Carlos Boschetti Titulo Análise
O mês de Carnaval dos brasileiros
Carlos Boschetti
12/02/2015 | 07:06
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Segundo a música de Jorge Ben Jor, “fevereiro tem Carnaval, tem Carnaval” e, neste ano, não é diferente. Mas temos prenúncio de um mês que promete muitas festas e conflitos entre as escolas de samba, os blocos e os artistas na passarela do samba em Brasília, onde os enredos, certamente surpreenderão a todos no País. A primeira escola a pisar na passarela foi a econômica, que veio com a comissão de frente com o tema ‘Pacote de Maldades’, convocando a todos a participar com sua bateria de arrecadação da Receita Federal, com aumentos de impostos aplicados, bem como ensaios. Anunciou-se para a festa de rei Momo uma série de tarifaços que elevam o preço da energia elétrica ao tom da bateria, isso sem falar em mais um aumento da gasolina. Grande contradição, pois o preço do barril de petróleo baixou a um patamar inferior a US$ 48 dólares, e o litro de gasolina nos postos nos Estados Unidos, por exemplo, despencou para abaixo de R$ 1 por litro.

A escola de samba do Ministério de Minas e Energia anuncia como tema central os apagões, que já deixaram as grandes cidades às escuras e mobilizaram as alas técnicas para encontrarem argumento que convença a população da falta de competência e planejamento. Apontam como novo vilão o uso de ar-condicionado no verão brasileiro. O maior risco é do sistema hidroelétrico, pois os reservatórios que abastecem as usinas estão abaixo de 10% da capacidade, e realmente teremos muitas interrupções de abastecimento de energia. Nosso digníssimo ministro é muito religioso, acredita que Deus é brasileiro e vai determinar a São Pedro aquela velha modinha de Carnaval que diz “tomara que chova três meses sem parar”.

As outras escolas que vão desfilar em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais apostaram no tema “falta d’água”. É um enredo mais que conhecido por todos há muito tempo. Vamos criar grande bloco em todos esses Estados e cantar a modinha “lata d''água na cabeça, lá vai Maria, lá vai Maria”. Enquanto isso, encontremos uma maneira de armazenar o precioso líquido para sobrevivermos a mais uma humilhação. Não restam dúvidas que o efeito do desfile na economia será dramático. Nosso micro PIB para esse ano, que estava estimado em crescimento medíocre de 0,3%, agora, com a previsão de racionamento de água e energia elétrica, que impactará diretamente as atividades econômicas, será um negativo em pelo menos 2%.

A afirmação de que o Brasil só começa a trabalhar depois do Carnaval não é mais verdade. Nossos políticos começaram a malhar desde o começo do ano. Nossos três mosqueteiros da equipe econômica foram para Davos participar do fórum econômico e tentar explicar o que está acontecendo com nossa economia. O resultado prático é que não conseguimos passar credibilidade aos investidores e teremos de conviver com escassez de investimentos de longo prazo. A grande mensagem que nossos representantes trouxeram foi que os países responsáveis pelas nossas crises nos últimos anos já recuperaram o vigor de suas respectivas economias, e projetam crescimentos significativos para os próximos anos. O banco central norte-americano já acena com a possibilidade de aumento da taxa de juros, hoje entre zero e 0,25% ao ano. Isso valoriza o câmbio e impacta diretamente nos preços de produtos importados, o que pressiona a inflação por aqui.

Mas, no mês do Carnaval, nada disso interessa. Cada um já escolheu sua fantasia e a escola em que vai desfilar. Vamos cantar todos juntos: “Ei, você aí, me dá dinheiro aí, me dá dinheiro aí”. Bem, a farra não vai parar por aí.  




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