Cultura & Lazer Titulo
Rasi encerra trilogia familiar
Mônica Santos
Da Redaçao
30/01/1999 | 16:54
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No dia 10 de março Mauro Rasi estréia em Bauru mais uma peça autobiográfica. Depois de As tias e Pérola - este, um retrato divertido de sua mae -, ele traz aos palcos O crime do dr. Alvarenga, escrita por seu pai, Oswaldo Rasi, e adaptada por ele. Infelizmente, por conta do destino, o pai nao estará na platéia, como havia sido planejado.   "Eu acho que sua morte foi bem autêntica, como se ele deixasse a vida para se tornar uma ficçao", argumenta o filho, que nao tem tido muito tempo para sentir a morte do pai, ocorrida em 23 de dezembro do ano passado, um dia antes de completar 81 anos. "Estamos ensaiando todos os dias e ele está muito presente", completa.  Em entrevista ao Diário, Mauro falou do novo trabalho. Porém, fez questao de manter segredo sobre o que poderá ser visto no Teatro Procópio Ferreira, em Sao Paulo, a partir de 1º de abril. "Tudo o que posso dizer é que as pessoas verao um personagem mágico", afirma. O teatrólogo também falou dos novos rumos de seu maior sucesso, Pérola, com Vera Holtz e Sérgio Mamberti, em cartaz no Tuca, em Sao Paulo, com casa cheia todas as noites. Leia trechos:

DIARIO - Quando, efetivamente, você começou a trabalhar em O crime do dr. Alvarenga?

RASI - A idéia da peça é antiga, mas a concretizaçao começou há seis meses. Resolvi falar do meu pai por meio de uma peça sua porque ele sempre sonhou em ter peças encenadas. Em O crime do dr. Alvarenga, o personagem principal é parte deste sonho. É um médico glorioso, com todos os referenciais de seus sonhos e, de certa maneira, um contraponto do que foi meu pai nos últimos tempos, depois de viúvo: um velho cheio de lamúrias.

DIARIO - Quando seu pai morreu, em dezembro do ano passado, o trabalho já estava concretizado? A morte dele influenciou de alguma forma a produçao?

RASI - A morte dele obviamente nao estava no roteiro e eu esperava vê-lo na platéia na estréia, mas o infarto veio antes. Porém, eu acho isso tudo muito curioso. Devido ao teatro, eu tenho um grande distanciamento para falar de minha família e, sobre a morte do meu pai, tudo parece uma brincadeira. É como se ele deixasse a vida real para entrar para a ficçao. Mas nada disso tem influência no trabalho. É uma comédia hilariante. Na minha família italiana tudo é muito engraçado.

DIARIO - Quem era Oswaldo Rasi na realidade?

RASI - Meu pai era, antes de tudo, um sonhador. Porém, durante a vida inteira ele se esforçou para ser correto, para sonhar com os pés no chao. Eu até acho que, por conta disso, prejudicou muito seus sonhos e também seus negócios. Meu pai foi comerciante de ferragens, vice-presidente da Federaçao do Comércio do Estado de Sao Paulo e vereador, mas ele gostaria de ter sido um escritor, um artista. Em Bauru, ele ficou muito conhecido por ser comerciante. Mas, antes de mim, era o dramaturgo da cidade. Suas peças sempre foram encenadas no Dante Alighieri, a comunidade italiana de Bauru.

DIARIO - Você herdou esta vocaçao dele?

RASI - Sem dúvida. A primeira peça de teatro que assisti foi O crime do dr. Alvarenga, quando eu tinha 9 anos. Este trabalho me impressionou muito e me influenciou. Agora, acabei fazendo uma releitura, mas nao quero falar sobre ela, prefiro que as pessoas a vejam no palco.   

DIARIO - Há um tempo foi anunciado que Sérgio Mamberti, que faz o Vado (como era chamado Oswaldo Rasi pela família) em Pérola, seria o protagonista de O crime do dr. Alvarenga. Por que motivo você mudou de idéia?

RASI - O Mamberti está brilhante como Vado, mas ele continua em Pérola que, aliás, é um tremendo sucesso. Agora está no Tuca, em Sao Paulo, e enche casas por onde passa. Pérola já foi encenada na Argentina, Bulgária, Itália e Espanha. Agora será montada na Grécia. O engraçado é que lá acharam que se trata de uma tragédia. Eu argumentei que eles nao entenderam, mas me responderam que quem nao viu isso foi o autor (risos). Diante de todo o sucesso, eu precisei arrumar outro Vado.  

DIARIO - E por que Paulo Autran?

RASI - Ele é o maior ator do Brasil de todos os tempos, porque nunca é maior do que o personagem. Na vida real, Autran é um lorde inglês, mas no palco é a pessoa mais humilde do mundo. Além disso, eu o conheci em Bauru. Na época, tinha 15 anos e ele foi à cidade fazer a peça Liberdade, liberdade. Ele e meu pai se tornaram grandes amigos, e Autran acabou incentivando a minha carreira. Eu, que na época era músico, o tinha como ídolo. 

DIARIO - Quem mais está no elenco?

RASI - A Drica Morais, que faz a filha; o Guilherme Piva, na pele do filho, que sou eu; e o Ernani Morais (o Boneca, da novela Torre de Babel), que faz o papel do cunhado, um pastor. Tem ainda Marilu Bueno, que faz uma tia. As minhas eternas tias. Elas estao sempre presentes.  

DIARIO - Considerando o sucesso de Pérola, qual a sua expectativa em relaçao a este novo trabalho?

RASI - Nós estamos ensaiando há um mês na minha casa, no Rio de Janeiro, e, modéstia à parte, acho que está muito bom. Vai ficar ainda melhor, porque temos mais dois meses e meio até a estréia. Esta peça é um complemento de Pérola, que mostra meu pai já viúvo, mas ao mesmo tempo é um trabalho completamente diferente, situado em outro universo. Porém, continua dentro da minha proposta de trabalho, que é dar ao público arte de qualidade como entretenimento.

DIARIO - Em algum momento você discutiu com seu pai esta montagem?

RASI - Ele sabia que eu estava desenvolvendo este trabalho e ficou muito feliz, muito ansioso, porém nao chegou a conhecer a maneira como estava fazendo isto. Sem ironia nenhuma, eu encaro a morte de meu pai como um ato teatral, é a supremacia da desobediência do homem que desejou entrar para a ficçao. A peça terá estréia nacional em Bauru, onde tudo começou, mas talvez ele estivesse temeroso quanto ao resultado (risos). 

DIARIO - O crime do dr. Alvarenga encerra sua fase autobiográfica e confessional ou você ainda tem outros personagens familiares para se inspirar?




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