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Eça: centenário agita mercado
Joao Marcos Coelho
Especial para o Diário
19/08/2000 | 16:26
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Com 'z' ou com 's', dependendo do gosto mais conservador ou mais moderno do leitor, a boa notícia é que as comemoraçoes em torno do centenário de morte do escritor português Eça de Queirós ameaçam trazê-lo de volta à circulaçao.

Os eventos vao de ótimos projetos editoriais até exposiçoes, com direito inclusive a uma minissérie na Globo. Vamos aos fatos.

A Editora Nova Aguilar, que três anos atrás já lançara em dois volumes em papel bíblia a sua ficçao completa, agora complementa seu ambicioso projeto editorial com os dois volumes restantes: o terceiro, 2,1 mil páginas de textos jornalísticos (Obras Completas de Eça - vol. 3, R$ 190) e o quarto, 980 páginas, com sua correspondência (Obras Completas de Eça - vol. 4, R$ 110).

A Editora Hedra acaba de lançar uma elegante caixinha (R$ 38) com dois dos mais conhecidos romances do escritor, A Cidade e as Serras (232 págs.) e A Ilustre Casa de Ramires (332 págs.).

 E a Record também está lançando um livrinho de leitura agradável e divertida, Quando Tínhamos Verbos (182 págs., R$ 15) com uma seleçao de suas melhores frases por Marcello Rollemberg.

Uma grande exposiçao intitulada Eça e a Escrita do Mundo, montada a partir de documentaçao da Biblioteca Nacional de Lisboa, foi inaugurada na capital portuguesa em 6 de junho passado e já tem data marcada para chegar a Sao Paulo: 6 de novembro próximo, no Memorial da América Latina.

E um de seus principais romances, Os Maias, já está sendo adaptado para a televisao por Maria Adelaide Amaral, transformando-se numa minissérie que deve estrear em 9 de janeiro de 2001.

Ligado ao Brasil - Desde as décadas finais do século passado, o nome de Eça de Queirós nao foi sinônimo apenas de um dos maiores escritores da língua portuguesa, pena afiadíssima, dono de muita ironia e humor. Eça escreveu de 1880 a 1896 no jornal carioca Gazeta de Notícias e, portanto, era bastante conhecido dos leitores. Comentando os acontecimentos que cercavam a proclamaçao da República em 1889, ele consegue ser hilário e ao mesmo tempo agudo em sua bem-humorada análise.

Por isso, um dos maiores méritos da ediçao dos textos jornalísticos de Eça é classificá-los cronologicamente e por publicaçao. Pode-se curtir toda a sua verve em textos mais descompromissados - e mais contundentes ainda do que sua ficçao, por si só bastante polêmica (O Crime do Padre Amaro, por exemplo, provocou terremotos quando de sua publicaçao, em 1875, marcando o início do realismo em Portugal).

O Primo Basílio, de 1878, entre seus personagens famosos, exibe um que fez escola, o Conselheiro Acácio, rei do óbvio. Em A Relíquia (1887) e Os Maias (1888) ele afia ainda mais, como se isso fosse possível, sua escrita.

Por falar nisso, pelo cuidado com as capas de Camila Mesquita e o projeto gráfico de Fabiana Pinheiro, a ediçao da Hedra para os dois romances de seu final de carreira aumenta ainda mais o prazer de ler textos tao saborosos. Sao eles: A Ilustre Casa de Ramires, de 1900, no qual Eça curiosamente volta a cultuar a aristocracia rural, e A Cidade e as Serras, no qual contrapoe as virtudes do campo aos vícios das cidades.

Vale a pena ler ou mesmo reler Eça, e sorver um pouco de sua extrema habilidade no manejo da língua, pontuada pela ironia fina e cortante que aperfeiçoou em décadas de exercício cotidiano do jornalismo. E constatar sua atualidade, sobretudo quando fala de Brasil.




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