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Ação violenta marca despejo

Desocupação do assentamento Skaff, em São Bernardo, registra confronto entre equipe da Guarda Civil Municipal e moradores

Por Daniel Macário
Especial para o Diário
danielmacario@dgabc.com.br
03/02/2015 | 07:00
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Andréa Iseki/DGABC


Apesar das negociações realizadas na semana passada apontarem para ação pacífica, mais uma vez houve confronto entre a GCM (Guarda Civil Municipal) e a população durante a desocupação de 61 barracos no assentamento Skaff, no bairro Batistini, em São Bernardo, na manhã de ontem. Do total de moradias desfeitas, conforme a Prefeitura, 26 estavam efetivamente ocupadas e as demais, vazias.

A operação deixou moradores machucados, efetuou prisões e não contou com o apoio de caminhão prometido pela Prefeitura para levar os móveis das famílias, que receberão bolsa-aluguel por três meses, mas não serão atendidas por programa habitacional porque invadiram o terreno depois de acordo na Justiça ter congelado a ocupação, em 2009, com 159 famílias.

A remoção começou por volta das 8h com bastante tumulto. “Eles (guardas-civis) vieram preparados para uma batalha. Tinha dormido na minha mãe e, quando cheguei pela manhã, fui recebida por guardas falando ‘coloca a mão na cabeça’. Disse que estou grávida (de três meses) e, mesmo assim, aumentaram o tom de voz e algemaram meu marido”, diz a operadora de telemarketing Ane Carolina da Fonseca, 35 anos. “Quando chegaram, prenderam vários homens. Tudo isso sem motivo algum, eles não são criminosos.” Ao todo, 12 pessoas foram encaminhadas para o 8º DP (Alvarenga), onde fizeram somente o processo de averiguação de antecedentes criminais, segundo a Polícia Civil.

A truculência da GCM não foi direcionada somente aos moradores. A equipe do Diário precisou entrar às escondidas no assentamento após ser barrada em dois locais sob ameaça de ser detida por desacato às autoridades. A repórter fotográfica Andréa Iseki chegou a ser empurrada por uma guarda-civil feminina.

Após conseguir acesso à área, durante meia hora a equipe de reportagem acompanhou o processo de desocupação escondida em uma moradia. O que se viu foi famílias indignadas com a violência por parte da GCM.

Coordenador do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), Lucas Jesus Barbosa relatou que o confronto tomou proporções maiores quando funcionários da Prefeitura iniciaram a retirada de barracos de famílias que não faziam parte do acordo.

Por meio de nota, a Prefeitura garantiu ter enviado caminhões para a mudança, que não foram vistos. Disse ainda que não houve registro de feridos e que o confronto foi causado por pessoas que não faziam parte da ação. Sobre os bloqueios na entrada, a administração afirmou cumprir normas de segurança para remoções em situação de conflito.

Após deixar a área, famílias garantem não ter para onde ir

Descaso. Essa é a sensação que boa parte dos moradores do assentamento Skaff relata após ter os barracos derrubados, ontem, durante desocupação parcial da área, em São Bernardo. Sem apoio da Prefeitura, que não cumpriu a promessa de encaminhar caminhões para a retirada de móveis, muitos se viram obrigados a pedir ajuda para amigos e familiares para ter onde dormir.

“Além de sofrer agressão da GCM quando rasgaram minha camisa. tive que recorrer à minha sogra para ter um lugar para ficar”, relata Ingrid Amanda Forte, 20 anos. Desempregada, a moradora teve de deixar pertences como geladeira e armário no barraco de outras famílias. “Lá não tem espaço para deixar esses itens. Vamos morar em oito pessoas. Agora vou ter que esperar o pessoal da Prefeitura liberar o auxílio aluguel para ver o que posso fazer.”

Segundo a moradora, além da desocupação truculenta, a equipe da GCM ainda apreendeu celulares de forma violenta. “Quando ia gravar a ação deles, pegaram meu celular. Isso aconteceu com muitas pessoas”, destaca Amanda.




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