Política Titulo Morte
Após 13 anos de morte, Celso ainda é exaltado

Prefeito de Sto.André morreu em exercício do
3º mandato, em 2002, em caso longe de desfecho

Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
18/01/2015 | 07:00
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Banco de Dados


Era domingo, um dia chuvoso, a data que ficou marcada com a morte do prefeito de Santo André, Celso Augusto Daniel (PT), aos 50 anos. O caso do crime que chocou o País completará 13 anos no dia 20, ainda sem desfecho – no dia 18, ele sofreu o sequestro, quando saía de restaurante em São Paulo. O petista morreu em exercício do terceiro mandato e não deixou herdeiros políticos. Até hoje seu legado é destacado por correligionários, mas também por adversários. Seu nome transcendia os quadros da legenda.

Celso era andreense de nascimento. Comandou a cidade por dez anos. Lançou-se na política em 1982, quando o PT engatinhava. Era ousado e concorreu ao Paço de Santo André, sendo derrotado por Newton Brandão. O petista foi eleito ao cargo no Executivo em 1988 pela primeira vez ao obter 173 mil votos. Na eleição de 1994, alcançou 97 mil sufrágios e garantiu cadeira na Câmara Federal. Mas deixou o Legislativo dois anos depois, em 1996, para retornar à Prefeitura, lembrado por 205,3 mil eleitores. Em seu último pleito, em 2000, foi reeleito ao registrar 250,5 mil adesões, mais de 70% dos votantes.

Foi filiado ao PT durante toda sua trajetória política, de pouco mais de 20 anos. Celso tinha voto não só de petistas e simpatizantes. Recebia a confiança de eleitores de diferentes camadas sociais e adeptos de outras legendas.

Nas horas vagas, jogava basquete – um dos maiores hobbies – na equipe de veteranos da Pirelli. Sua oratória chamava a atenção, especialmente em campanhas eleitorais. Por outro lado, as competências administrativa e política eram atributos evidentes a companheiros.

O petista tinha visão de futuro. Foi idealizador, em 1990 – segundo ano à frente do Paço em seu primeiro mandato –, do projeto de Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, entidade de composição dos sete prefeitos da região. O órgão, atualmente de natureza pública, é sediado em Santo André. Por essa liderança, Celso presidiu a instituição nos anos 1991, 1992 e 1997.

Devido a esse estilo e proximidade com a cúpula do partido, o petista foi escolhido para coordenar a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002 – até então, o PT havia perdido três eleições consecutivas ao Palácio do Planalto. Era cotado para assumir o Ministério da Fazenda ou Planejamento – Pasta que, posteriormente, foi ocupada por Miriam Belchior (PT), com quem foi casado por dez anos. Contudo, ele morreu breve tempo depois que iniciou a atuação como um dos cabeças da empreitada política.

PROJETOS
Há projetos de Celso Daniel que foram lançados, durante seu governo, no entanto, que até agora não se tornaram realidade. Exemplo é a proposta do Eixo Tamanduatehy, que visa renovar o poder econômico da região da Avenida dos Estados.

Atual prefeito, Carlos Grana (PT) afirmou que há sentimento de “gratidão” por tudo que Celso realizou pela cidade, Grande ABC e pelo País. Para ele, a principal homenagem é “continuar o legado” do correligionário. “Só tenho lembranças positivas da figura pública. gestor que enxergava a solução em longo prazo.”

Decisão do STF regride processo ao início

Decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), em dezembro, anulou o processo sobre o caso da morte de Celso Daniel desde a fase de interrogatórios dos acusados e seus atos subsequentes. No julgamento, os ministros Marco Aurélio Mello e Dias Toffoli acolheram pedido da defesa do empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, apontado pelo Ministério Público como mentor do assassinato, sob o argumento de que “não foi dada oportunidade de se fazer perguntas aos outros réus”. A medida forma imbróglio jurídico, uma vez que a ação já tem seis condenados. Apenas Sombra não foi julgado até hoje.

O acórdão sobre a decisão do STF não foi publicado, porém há entendimento de que tudo terá de ser refeito, inclusive, o período de oitivas das testemunhas, embora, anteriormente à época da denúncia, esse passo constava no fim da ordem, tendo o interrogatório no começo.

Segundo um dos promotores do caso, Roberto Wider Filho, a anulação do processo “é lastimável”. Para ele, não houve prejuízo à defesa. “A prova contra o Sombra é pericial. Não há razão para ouvir novamente as testemunhas. Até porque o caso já se passou muito tempo e a mente é falha”. Por outro lado, para o criminalista Roberto Podval, advogado de Sombra, o trâmite fica nulo. “O Sérgio é acusado de ser mandante do homicídio. A questão é umbilical. O cerceamento foi claro e absurdo.”

No momento do sequestro, o prefeito estava dentro de sua Mitsubishi Pajero, blindada, acompanhado de Sombra, seu amigo e segurança, que dirigia o veículo. Os criminosos fecharam o carro de Celso e levaram somente o petista, deixando o companheiro no local. Antes de matar o prefeito, os sequestradores o mantiveram em cativeiro na favela Pantanal, em Diadema. Celso foi encontrado morto em 20 de janeiro em Juquitiba, após receber 11 tiros.

Wider lamenta que a estratégia possa empurrar o caso para possível prescrição, em 2024, duas décadas após o recebimento da denúncia. Para ele, há risco sério da perda do poder de punição – Sombra pode pegar de 12 a 30 anos de prisão. “Para ouvir todo mundo novamente levaria seis ou sete anos”, disse, relembrando que, na primeira oportunidade, o processo todo demorou quase dez anos.

Podval rebate e garante que a intenção é “somente provar a inocência de Sérgio”. Para ele, o julgamento continua “absolutamente viável”. “Não queremos deixar dúvida. Não buscamos a prescrição. O problema é que a todo tempo o MP jogou o caso para o público e trabalhou de forma circense”, assinala, ao acrescentar que Sombra não tinha razão para matar Celso. “Ele era braço direito do prefeito, que seria ministro. O episódio provocou a morte política dele também.”




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