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Balsa é o único transporte para 13 mil
João Guimarães
Do Diário do Grande ABC
06/04/2008 | 07:12
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A balsa metálica modelo RG IV fica 24 horas por dia fazendo a travessia entre os bairros Riacho Grande e o núcleo Santa Cruz, nas margens da Represa Billings em São Bernardo.

 A embarcação é um dos únicos meios de acesso para as 13,6 mil pessoas que moram no núcleo. De acordo com a Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), responsável pela balsa, o veículo transporta cerca de 6.300 passageiros e 1.900 veículos diariamente. A travessia é gratuita.

 Do núcleo até o Centro de São Bernardo gasta-se, em média, duas horas.Apesar da distância, os motivos para tantas pessoas morarem no local são vários. O distrito do Riacho Grande foi criado há 58 anos. Na época ainda não existiam leis de proteção das áreas de mananciais.

 De acordo com o atual subprefeito do Riacho Grande, José Ramos de Oliveira, o local foi, em sua maioria, colonizado por italianos. Ele afirma que, naquela época, a chegada destas pessoas não foi uma invasão, como as que acontecem atualmente, mas sim uma ocupação que era fruto de diversos fatores como, por exemplo loteamentos ilegais. “A região é muito bonita e é natural que as pessoas procurem estes locais.”

 Outra grande parte dos moradores pode ter vindo das favelas resultantes das construções da Via Anchieta. “O pessoal que trabalhava na obra acabava morando por perto e em condições precárias”, afirma Ramos.

 O grande estímulo para a migração para o local aconteceu entre os anos de 1972 e 1976, quando o então prefeito de São Bernardo, Geraldo Faria Rodrigues, criou um programa de apoio à moradia popular. “Ele incentivou as pessoas que moravam em barracos e favelas a irem para esta localidade”, afirmou Ramos. “A Prefeitura dava o material para as pessoas construírem.”

 

SIMPLICIDADE

 Após atravessar a primeira balsa, anda-se cerca de dois quilômetros numa estrada de terra para chegar ao primeiro aglomerado de casas. A zona é rural, cenas como gado pastando e homens entrando no mato para pegar algum bicho são comuns.

 Alguns mercadinhos e sacolões existem, mas os moradores do local não têm infra-estrutura como bancos, farmácias, cartórios e. desde fevereiro, nem agência dos Correios. Neste último caso, os moradores precisam se deslocar até o Centro para entregar ou receber suas cartas. “Entramos em contato com os Correios para solucionar o problema. O serviço deve voltar em breve”, afirmou Ramos. Na semana passada foi inaugurada uma UBS no local. O horário de atendimento é até as 19h.

 Para resolver quase todos os problemas do cotidiano é preciso ir até outros bairros de São Bernardo e, conseqüentemente, utilizar a balsa. O gasto com as três balsas que atravessam a represa gira em torno de R$ 2 milhões.

 A primeira balsa de interligação está em atividade desde 1981. O veículo é vistoriado no local anualmente pela Marinha e a cada quatro anos a seco, ou seja, fora da água. A última revisão desse tipo aconteceu em 2005.  

Marivaldo Mendes Veiga, 46 anos e Anderson Rubens Alexandre, 17 anos - Tio e sobrinho. Marivaldo veio de Ilhéus, na Bahia, com a esperança de conseguir uma oportunidade de emprego. “Diziam que São Paulo era a terra da oportunidade. Hoje vivo de alguns serviços como pedreiro”, afirmou. Anderson depende da balsa diariamente, pois estuda no Senai de São Bernardo. “Quando fui me alistar no Exército precisei sair daqui às 5h30 com medo de me atrasar”, disse. “O horário da apresentação era 7h30”, afirmou.

Rafael Pereira dos Santos, 14 anos - Ganha cerca de R$ 100 para cuidar de gado. A rotina do morador do bairro Tatetos é simples. De manhã ele cursa a 8ª série do ensino fundamental na escola Omar Donato Bassani, no bairro. À tarde leva os bois para pastar nas margens da represa. Atualmente são 17 animais. “Ainda não sei que profissão quero seguir”, afirmou. Com o dinheiro que recebe ele ajuda sua mãe a comprar mantimentos para casa. “Quando sobra algo eu compro umas roupas pra mim”, disse. Raramente utiliza a balsa.

Carlos Alberto de Casto Junior, 22 anos - Há três anos é cabeleireiro na região. Possui um salão de beleza onde trabalha sozinho. A renda gira em torno dos R$ 1.000. Toda segunda-feira ele utiliza a balsa para ir até São Bernardo comprar materiais como xampu e cremes para utilizar em seus clientes. “Com a balsa levo quase duas horas para chegar na cidade”, afirmou. “Se existisse um acesso fácil para a Rodovia dos Imigrantes este caminho não levaria nem 20 minutos”, disse.

Maria do Carmo, 50 anos - Morando há mais de 20 anos no núcleo Santa Cruz, esta dona de casa já se acostumou com o local. “Eu gosto de morar aqui, mas se o asfalto vier vamos ficar bastante satisfeitos”, afirmou. Para ela, complicado é ter de resolver os casos de saúde também em São Bernardo. “Se tem algum problema aqui não tem como ir correndo pra cidade”, disse. “Já vi muitas pessoas morrerem em cima da balsa”, afirmou. “Outro dia a balsa quebrou e eu fiquei quase quatro horas esperando”, lembrou.




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