Setecidades Titulo Lá no meu Bairro
Professora de dança cigana vive no Jardim Cambuí

Monica Xavier Cruz, 30 anos, largou a carreira de jornalista para se dedicar ao ensino da arte dos povos espanhóis, turcos e russos

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
10/03/2015 | 07:00
Compartilhar notícia
Marina Brandão/DGABC


No Jardim Cambuí, bairro de Santo André, há uma moradora com alma de cigana. Monica Xavier da Cruz, 30 anos, é professora da dança que representa as diferentes etnias desse povo.

O primeiro contato com o ritmo cigano aconteceu em 2001, quando Monica fazia curso técnico de Secretariado. “Uma professora comentou que dançava e eu e mais uma amiga demonstramos interesse. Ela nos deu algumas aulas sem cobrar nada por isso.”

 

Após concluir a faculdade de Jornalismo, ela começou a sentir falta do ritmo. “Lembrei de como me sentia bem dançando e decidi voltar. Comecei a me interessar tanto, que também iniciei pesquisas sobre o tema e treinei por anos até me tornar professora”, afirmou.

 

Atualmente Monica dá aulas em escolas de dança de Santo André, São Bernardo e São Caetano e se dedica totalmente ao ensino da dança, deixando para trás a carreira de jornalista. Segundo ela, o ritmo ajudou bastante na sua timidez, que era característica frequente nas aulas durante a faculdade. “Eu era aquela bem quieta que ficava só mudando o slide no projetor. Até falo que se tivesse começado a praticar antes, teria sido diferente, já que me comunico melhor dançando que com palavras”, afirmou.

 

A dança preferida de Surya, nome artístico de Monica, é a turca. Conforme ela explicou, dentro do universo dos povos ciganos, existe um tipo de dança específica para cada lugar. “Tem os ritmos dos povos espanhóis, que são os mais populares, como a rumba e o flamenco. Mas também dou aulas de ritmos da Índia, Turquia e Rússia. Apesar de todos eles fazerem parte da dança cigana, cada lugar tem as suas características, que são totalmente diferentes”, explicou.

 

O leque é utilizado na variação espanhola, com saia comprida e lenços. Outros tipos, como os egípcios ou até o flamenco, permitem calças. Já o indiano é o mais colorido e com grande quantidade de movimentos.

 

Foi por meio da prática que Monica também começou a pesquisar mais sobre os povos ciganos e entender as suas diferenças. Hoje ela tem contato com alguns ciganos, mas eles não vivem mais em acampamentos e conservam poucos costumes. “Eles são muito reservados e sofrem preconceito e perseguição, principalmente nos países europeus. O povo se preserva bastante, é desconfiado, então é difícil fazer contato. Digo que sou uma representante da cultura, mas sou muito diferente, então é algo que não me pertence, mas que estudo bastante porque gosto muito”, disse a professora.

 

FORTALECIMENTO

 

Monica garante que a dança cigana é recomendada para todas as idades e faixas etárias. Isso porque há grande movimentação, que ajuda na queima de calorias e no fortalecimento dos músculos. “A pessoa não vai perceber um emagrecimento instantâneo, mas vai ver que são inúmeros os benefícios com o passar de algum tempo. Até mesmo a questão da feminilidade da mulher fica mais forte, porque ela vai se arrumar mais, se maquiar, até mesmo para uma das aulas ou apresentações. Já as pessoas que são tímidas, mesmo só frequentando a atividade, sem nenhuma apresentação, também melhoram muito essa questão.”

 

Lavanderia é conhecida no bairro

 

Com a expansão imobiliária e a construção de prédios no Jardim Cambuí, uma família aproveitou a oportunidade de negócio para abrir a primeira lavanderia do bairro. Com média de 100 edredons lavados por mês, o local, que funciona há dois anos, já é um sucesso.

 

A empresária Vanessa de Melo da Cunha, 36 anos, já tinha um empreendimento em uma travessa da Rua Carijós e resolveu abrir mais um. “Como mais pessoas da nossa família moram aqui no bairro, vimos que seria uma boa abrir uma filial. O único problema é que o espaço é bem apertado e não dá para ampliar.”

 

Por causa da limitação, os clientes deixam as peças e elas são lavadas na matriz, que funciona há dez anos. Durante o dia, Vanessa se desloca entre os dois empreendimentos, enquanto a sobrinha fica na unidade do Jardim Cambuí. “Aqui é bem tranquilo, o pessoal deixa mais edredom e bichos de pelúcia. A maioria dos funcionários é da mesma família, o que facilita ainda mais o trabalho”, garantiu a sobrinha de Vanessa, Sara Karoline Nogueira Santos, 16 anos.

 

Apesar da fama de que os brasileiros usam pouco o serviço de lavanderias, Vanessa garante que o negócio está em expansão. Isso por causa da demanda e dos espaços pequenos das casas. “Hoje é cada vez mais difícil ter um quintal bom para secar roupa e até mesmo tempo para fazer isso. Então, por comodidade, as pessoas acabam terceirizando esse trabalho, o que, para nós, é algo ótimo.”

 

Com o sucesso do local, que cobra a partir de R$ 15 por lavagem de edredons, Vanessa pretende abrir mais uma filial, porém, ainda não decidiu o local. “Foi realmente uma bênção entrar de cabeça nesse ramo.”

 

Sapateiro aprendeu ofício com irmão

 

O ofício de sapateiro é um dos mais antigos, mas tem quem esteja na profissão há pouco tempo. Esse é o caso de Isaías Vanzeli, 53 anos, que exerce o trabalho desde 2003.

 

Apesar de fazer parte de família de sapateiros (três irmãos e o cunhado), Vanzeli preferiu ir trabalhar em um frigorífico, sendo o único a seguir o caminho diferente. “Fiquei dez anos trabalhando lá, mas fui mandado embora. Aí não vi outra opção a não ser aprender o ofício, já que estava bem difícil de conseguir um emprego.”

 

O caminho para o aprendizado não foi fácil. Ele ficou um ano na sapataria, que antes era administrada pelo irmão de 49 anos, para aprender a consertar os calçados. “Com o tempo, ele precisou ir para a sapataria de um outro irmão meu no Baeta Neves e deixou essa para que eu administrasse. Hoje moro aqui no bairro e toco o local sozinho”, explicou.

 

Questionado sobre a extinção da profissão, ele não se mostra otimista. “Antigamente as pessoas tinham o costume de comprar o sapato e, quando estragava, mandavam consertar. Hoje isso não acontece, quando rasga ou fura, já vão na loja e compram um par novo.”

 

Apesar disso, ele diz que mantém clientela fiel e diversificada, mas que a maioria ainda é composta por mulheres, que costumam ser bastante exigentes. As freguesas de Isaías também o presenteiam com sapatos que não usam mais, que ele vende em um pequeno espaço utilizado como bazar. “A maioria vem por causa de salto quebrado mesmo. Em geral uso várias ferramentas. Dependendo do estado do calçado, posso precisar do martelo, da máquina de remendo e da lixadeira, que é importante para dar acabamento no salto e lustrar”, afirmou.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;