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José Saramago solta o verbo em livraria paulistana
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
15/10/2003 | 20:57
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A língua afiada de José Saramago no Brasil. O escritor português, Prêmio Nobel de Literatura de 1998, esteve terça à noite na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, onde deu uma palestra acompanhado pelo escritor e jornalista espanhol Juan Arias. Saramago coloca o ponto final em sua nova obra, Ensaio Sobre a Lucidez, até fevereiro de 2004.

As cerca de 500 pessoas que acompanharam a palestra fizeram o espaço que a livraria dedicou ao evento ficar minúsculo. A maioria das pessoas não pôde entrar – contentou-se em ver e ouvir o escritor por meio de um telão instalado no lado de fora da livraria –, e a maior parte de quem conseguiu teve de se ajeitar no chão. A fila para entrar na livraria começou a se formar três horas antes da hora marcada.

O escritor falou principalmente sobre literatura e política. De acordo com Saramago, “a literatura não é uma espécie de farmacopéia” para a solução dos problemas globais: “Ela não nasceu para isso”. “A literatura não muda o mundo, é o mundo que muda a literatura. O escritor pode refletir sobre isso (as grandes questões mundiais), mas não como se fosse um manual.”

Saramago criticou o segmento que o mercado editorial identifica como auto-ajuda: “Tenho vontade de mandar à m... o sujeito bem instalado que diz como o outro deve viver. Quem está se auto-ajudando é o autor de tais livros”. “Não estou a ajudar o leitor que diz que (o livro publicado em 1995) Ensaio Sobre a Cegueira mudou sua vida. Quero que ele encontre no livro um retrato do mundo e do ser humano horrível, responsável por mortandades em nome de Deus”, afirmou.

À palestra seguiram-se perguntas do público. Questionado sobre qual dos dois países se aproxima mais da democracia, Estados Unidos ou Cuba, respondeu: “Essa pergunta não tem sentido. Não há democracia nem num lado nem no outro”. Para ele, há incompatibilidade entre democracia e capitalismo. “O truque está em fazer de conta que não há”, disse.

Segundo ele, a igualdade absoluta não existirá. E a democracia econômica – ainda há a política e a cultural – consiste em fazer com que cada um possa ter uma vida digna e chegar, com a influência da educação e da cultura, ao máximo de sua capacidade.




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