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Divertido e com ótimos atores, 'Noite da Virada' faz esquecer limitações
23/12/2014 | 08:00
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Divulgação


Pode até ser que o filme não seja tão bom, mas A Noite da Virada tem uma das grandes cenas do ano, e não apenas do cinema brasileiro. Muito bem escrita, dirigida e interpretada, é um diálogo totalmente realista entre João Vicente de Castro e Luana Martau. Interpretam marido e mulher. São movidos a sexo. Mas nesse momento específico, o marido perde o foco porque acha que matou acidentalmente o traficante que o abastece e tentou esconder o corpo no banheiro. Impotente, ele desperta a suspeita da mulher, que pensa que está sendo traída. Tudo o que eles dizem faz sentido, mas um não ouve o outro. Fazem um diálogo absurdo, totalmente atravessado.

Não é fácil manter o tom numa situação dessas, mas o diretor Fábio Mendonça consegue - um pouco por conta dos ótimos atores. Castro veio do Porta dos Fundos e está estreando no cinema. Luana é experiente atriz de teatro. Estão à vontade como o priápico e a (digamos) ninfomaníaca. Se um quer, o outro está em ponto de bala. E querem sempre. Castro e Luana explicam como se prepararam. "O Fábio (diretor) ensaiou muito com a gente antes da filmagem. Tivemos um período só para nos conhecer e calibrar o diálogo. No Porta também é assim. O objetivo não é o solo, mas o grupo. Tem esquetes em que um é protagonista e outro faz a escada numa boa. No próximo (esquete), a situação se inverte e é assim que funciona", diz Castro.

Como o ator, o diretor também é estreante. Fábio Mendonça faz publicidade desde 2000, na O2. Quando Andrea Barata Ribeiro e Bel Berlinck, produtoras de A Noite da Virada, lhe propuseram dirigir a adaptação da peça O Banheiro, de Pedro Vicente, ele não vacilou. "Não conhecia a peça, mas aí eu li e achei sugestiva. Os anos 1990 cabem naquele banheiro, com sexo, drogas e muita briga. Ao mesmo tempo, encerrava um desafio e tanto. Como filmar num ambiente tão limitado? A peça é centrada na suposta morte de um traficante e a consequente ocultação do cadáver. Com o diretor de fotografia, estabeleci um plano bem cerrado de filmagem. Mesmo que a gente tenha mais locações, além do banheiro, o filme se passa quase todo em interiores. Com os roteiristas, também ampliamos os personagens para tornar tudo mais dinâmico e intenso."

A noite da virada é, claro, a do réveillon. Júlia Rabello, também do Porta, é casada com Paulo Tiefenthaler, do Larica Total (Canal Brasil). Ele é músico, ela mantém a casa. E justamente nos minutos que antecedem a chegada dos convidados para a festa de réveillon, o marido resolve anunciar que está caindo fora. Como? Ele pede um tempo, mas os acontecimentos mostram que o tal ?tempo? é a dondoca do casarão ao lado, casada com o ricaço que não tem muito tempo para ela. Luana Piovani e Marcos Palmeira são os atores. Martha Nowill, repetindo a performance da gordinha sexy, é quem primeiro saca a possibilidade (ou realidade) do adultério. A noite da virada transforma-se numa comédia de erros. A ?virada?, com a explosão/exposição da verdade, leva à formação de novos casais.

Os demais personagens incluem o traficante Fumaça, preso num banheiro químico. De novo, o ator Rodrigo Sant?Anna é muito bom e o diálogo, divertido. Ele apela para Jesus e o filho de Maria aparece em seguida, mas não exatamente como o personagem bíblico. "A escolha do ator foi uma proposta do diretor de elenco", revela o diretor. "Topei na hora porque achei que seria engraçado." É um ator conhecido, que você vai identificar.

Essa simples escolha, como o diálogo referido no início, mostram que o movimento do diretor foi subverter a expectativa, dessa maneira imprimindo sua marca. Sorry, mas já houve um crítico que disse que o filme não proporciona nenhuma 'rizada'. Com Z, não proporciona mesmo, afinal risada é com S. A Noite da Virada pode ter suas limitações, mas é esperto e (bem) divertido.




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