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Vasco afunda num mar de dívidas
Eduardo Merli
Do Diário do Grande ABC
Com Agências
13/01/2001 | 20:50
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Na história do mundo, quase sempre os grandes ditadores esconderam atrás de suas glórias Estados falidos. Assim foi com Stalin, na ex-URSS; Costa e Silva, no Brasil; e Fidel Castro, em Cuba. No mundo dos esportes, a coisa não é diferente. Por trás do todo-poderoso presidente eleito do Vasco, Eurico Miranda, esconde-se um clube com problemas de ordem financeira.

Há quatro meses, a folha de pagamento está atrasada para quase todos os esportes amadores do clube carioca. Segundo levantamento feito pelo Diário, os esportes mais atingidos são o vôlei, futsal, tênis-de-mesa, handebol e o boxe. Estima-se que a crise chegue também ao basquete, judô e atletismo.

O vice-presidente de esportes amadores do Vasco, Fernando Lima, foi seco. “Não falo sobre salários, isto é um problema do atleta com a tesouraria”, disse. “Não vamos declarar nada, se os atletas quiserem eles que reclamem sozinhos”.

Encabeçando a lista de calotes no Vasco está o futsal. Desde outubro, atletas de seleção, como Manoel Tobias, Simi, Seco, Lavoisier e Schumacher, não recebem do Vasco pelo que fizeram nas quadras – ao todo, quatro títulos dos cinco disputados. “Demos tanto pelo Vasco em 2000 e não ver o reconhecimento entristece, só espero que não fique assim”, disse o ala/fixo Schumacher, que retratou a realidade do clube. “Ninguém sabe de nada sobre futuro. O pessoal está desanimado com essa história de não receber”.

A falta de verba para os jogadores no futsal já tem consequências. O pivô Micky se transferiu para a Ulbra em janeiro. “Não tive uma definição salarial no Vasco e agarrei a proposta da Ulbra, que era mais segura”, disse. “Os atletas do futsal têm esposa, filhas, muitos compraram móveis e casa nesses últimos anos; não dá para ficar sem receber”.

Com medo de perder o patrocínio do Vasco, os dirigentes e jogadores da equipe masculina de vôlei do Vasco/Três Corações evitam falar da crise que o clube enfrenta e preferem ignorar os problemas financeiros. “Não vou atirar pedras em quem me estendeu a mão. Problemas internos se resolvem internamente”, afirmou o diretor da franquia Vasco na cidade do sul mineiro, Luiz Felipe Ximenes.

Ele admite, contudo, que os salários estão atrasados quatro meses e que as categorias de base de vôlei, futsal e basquete, que abrigam mais de 200 crianças, correm o risco de acabar. Muitos jogadores estão insatisfeitos e alguns ameaçam abandonar o clube. Mesmo diante desta situação, Ximenes garante que o time principal – que ocupa a vice-liderança da Superliga – não abandonará o campeonato.

Na quarta-feira, os atletas e a comissão técnica enviaram uma carta de apoio ao Rio, manifestando solidariedade a Eurico Miranda. “Colocaram o Eurico como se não tivesse qualidade alguma. Há menos de um ano, perdi o patrocínio da Universidade do Rio Verde (Unicor) e da Telemig Celular e foi o Vasco quem comprou minha idéia. O Eurico veio pessoalmente”, contou Ximenes.

Segundo o diretor, sua equipe não tem personalidade jurídica. “O Vasco contratou cada atleta individualmente”, sustentou, sugerindo que o problema da falta de dinheiro está justamente no repasse do banco estrangeiro Bank of America, parceiro do clube cruzmaltino. “Quando achei que tinhamos encontrado o parceiro ideal, nos vemos envolvidos nessa confusão financeira”.

Jogadores e membros da comissão técnica fazem imperar a lei do silêncio. Ninguém quer falar sobre a crise e todos continuam treinando normalmente, como se nada estivesse acontecendo. Mas alguns atletas não escondem a insatisfação com o clube que, segundo eles, não tem honrado nenhum compromisso financeiro e ignora cláusulas contratuais.

A crise financeira do Vasco no handebol já se instala há quase quatro meses, disse o auxiliar técnico do time principal masculino, Alfredo Melhem. Segundo ele, esta é primeira vez que os jogadores ficam sem pagamento, desde sua estada no clube, há três anos. “Esperamos que o doutor Eurico resolva o problema, confiamos nele”, disse, em defesa do presidente.

No tênis de mesa, os vencimentos já estão atrasados desde outubro. O principal mesatenista do grupo, Hugo Hoyama, disse que disputa em fevereiro competições internacionais e não vai esperar muito para que o clube carioca resolva seus problemas. “O Vasco fez muito por mim, mas se eles não me passarem uma definição em breve, vou analisar outras propostas”.

Depois de muita enrolação, o presidente eleito do Vasco, Eurico Miranda, admitiu que muitos atletas do clube estão com os salários atrasados. No entanto, o dirigente rechaçou a hipótese de que o problema seja por falta no repasse de verbas pelo parceiro financeiro vascaíno, o Bank of America. “O banco não nos deve nada. Se alguém ou algum diretor disse isto, além de não ser a pessoa autorizada a falar, está mentindo.”

A justificativa apresentada por Eurico para o calote é a de que o Vasco optou por investir, principalmente, nas categorias de formação dos atletas e, por isso, surgiu este problema com os profissionais de elite. “Nossa meta sempre foi investir, principalmente, nas categorias infantis, mirins e juvenis. Infelizmente sobrou para eles, lá de cima.”

Mesmo não reconhecendo que o dinheiro da parceria foi mal administrado, o que ocasionou o atraso dos salários, Eurico espera, em breve, resolver esta situação. O dirigente também desmentiu os boatos de que o clube tenha a intenção de suspender o apoio a várias modalidades esportivas. Segundo ele, o objetivo é o de incentivar ainda mais o esporte amador. “Essas manifestações do contra são feitas por pessoas que não desejam ver o projeto do Vasco prosperar.”




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