A palavra vantagem foi praticamente deixada de lado por jogadores e comissão técnica do Santo André durante a semana que antecedeu o decisivo jogo de hoje, pela semifinal do Campeonato Paulista, contra o Grêmio Prudente - às 18h30 (com SporTV e Rádio ABC 1.570 AM), no Estádio Bruno Daniel. O placar de 2 a 1 que obteve no primeiro jogo, domingo, em Presidente Prudente somado às vantagens que o Ramalhão já tinha de jogar por dois empates e decidir em casa deixaram o time numa condição de até perder por um gol de diferença hoje. Mas quem disse que isso é aceitável?

"Nossa equipe não pode entrar em campo pensando em vantagem, mas sim com a postura que tivemos durante todo o campeonato, que é marcar forte e sair em velocidade ao ataque", colocou o técnico Sérgio Soares. "Não podemos tirar o pé. Temos de jogar como sempre, partindo para cima, porque senão chamamos o Prudente para cima da gente", emendou o atacante Nunes.

Precisando do resultado de qualquer forma, é esperado que o Prudente inicie o jogo em cima do Santo André, buscando tirar a desvantagem em relação ao time do Grande ABC. Dessa forma, o Santo André encontraria espaço para jogar. Sérgio Soares, no entanto, preferiu ser comedido quanto a isso. "Não sabemos o que o Toninho (Cecílio, técnico do Prudente) pensa e vai fazer. Estamos supondo em cima de uma adversidade do adversário", ponderou.

Para o atacante Bruno César, as qualidades do adversário são evidentes - tanto que ganhou nas seis últimas rodadas da primeira fase e chegou ao terceiro lugar, deixando Corinthians e Palmeiras de fora das semifinais -, mas o Santo André precisa saber como se comportar empurrado pelos 12 mil andreenses que estarão no Bruno Daniel.

"A gente sabe que tem um resultado bom nas mãos. mas o Prudente também tem uma equipe boa e mostrou isso, sobretudo após a chegada do Toninho Cecílio, que deixou o time mais ofensivo", explicou. "Precisamos saber administrar a vantagem que temos, é um jogo muito importante para todos, e apresentamos totais condições de ir às finais. Eles não têm nada a perder, virão dispostos a vencer de qualquer forma, mas trabalhamos bem e sabemos o que fazer."

O único desfalque confirmado no Santo André é o atacante Rodriguinho - vice-artilheiro do Paulistão, com 14 gols -, que está suspenso. Já o atacante Nunes segue como dúvida, mas promete ir até para o sacrifício, se necessário.

Sérgio Soares espera repetir história
A expectativa de público hoje no Estádio Bruno Daniel é superior a 12 mil torcedores. Pelo menos esse foi o número de ingressos adquiridos pelos andreenses nos dias que antecederam a decisão desta tarde, contra o Grêmio Prudente (cuja torcida tem 2.000 entradas à disposição). Todos no elenco, comissão técnica e diretoria esperam ver o local repleto e cercado de incentivo e apoio durante os 90 minutos, mas uma pessoa em especial aguarda por uma cena que ainda tem marcada na retina: o técnico Sérgio Soares.

Enquanto jogador, o atual comandante andreense viveu diversos bons momentos no Brunão, mas um deles é inesquecível: o acesso à elite do Campeonato Paulista de 2001, no memorável jogo contra o Ituano, presenciado por 15 mil espectadores, que vibraram com o gol solitário de Adãozinho (de pênalti), aos 48 minutos do segundo tempo. "Estava lotado aqui dentro e 5.000 pessoas ainda ficaram para fora naquele dia. E acredito que domingo (hoje) vá se repetir, o que me deixa muito feliz", comentou Sérgio Soares, que naquela oportunidade entrou na segunda etapa no lugar de Ramalho.

A torcida esgotou os ingressos (trocados por alimentos) em três dias, na antevéspera da partida contra o Prudente, o que tirou elogios do treinador. "Isso mostra a importância do jogo", destacou o técnico, que também respondeu sobre a diferença entre encarar a torcida dentro de campo ou na beira das quatro linhas. "A cobrança não tem tamanho. É a mesma dentro ou fora do campo. A responsabilidade também é a mesma, porque queremos chegar à final."

DUELO DE AMIGOS
Um detalhe curioso marca o jogo de hoje: os técnicos de Santo André (Sérgio Soares) e Prudente (Toninho Cecílio), já foram companheiros de clube. Apesar de ambos terem defendido o Palmeiras, o fato ocorreu em 1999, no extinto Etti Jundiaí. "Jogamos juntos, somos amigos até hoje e ainda nos falamos. Mas dentro de campo cada um defende sua camisa", comentou o treinador andreense, que na semana passada levou a melhor contra o amigo: 2 a 1.

