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Livro sobre Marcello Mastroianni chega ao Brasil
Gislaine Gutierre
Da Redaçao
30/11/1999 | 18:39
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Em setembro de 1996, nos intervalos de gravaçao do filme Viagem ao Início do Mundo, em Portugal, o ator Marcello Mastroianni gravou um longo documentário narrando suas principais lembranças de vida, tanto da carreira quanto da infância, da família e da guerra. A fita, que se chamou Eu me Lembro, Sim, Eu me Lembro, dirigida por sua mulher Anna Maria Tatò, se transformou em livro homônimo que acaba de chegar no Brasil pela DBA (192 páginas, R$ 25).

O nome da fita foi dado pelo próprio Mastroianni. Ele achava que este título era o mais adequado, porque daria mais liberdade à obra, permitindo falar sem uma seqüência cronológica, ou esquecer alguma coisa que fosse mesmo importante. E é justamente essa informalidade que torna tao interessante o registro. Em suas falas, Mastroianni surpreende o leitor, ora sendo sarcástico, ora profundo e comovedor.

Mastroianni diz, várias vezes, ser um "homem de sorte", e "privilegiado". Mas que, nem por isso, vivia como se estivesse em um pedestal. Pelo contrário, chega até a zombar de sua própria aparência: "Eu nao gosto muito de mim (...) braços magros, pernas magras, secas. Talvez até tenha tido sorte porque os papéis de herói nao sao para mim. E esse nariz curto! Os lábios, é, carnudos...".

Mas nada o incomodava mais que o rótulo de latin lover, que ganhou depois de rodar A Doce Vida, de Federico Fellini. Fez tudo para se livrar desse "peso", inclusive aceitar o papel de marido de uma ana no filme Nao Quero Falar Sobre Isso Agora, dirigido por Maria Luísa Bemberg, no Brasil. "Aceitei pelo prazer de arrasar com essa coisa besta de latin lover".

Sobre a família, o ator diz que, logo quando começou no cinema, seu pai ficou cego, por conta do diabetes. A mae, há muito tempo, tinha sérios problemas auditivos. Portanto, quando iam ao cinema, ela perguntava ao marido o que Marcello disse e este, por sua vez, perguntava à mulher, o que havia feito. "Eram tal qual o Gordo e o Magro, o Tico e o Teco. Seria possível contar tudo isso em um tom dramático. Mas, pelo contrário, eram um verdadeiro casal de cômicos".

Mastroianni também dedicou boa parte do documentário a falar de Fellini. "Uma amizade verdadeira e bela, baseada numa desconfiança total e recíproca", como disse certa vez o cineasta.

O livro ainda traz depoimentos no mínimo curiosos, como o porquê dele ter trocado tantas vezes de carro, da vez que Sophia Loren se recusou a fazer uma peça de teatro, do beijo que ganhou de uma desconhecida, no escuro de um trem, e de quando foi reclamar com Vittorio De Sicca do péssimo roteiro de Um Lugar para os Amantes.

Apaixonado, intenso, profundo, e, às vezes, um verdadeiro menino na maneira de viver e de ver a vida, Mastroianni tinha por predileçao guardar os bons momentos em sua memória. E resumiu esse pensamento citando um canto navajo, de índio: "Guarde na memória tudo aquilo que você viu, porque tudo aquilo que você esquece, torna a voar com o vento".




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