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Bairro de presidentes e áreas verdes
Renan Fonseca
Do Diário do Grande ABC
25/04/2011 | 07:39
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Edmilson Magalhães/DGABC


O Parque São Vicente, em Mauá, fica entre uma das encruzilhadas mais importantes da mobilidade regional: as avenidas João Ramalho e Papa João XXIII - com ligação para o Trecho Sul do Rodoanel. A maioria das ruas é larga e faz homenagens a presidentes e vices da República. A arborização e áreas verdes dão personalidade ao bairro. Tanto que a menina dos olhos é o Horto São Vicente, espaço criado e mantido por movimento de moradores.

Ruas paralelas e que se cruzam parecem mais uma enciclopédia da política nacional: Nilo Peçanha, Marechal Hermes da Fonseca, Venceslau Brás, Afonso Pena, Arthur Bernardes e José Linhares. A maioria dos presidentes que passaram pela administração deste País tem seus nomes lembrados pelas placas das ruas do Parque São Vicente.

Os vice-presidentes também têm seu lugar nos logradouros. Andando pelas vias largas, porém mal sinalizadas (como criticam moradores), não é difícil fazer uma pausa em uma praça ou descançar debaixo de uma grande árvore. Até porque o Parque São Vicente possui sete praças e uma pista para caminhada.

O horto é uma área de aproximadamente 200 mil metros quadrados. O local é dividido entre terrenos que pertencem ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), AES Eletropaulo e outra porção de posse privada.

Por anos, o local foi depósito irregular de lixo. "Cansamos de pedir limpeza da área à Prefeitura. Por isso, resolvemos cuidar do terreno e transformá-lo em área de lazer", disse Renata Ribeiro, uma das representantes da Sociedade Amigos do Parque São Vicente. O local abriga três nascentes que compõem a Bacia do Tamanduateí.

Um pequeno playground foi construído pela associação, que também cuidou de plantar mudas de pau-brasil, abacateiro, araçá, flamboyant, ipê-amarelo, ipê-roxo, araucária, nespereira, amoreira, entre outras.

A associação agora briga pelo saneamento e cuidado de uma área pública, próximo à Avenida Papa João XXIII. "Ali temos outra nascente e é possível criar um parque. Não existe espaço de lazer no bairro, pois as praças não possuem sequer parquinhos para crianças", continou Renata.

CARNE DE AVES
A espinha dorsal da vizinhança é a Avenida Presidente Artur Costa e Silva. Farmácias, pet shops, açougues, restaurantes, padarias, mercados, bares e botecos. É ali que o cormécio ganha vida.

Entre uma casa de carne e outra, um estabelecimento ainda carrega a tradição e atenção no atendimento. A casa de carnes de Takeshi Igushi, 67 anos, foi um dos primeiros comércios da avenida e, também, do bairro.

O senhor japonês ainda carrega sotaque pesado na fala. Por isso é o filho, Eduardo, 27, que relembra a história do pai. "Meu tio tinha uma casa de carne de aves em São Paulo e deu a ideia ao pai quando ele veio para o Brasil." O estabelecimento funciona há mais de 30 anos. "Vem gente de todo lugar, São Paulo, São Caetano, Santo André. Muitos são freguezes antigos", afirmou Eduardo.

 

"A gente tinha de construir os poços artesianos", diz morador

Todo morador antigo de um bairro gosta de ressaltar a mudança local que presenciou. No Parque São Vicente, José Rivaroli Filho, 80 anos, não foi apenas um dos primeiros a chegar na vizinhança. Ele foi o fundador da Associação de Bairro e até hoje, mesmo fora da comissão, luta pela qualidade de vida do local.

Em 1963, como conta Rivaroli, poucas casas davam corpo ao incipiente Parque São Vicente. "Energia elétrica veio a muito custo. E a água vinha de poço artesiano, que a gente mesmo construía."

Ele também foi o responsável pela chegada da única linha municipal de ônibus (31-Parque São Vicente). "Isso foi lá pelo ano de 1970. Muitos moradores eram funcionários de empresas que ficavam no Centro, ou fora da cidade. A gente tinha que ir a pé até a Avenida João Ramalho", lembrou.

Rivaroli ainda hoje critica a falta de atenção do poder público com as áreas verdes do bairro. A idade, porém, não permite caminhar até a Prefeitura e reivindicar o que acha necessário.

"Aqui falta creche para nossas crianças. A administração tinha de cuidar melhor das nascentes, que já estão poluídas", ponderou.

 

Antes do urbano, lenha para as fábricas da nascente região

Do rural ao urbano, o Parque São Vicente teve eucaliptos, chamou-se fazenda Capitão João e transformou-se no segundo mais extenso loteamento de Mauá, só perdendo para o Parque das Américas.

Os eucaliptos quem plantou foi a família Bozzato, por autorização de Vicente de Paula de Almeida Prado, que por 35 mil réis, em 1935, adquiriu os 50 primeiros alqueires da área, então pertencentes a Xisto de Campos Jaussi.

É provável que o nome São Vicente do bairro faça alusão ao seu proprietário, Vicente de Paula, que efetuou duas compras de terras junto aos 50 alqueires iniciais, em 1939 e 1941. São as três áreas que formaram a fazenda Capitão João que, em 1942, passou a ser administrada por Francisco Ortega.

Os eucaliptos plantados pelos Bozzato serviam às grandes fábricas de então, que consumiam a lenha gerada em seus fornos industriais. Um dos casos, a Cerâmica São Caetano.

A planta urbana do Parque São Vicente foi aprovada em junho de 1963 em nome da loteadora, Almeida Prado S/A - Comissária e Exportadora, pelo decreto municipal n° 335.

Em 1977 entrevistamos Paulo Sidney de Morais. Ele administrava uma imobiliária do bairro e nos contou que o Parque São Vicente começou a existir antes da aprovação da planta.

"Enquanto o processo corria, a Almeida Prado foi providenciando o corte dos eucaliptos. Planta aprovada, começaram a ser abertas as ruas."

TRANSFORMAÇÃO
Da primeira parte do loteamento, 2.542 lotes. Os 332 lotes da gleba 1, junto à Avenida João Ramalho, foram vendidos em 30 dias. Um dos compradores de vários lotes foi o comerciante Skenaro Nakandakare, dono de uma rede de supermercados em Mauá, que construiu uma luxuosa residência.

Os 1.726 lotes iniciais estavam vendidos em 1973. Os demais foram vendidos posteriormente, em ruas que homenageiam nomes de vice-presidentes da República brasileiros. Várias áreas foram doadas pelos loteadores, destinadas à construção de duas escolas, igreja católica, estádio municipal e alargamento das Avenidas João Ramalho e Papa João XXIII.

Da história do Parque São Vicente, um ponto referencial foi o cruzeiro de madeira, confeccionado por um dos moradores pioneiros, Pedro Lopes, que não usou um prego sequer na obra - o cruzeiro foi todo parafusado.

Erguido em 1965, o cruzeiro marcou o espaço da construção da primeira capela, com um detalhe: ninguém sabia se a imobiliária iria mesmo oferecer o terreno, gratuitamente. A doação foi confirmada pelo próprio Almeida Prado, em telefonema dado ao padre Olavo, à época atuando em Mauá e que depois seria transferido para a Vila Barcelona, em São Caetano. (Ademir Medici)




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