Torcedores devem ir cedo ao estádio; portões abrem às 16h

Aos torcedores que vão ao Bruno Daniel assistir ao jogo entre Santo André e Grêmio Prudente, a administração do estádio deu algumas instruções para o maior conforto e para impedir tumultos minutos antes do início. "Pedimos para o público que venha mais cedo para o estádio, para se acomodar com mais tranquilidade", comentou Ronaldo Musial, o Alemão, que administra o Brunão.

Os portões do estádio serão abertos às 16h. "Após a lotação das cadeiras cobertas, o setor (que tem capacidade para 5.000 pessoas) será fechado e o restante da torcida será indicada à arquibancada (7.000)", emendou Alemão. Os portões 1, 5 e 6 serão destinados aos andreenses, enquanto o 7 será apenas aos prudentinos.

Por medida de segurança, apesar da capacidade do estádio ser de 15,5 mil, a Polícia Militar liberou 14 mil ingressos para comercialização. Destes, 12 mil foram destinados aos ramalhinos, que entre quarta e sexta-feira esgotaram tudo - na ação social pela troca de alimentos -, enquanto os 2.000 restantes serão de uso exclusivo dos visitantes.

Com a partida entre Santos e São Paulo marcada para as 16h, válida pela outra semifinal do Paulistão e que terá a transmissão da televisão aberta, o temor é que os torcedores deixem para ir ao Bruno Daniel apenas após o término do clássico disputado na Vila Belmiro, o que causaria tumulto. "Por isso eu insisto no apelo, venham mais cedo ao estádio", reforça Ronaldo Musial.

TRÂNSITO
As ruas Cristóvão Colombo e 24 de Maio, além da Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo no sentido bairro/Centro, estarão fechadas para o acesso de carros. "Tudo visando o conforto do torcedor que virá ao jogo", concluiu Alemão.

Toninho e Cesinha: os guardiões da zaga
Se o Grêmio Prudente precisa marcar dois ou mais gols no Santo André para se classificar à final do Campeonato Paulista, sem dúvida não terá tarefa fácil pela frente. Isso porque o Ramalhão aposta na dupla de zaga Cesinha e Toninho para impedir as investidas da equipe visitante.

O sistema defensivo andreense teve diversas variações durante a competição. Começou com Halisson e Marcel, na estreia diante da Ponte Preta. Na rodada seguinte, contou com a entrada de Cesinha, e depois veio Toninho, com os quatro formando todas as possíveis variações. E os dois que entraram por último se fixaram como os donos da posição, mantendo dessa forma até o fim, mesmo que por vezes ficando fora devido suspensão, mas que na partida seguinte já voltavam ao lugar.

Assim, consolidados e entrosados, prometem parar o Prudente. "O entrosamento já temos, até porque se no final do campeonato não tiver, complica. O negócio é não dar espaço aos atacantes deles e jogar sempre com seriedade, para proporcionar tranquilidade aos nossos atacantes", comentou Toninho.

Mesmo sem combinar antes, ambos os zagueiros foram bastante solidários com os demais companheiros ao dividirem os méritos da forte marcação exercida pelo Ramalhão. "Eu e o Cesinha juntos com o Alê, o Gil, o Júlio (César, goleiro) e os laterais, sempre buscamos marcar forte", disse Toninho. "Realmente, não apenas nós dois como a equipe toda. Se tivermos uma aplicação boa e não sofrer gols, a gente se classifica", emendou o companheiro Cesinha.

De fato, repartir os trunfos com os companheiros é mais do que merecido. Basta olhar as estatísticas do Campeonato Paulista e ver que a marcação andreense se destaca tanto coletiva quanto individualmente. O Santo André é o time que mais roubou bolas (574) - cinco a mais do que o Palmeiras - , tendo Gil como o segundo maior ladrão do torneio (84), seguido por Carlinhos (83), ambos atrás apenas de Pierre, do Verdão, com 112 roubadas.

"O que funciona na nossa equipe é que marcamos forte desde o ataque até a zaga, recuperando a bola e explorando os contra-ataques na velocidade dos nossos meias, laterais e atacantes", explicou Cesinha.

Por outro lado, o Ramalhão é o time que mais recebeu cartões amarelos: 66 no total - um a mais que o Bragantino. Dois são os jogadores que foram advertidos sete vezes, o meia Bruno César e o zagueiro Toninho. Com seis cartões aparecem a dupla implacável de volantes Alê e Gil.

A violência, porém, passa bem longe do Estádio Bruno Daniel, basta ver os treinos ou rachões da equipe, sempre cercados de brincadeiras (moderadas, claro) e risadas. "Com o clima bom no grupo e os resultados vindo, o ambiente fica bom, o que nos deixa comprometidos, mas sem pressão. E isso fez a diferença durante o campeonato", concluiu Bruno César.