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O cinturao de miséria da Billings
Danilo Angrimani
Da Redaçao
25/03/2000 | 18:16
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A represa Billings comemora nesta segunda 75 anos, com a saúde em péssimo estado. Suas coronárias estao entupidas por toneladas de esgoto; o cabelo natural cai sem parar; o fôlego nao é mais o mesmo (excesso de entulho acumulado nos pulmoes); e sua hospitalidade parece ter chegado ao limite.

Quem percorre as estradas e bairros próximos à represa perde a perspectiva do otimismo. Um laço de miséria e precariedade aperta o cerco em torno da Billings.

No bairro dos Tatetos, em Sao Bernardo, moradores mais antigos dizem que surge uma nova moradia clandestina a cada dia. Na Estrada do Alvarenga, que começa em Sao Bernardo e se prolonga até Diadema e Sao Paulo, o escárnio começa nas placas de "proibido jogar entulho", cobertas de entulho, e se prolonga pelos loteamentos clandestinos, pela degradaçao ambiental, sujeira e abandono. Tudo ladeado por placas que anunciam: "Area de proteçao ambiental".

Os pescadores profissionais, que antes ganhavam a vida na represa, estao fugindo. Buscam a segurança dos rios do interior do Estado, para escapar da açao dos piratas, que têm assaltado as embarcaçoes para roubar os motores dos pesqueiros.

A notícia boa fica por conta da ausência de novos loteamentos clandestinos e da preservaçao de algumas áreas. O coordenador de fiscalizaçao da Billings, ligado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Cláudio Bolsani, disse que a represa ainda tem vários pontos verdes (áreas preservadas).

Bolsani enumera a regiao Sul de Sao Bernardo e o entorno de Paranapiacaba, em Santo André; além de referir-se a "muitas manchas de mata" em Ribeirao Pires e Rio Grande da Serra, como locais onde a vegetaçao ainda sobrevive.

Tatetos - A informaçao do fiscal tem fundamento. Quem circula pela avenida Rio Acima, em direçao às balsas que saem de Sao Bernardo e levam ao bairro de Parelheiros, em Sao Paulo, fica impressionado com a preservaçao, que se estende desde a segunda balsa até a terceira, na divisa de Diadema com Sao Paulo. A vegetaçao nativa ladeia a estrada e se vê uma ou outra construçao isolada.

No bairro dos Tatetos, ao longo da estrada Municipal, o cenário é outro. "A cada 24h, o pessoal ergue um barraco novo aqui", disse o metalúrgico aposentado Raimundo Nonato Pereira da Silva, 53 anos. De fato, basta andar alguns metros para se topar com dezenas de novas moradias - barracos de alvenaria -, encravadas em área de manancial.

O maior obstáculo para a preservaçao da Billings, segundo Bolsani, é o adensamento ou as novas construçoes que surgem nos loteamentos clandestinos, já consolidados.

Nos Tatetos, as gambiarras (ligaçoes clandestinas de eletricidade) se multiplicam nos postes. Sao tantos fios cruzados e interligados que parece um milagre o fato de a luz acender do outro lado.

Na realidade, é um milagre diário. As ligaçoes precárias nem sempre funcionam bem. Genésio da Silva, 45 anos, funcionário público aposentado, disse que comprou 22 rolos de fios elétricos, para "puxar a luz", e, mesmo assim, tem muitos problemas com a eletricidade em sua "chacrinha". "A gente consegue ver televisao direito depois das 23h. A geladeira só gela de madrugada. Sem falar que, quase todo dia, a luz apaga", disse Silva.




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