Cultura & Lazer Titulo
Respeito à imagem
Luís Felipe Soares
Do Diário do Grande ABC
25/07/2011 | 07:56
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Se quando pensamos em cinema nos vem a imagem de famosos atores e atrizes ou o nome de visionários diretores, é preciso lembrar que grande parte do resultado final que chega às telas surge na cabeça dos fotógrafos. As ideias que passam por suas mentes são determinantes, por exemplo, para a escolha da câmera a ser utilizada para as filmagens ou a definição do tipo de iluminação mais adequado.

Destinado a dar a esses profissionais a sua devida importância, Antonio Leão da Silva Neto, de São Bernardo, catalogou diversos nomes em seu 'Dicionário de Fotógrafos do Cinema Brasileiro' (Imprensa Oficial, 160 páginas, R$ 30 em média). A publicação reúne cerca de 470 biografias que trazem informações pessoais e profissionais de figuras como Antonio Luiz Mendes, Renato Padovani, Carlos Egberto, Heloísa Passos, José Tadeu Ribeiro e Ruy Santos - não estranhe se nunca tiver ouvido falar deles.

"Fiz tudo do zero. É algo totalmente inédito", afirma Neto. "Até os anos 1930 não havia essa figura. Foi na época da Cinédia que começou a surgir esse trabalho mais especializado. Antigamente, o fotógrafo era o próprio cineasta."

As informações-base para o material surgiram em pesquisas que fez para obras anteriores, casos do 'Dicionário de Filmes Brasileiros - Longa Metragem'. Durante dois anos ele buscou dados na internet, vasculhou locais como a Cinemateca Brasileira e correu atrás de contatos. Um dos detalhes curiosos do livro é que mais de 100 biografias nasceram quando o autor recebeu currículos dos próprios fotógrafos, que lhe ajudaram a revisar o conteúdo.

Entre os diversos nomes nacionais e internacionais, talvez os mais complicados de se conseguir informações tenham sido dos irmãos Luis (Lulu) e José A. (Zequinha) Mauro, filhos do respeitado cineasta - e fotógrafo - Humberto Mauro. "As pessoas só falam do ‘velho'. Consegui o contato das filhas do Humberto, que me deram uma canseira tremenda. Depois de tanto insistir, acabaram me ajudando", conta o escritor. Destaque também para a definitiva divisão entre o famoso pernambucano Walter Carvalho e seu xará paulistano menos conhecido. "Foi um trabalho de ter de garimpar por tudo quanto é lado. Isso que deixa tudo mais bacana."

Nomes do passado e do presente se misturam entre as páginas. Elementos dos primórdios da sétima arte no País encontram espaço ao lado de personalidades do cinema novo e da contemporaneidade da retomada.

Essa viagem pelo tempo faz com que Neto aponte o período dos estúdios da Vera Cruz como um dos que mais se dava atenção ao trabalho desses profissionais que acabam ficando em segundo plano. O icônico 'O Cangaceiro' (1953) teve ótimo trabalho do prestigiado britânico Chick Fowle, também responsável por 'O Pagador de Promessas' (1962). De uma geração mais recente, ressalta o resultado visto em 'Central do Brasil' (1998) e em 'Cidade de Deus' (2002).

A homenagem aos fotógrafos do cinema nacional parece mais do que merecida. Segundo o escritor, "depois do diretor, ele talvez seja a pessoa mais importante em um set. Sem eles, não existe um filme". O dicionário é um projeto de referência que deve estar na prateleira de todo cinéfilo e apaixonado pela arte cinematográfica.




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