correndo da polícia. A música é o requinte empoeirado pelo meio social em que ela está”, diz Pires.
A Cia. no Pires, que produziu Esta Noite Ouvirei Chopin, já prepara seu terceiro projeto, ainda sem título definido. O próprio Pires está escrevendo. “A peça propõe a junção de três universos: de rua, íntimo e teatral”, adianta o ator e autor.
Uma característica comum une os personagens da dramaturgia de Pires: “Eles têm sempre sua essência prejudicada pela vida”, explica.
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