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Livre negociaçao muda relaçao entre empresas e trabalhador
Do Diário do Grande ABC
26/12/1999 | 19:12
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A livre negociaçao entre empresas e sindicatos tem no Brasil pouco tempo de vida - quase a mesma idade da estabilidade da moeda. Mesmo assim, esses poucos anos mudaram a cara das relaçoes de trabalho, como atesta uma pesquisa realizada pela Universidade de Sao Paulo (USP), de abril a setembro deste ano, com 440 empresas e entidades sindicais do país.

Velhas idéias começam a ser sepultadas. Por exemplo, atividade sindical hoje nao é mais sinônimo de ânimos exaltados no chao da fábrica e de aumento de custos trabalhistas - em muitos casos, é apontada até mesmo como razao para aumento expressivo de faturamento e melhoria da produtividade.

Aumento de salário anual também nao é mais o carro-chefe das negociaçoes. Perdeu espaço para diálogos sobre abonos, benefícios, jornada e proteçao ao emprego.

Entre os que permitiram a organizaçao interna dos empregados, surpreendentemente 17% afirmam que criar uma comissao de fábrica por exemplo, faz a produtividade aumentar. E para 83% dos que tentaram, nao provocou nenhum aumento dos custos trabalhistas, ao contrário do que pensam muitos empresários.

Outra situaçao inimaginável há bem pouco tempo: 27% qualificaram o relacionamento da sua empresa com o sindicato como "harmonioso", e 50% como "neutro". Só 27% sofrem com o conflito.

A pesquisa faz parte do projeto Mediar, criado pelo professor da Faculdade de Economia e Administraçao, (FEA-USP), e pesquisador da Fundaçao Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) Hélio Zylberstajn, com o objetivo de tornar disponível pela Internet um banco de dados sobre relaçoes do trabalho. Tem acesso a esse banco quem concordar em também prestar informaçoes de sua empresa.

Números - O professor notou também que o aumento de salário puro e simples aparece, modestamente, como o quinto item mais negociado - presente em apenas 52% das negociaçoes. Antes dele, estao os complementos salariais (abonos e prêmios, presente em 76% das pautas), os benefícios (salário indireto 62%), jornada de trabalho (62%) e regras de proteçao ao emprego (57%). Em outubro, salário tomou a dianteira. "Apareceu em 71% das negociaçoes, provavelmente por causa do aumento da inflaçao."

A pesquisa mostrou que existem ainda muitas contradiçoes nas relaçoes entre capital e trabalho e, de modo geral, as empresas entrarao no ano 2000 com muito discurso e pouca coerência nessa área.

A disputa das duas maiores centrais sindicais do Brasil pelo título de maior influência sobre os trabalhadores aparece na pesquisa. Nada menos que 33% das empresas consideraram que a Força Sindical exerce influência "muito forte" sobre seus empregados. No caso da CUT, 36% apontaram sua influência como "forte".

Já quando o assunto é organizaçao interna de trabalhadores, a CUT reina absoluta: entre os órgaos de representaçao interna das empresas que responderam a pesquisa, 54% sao controlados por esta central e nenhum pela Força Sindical.




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