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"Balao Cativo", de Pedro Nava, é reeditado
Do Diário do Grande ABC
25/02/2000 | 15:54
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O precioso resgate da memória de Pedro Nava continua. A história do médico reumatologista que começou a ler muito cedo e a escrever muito tarde rendeu uma coleçao de seis volumes, clássico do memorialismo brasileiro. No ano passado, começou o processo de recuperaçao pública da obra, com a reediçao de "Baú de Ossos". No próximo mês, o requintado estilo barroco de Nava, gozador e lírico, estará novamente à disposiçao com "Balao Cativo", o segundo volume.

"Vamos reeditar com o mesmo cuidado do livro anterior" garante Plínio Martins Filho, da Ateliê Editorial, que está republicando a obra em conjunto com a Giordano. "Além do texto, vamos acrescentar um índice onomástico e manuscritos com anotaçoes, como fizemos no Baú". O apêndice é imprescindível - Nava era criterioso em suas observaçoes, com caprichos que chegam ao nível da minúcia.

Se em "Baú" relata histórias de seus ancestrais, em "Balao Cativo" relembra o próprio passado, especialmente a infância e adolescência entre a sua Minas Gerais e o Rio de Janeiro - a vida entre a família, o internato, o primeiro relacionamento com futuras figuras notáveis da cultura brasileira.

Proustiano - Lançado em 1973, "Balao" foi recebido com entusiasmo pela crítica, qualificando a obra como de um autor proustiano, graças à permanente restauraçao do passado de sua gente, ao qual confere um tipo de grandeza mais poética que real. Seguem-se "Chao de Ferro", em 1976, "Beira-Mar" (78), "Galo-das-Trevas" (81) e finalmente "Círio Perfeito" (83). Poeta bissexto, Nava preferia escrever memórias a romances para "reprovar" sua vida, pois "a lembrança é uma espécie de traumatismo".

No planejamento das duas editoras paulistas, a reediçao dos volumes deverá ser um a cada semestre. A novidade será o lançamento de "Cera das Almas", que seria o sétimo volume elaborado por Nava, interrompido pela morte quando estourou a cabeça com um tiro. O autor deixou 62 páginas datilografadas, recheadas de anotaçoes, que deverao compor um volume de 35 páginas.

A reediçao das memórias em versao integral nao será a única possibilidade de desvendar a obra de Pedro Nava. A Ateliê e Giordano planejam continuar com a divulgaçao dos diários íntimos do escritor, com anotaçoes realizadas entre 1948 e 1984, que ocuparam 12 cadernos - no ano passado, foi lançado o volume "Cadernos 1 e 2".

Também a vasta bibliografia médica de Nava voltará às prateleiras. Ainda neste ano, os editores pretendem publicar o livro "Território de Epidauro", de 1948, sobre a história da medicina brasileira. "Em seguida, vamos compilar todos os seus textos médicos, editados em diversas publicaçoes especializadas, e lançar em um volume só", comenta Plínio Martins.

Botoes e boné - Boa parte do acervo de Pedro Nava pertence hoje à Fundaçao Casa de Rui Barbosa, no Rio, onde sao encontradas verdadeiras relíquias - além de colagens, originais e fotografias, estao ainda um boné do Colégio Pedro 2.º e os botoes do uniforme. Destes, destaca-se o cuidado com que Nava tratava as imagens recebidas de diversos familiares. Os organizadores de sua obra iniciaram o processo de catalogaçao.

A reuniao das fotos exige um trabalho cuidadoso para cumprir uma vontade de Nava. Desde o início, o escritor evitou ilustrar suas memórias por entender que as fotografias limitariam a interpretaçao do leitor e até trariam alguma decepçao. "O arquivo de fotos é imenso (mais de mil reproduçoes) e nao queremos fazer um trabalho apressado", conta Plínio Martins, prometendo o lançamento do álbum ilustrado para o próximo ano.




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