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Especialistas alertam pais sobre pedofilia
Fernanda Borges
Do Diário OnLine
15/09/2008 | 10:00
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A novela Chamas da Vida, da TV Record, aborda um tema que vem aparecendo com freqüência nas manchetes dos jornais: a pedofilia. Na trama, a autora Cristiane Fridmann destaca o crime do ponto de vista tecnológico, já que o fotógrafo Lipe (André Di Mauro) usa a internet para abordar suas vítimas e praticar a pedofilia. Umas delas será a jovem Vivi (Letícia Colin), de apenas 15 anos. Felizmente, o caso é apenas uma ficção, mas vai ajudar a gerar debates sobre o abuso sexual de menores.

Na vida real, a pedofilia continua a ser motivo de preocupação. No último dia 8, o sargento da Aeronáutica Danilo Dias Craveiro, 41 anos, foi preso em Diadema sob a suspeita de aliciar crianças. Segundo a polícia, o militar tirava fotos delas nuas com um celular. Craveiro confessou que sente atração por menores, mas afirmou que nunca teve contato físico com nenhum.

Outro caso que recentemente abalou os noticiários foi a prisão do engenheiro eletrônico Marcelo Adriano Barbosa, 42 anos, em São Paulo. Ele foi preso no dia 5, sob suspeita de molestar crianças e de fazer parte de uma rede de pedofilia.

Com todos esses casos, muitos pais se questionam como podem proteger seus filhos da pedofilia. Segundo a psicóloga e professora da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Maria Regina Domingues de Azevedo, as crianças que sofrem violência sexual apresentam diversos sinais, principalmente em relação a mudanças súbitas de comportamento. "Os pais devem ficar atentos, pois mesmo que seja uma criança segura e tranqüila, a vítima de abuso passa a ser insegura e medrosa, não quer ficar sozinha com determinadas pessoas e começa a se isolar dos amigos. Algumas apresentam até queda do rendimento escolar", alerta.

De acordo com a psicóloga, cada criança desenvolve uma forma de fugir do problema. "Algumas passam a ter cuidados exagerados com a higiene, como se o fato de tomar vários banhos por dia pudesse neutralizá-la do ato criminoso. Outras podem apresentar alterações de incontinência urinária e fecal, sem causa clínica", diz. Sono agitado, depressão e interesse repentino por assuntos relacionados ao sexo também são fatores apontados por Maria Regina. "Além disso, em alguns casos as crianças podem apresentar condutas extremamente infantis. Passam a chupar chupetas e a se comportar como bebês, no intuito de chamar a atenção dos pais".

Perfil - De acordo com a psicóloga, traçar o perfil de um pedófilo sem uma análise profunda é uma tarefa quase que impossível. "O abusador pode ter diferentes orientações sexuais, classes sociais, formações acadêmicas e estado civil. Além disso, existe a idéia de que o pedófilo é sempre um homem, mas as mulheres não podem ser descartadas", afirma. Por conta da dificuldade de identificação, o foco dos pais deve ser sempre a criança. "Os pedófilos são pessoas atenciosas e de agradável convivência social. Na dúvida, os pais devem investigar", diz.

Segundo ela, o importante é que os pais demonstrem confiança aos filhos, já que só dessa forma a criança terá coragem de denunciar. "Na maioria das vezes, a vítima sofre calada por medo de represália por parte do agressor. Esse temor gera marcas permanentes. Por isso, os pais devem procurar tratamento médico e psicológico e, principalmente, denunciar o caso às autoridades", defende.

Internet - Para Maria Regina, a rede mundial de computadores é uma das principais portas para a pedofilia. "Tirando os casos de abusos no meio familiar, os pais devem redobrar a atenção com a internet. Eles devem conversar com a criança, com uma linguagem adequada, mostrando que algumas pessoas não são confiáveis. Aqui vale a regra do não fale com estranhos, mesmo no mundo virtual", explica.

O alerta da psicóloga é confirmado pela SaferNet Brasil — uma entidade criada em 2005 para fiscalização de crimes e violações humanas na internet. Por meio da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos (www.denunciar.org.br), em parceria com o Ministério Público Estadual, a entidade recebeu, de janeiro a junho deste ano, 44.106 denúncias únicas (sem duplicação) de crimes na rede. Desse total, 27.883 (63%) são referentes à pedofilia ou pornografia infantil.

De acordo com o presidente da SaferNet Brasil, Thiago Tavares, as crianças precisam ser direcionadas pelos pais para utilização da web. "Toda criança precisa de orientação, principalmente no sentido de nunca publicar informações pessoais em sites que possam levar à identificação do local onde vive e da rotina da família", explica.

Segundo Tavares, as principais ferramentas utilizadas pelos pedófilos são os sites de relacionamento, salas de bate-papo e programas de mensagens instantâneas. "Para evitar problemas, os computadores devem sempre ser instalados nas áreas comuns da casa, onde os pais possam acompanhar a navegação do filho o tempo todo", enfatiza.

Para ajudar os pais nessa orientação, a entidade disponibiliza gratuitamente no site www.safernet.org.br a cartilha 'Diálogo Virtual', onde estão destacadas diversas dicas de segurança. No site, a entidade também realiza uma pesquisa para conhecer os hábitos dos internautas brasileiros em relação à segurança na internet.

"A pedofilia é um tema que passou a ter destaque no País, até por conta da CPI do Senado, que já quebrou o sigilo de 21.591 álbuns privados do Orkut [site de relacionamento do Google]. Mas é importante que o tema continue sendo tratado com prioridade", defende Tavares.

Ajuda - De acordo com a ginecologista e coordenadora do Pavas (Programa de Atenção à Violência e Abuso Sexual) da Prefeitura de São Bernardo, Maria Auxiliadora Figueiredo Vertematti, a pedofilia deve sempre ser denunciada, seja ela física ou virtual. Segundo ela, o gesto é a única forma de fornecer ajuda às vítimas dos abusos sexuais. "O tratamento oferecido pelo Pavas visa reintegrar a criança à vida social. Em alguns casos, esse tratamento pode durar anos, por isso a denúncia é fundamental para 'salvar' o menor o quanto antes", explica.

O Pavas foi criado em 2000, fruto de uma parceria entre a Prefeitura de São Bernardo e a Faculdade de Medicina do ABC. Segundo Maria Auxiliadora, no início o foco eram as vítimas adultas. "No primeiro ano, foram atendidas cerca de 80 pessoas. Destas, 45% eram menores de 18 anos. Dentro desta estatística, existia uma grande incidência de abusos ocorridos dentro do meio familiar. Por isso, no segundo ano, passamos a focar também o atendimento a crianças e adolescentes", explica.

Até agosto deste ano, o Pavas já atendeu 35 casos de estupro cometidos por desconhecidos, sendo que 12 vítimas eram adolescentes. Além disso, foram acolhidos 55 casos de abusos sexuais intra-familiar, todos contra crianças com média de idade entre cinco e seis anos. "Só conseguiremos reduzir esses índices quando os pais perderem a vergonha e criarem coragem de denunciar. Além de que, por meio do Disque-Denúncia, a pessoa não precisa se identificar. Essa é uma responsabilidade dos adultos em favorecimento da integridade humana das nossas crianças", destaca Maria Auxiliadora.

O telefone do Disque-Denúncia na cidade de São Paulo e região metropolitana é o 181. Para o resto do Estado, basta discar 0800-156315. 




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