A banda já havia dado certeza quanto a sua sobrevivência artística com o CD de estúdio Longo Caminho, o 15º da carreira, lançado em setembro de 2002. Mas o projeto Uns Dias certamente é a maior prova de que os Paralamas seguem em frente.

Herbert pode ter perdido a energia de palco de outros tempos, mas fez da deficiência física uma obrigação para se dedicar com entusiasmo redobrado à música. “A decorrência prática disso é que hoje tenho mais clareza do que estou tocando e, principalmente, de afinação de voz. Uma coisa é dar alguns gritos no meio de um pula-pula, e outra é você ter um ambiente sonoro equilibrado”, acredita Herbert, que hoje toca em uma cadeira de rodas.

“A gente sempre sabia que voltaria a tocar. Mas o fato dele (Herbert) estar ali, no palco, não deixa de ser especial”, diz o baixista Bi Ribeiro. A recuperação de Herbert foi o motor para que este novo projeto fosse lançado. “Estávamos cheio de pudores para gravar um novo trabalho ao vivo. A gente achava que ia ser meio ‘chover no molhado’, porque hoje em dia todo artista que sai em turnê acaba fazendo um registro”, afirma o baterista João Barone. “Mesmo tendo fé de que nos reuniríamos novamente, não paramos para pensar se seria diferente o fato de ele estar sentado, parado. Na hora em que subimos no palco é que sentimos. Mas o show continua centrado nele. Ele é a cara, a voz do Paralamas”, diz Bi.

Uns Dias, no entanto, não é uma homenagem a Herbert, e sim à história dos Paralamas. Os músicos que acompanham a banda, por exemplo, são lembrados com carinho nos extras do DVD, como o tecladista João Fera, há 18 anos com Herbert, Bi e Barone. “É o nosso melhor show em 22 anos de estrada. Conseguimos reunir todo repertório, inclusive as músicas do último disco, dentro do contexto do show”, conta Barone.

As participações especiais também são referências às raízes da banda. “Ninguém está ali por acaso”, diz Bi. Gente como Frejat, Edgar Scandurra, Dado Villa-Lobos, Nando Reis, George Israel, Paulo Miklos, Djavan, Andreas Kisser e Black Alien aparecem nos créditos. “É um presente para o público. Está toda uma geração nossa reunida aqui hoje”, diz Frejat, durante o show no Olympia, em São Paulo, em 14 de novembro último, que serviu de base para o CD e o DVD. “Parece os formandos de 1979”, brinca Miklos.

Os extras do DVD mostram também os bastidores desta reunião, com total descontração entre banda, músicos e convidados, que recordam, em entrevistas, seu primeiro contado com o Paralamas, revelando passagens curiosas. “Lembro deles pela primeira vez num show do Ira!, em 1982, no Circo Voador, no Rio, e logo depois fui assistir a um show dos caras em São Paulo”, conta Scandurra. Há, também, imagens dos Paralamas em Brasília, Rio e Buenos Aires, onde fizeram recentemente um show histórico no Luna Park, a maior casa de shows da capital argentina.

O contato da banda com o público, aliás, é o que faz Uns Dias funcionar. Não raramente há cenas de platéias inebriadas, celebrando o fato de ver o Paralamas ao vivo. O próprio Herbert diz no DVD: “O lance de ser ao vivo, de se identificar com a galera é sobrenatural”.