Setecidades Titulo Lá no meu bairro...
Pescadora do Riacho ajuda colegas de profissão

Associação fundada por Vanderléa Rochumback, Capatazia auxilia a deixar a documentação dos profissionais em dia

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
04/11/2014 | 07:00
Compartilhar notícia
Orlando Filho/DGABC


O Riacho Grande é um bairro tradicional de São Bernardo, onde está localizada a Represa Billings, que abastece parte do Grande ABC. Por causa do clima praiano, o local também acaba sendo um dos preferidos para lazer, com atividades como pescaria e passeios de barco e jet ski.

Para Vanderléa Rochumback Dias, 47 anos, a relação com a represa vai além, sendo ela extremamente necessária para sua família. Vanderléa é pescadora profissional e também preside a Capatazia São Bernardo, entidade que auxilia pescadores para tirar documentos, como renovação da carteirinha, e auxilia em benefícios da Previdência Social.

A atividade vem de família, já que Vanderléa faz parte da terceira geração de pescadoras. “Minha avó e minha mãe já pescavam, mas dos meus cinco irmãos, eu era a única que fugia para ir pescar com o meu pai. Nasci em Santo André, mas minha família morou em barco até os meus 4 anos. Tanto que só fui pisar mesmo na terra com essa idade.”

Ela também se casou com um pescador, que veio trabalhar com o seu pai, aos 16 anos. Atualmente, Vanderléa é viúva e mãe de quatro filhos.

A pescadora conta que a Capatazia foi fundada por causa da fiscalização, na época em que ela saia para pescar com o barco do marido. “No registro da embarcação tem que estar tudo certinho, inclusive o motor. Eu e minha filha saímos para pescar e trocamos o motor do barco, já que o outro não estava funcionando. Fomos paradas pela fiscalização e tudo foi apreendido.”

Por causa disso, ela demorou dois meses para recuperar o barco e viu a necessidade de orientação dos trabalhadores. “Nossa colônia mais próxima fica em Santos, e fiquei me deslocando até lá para resolver isso. Até mesmo para receber minha licença-maternidade tive que ir duas vezes para o Litoral. Conversei com o presidente de lá e vi a necessidade de criar algo por aqui.”

A Capatazia foi fundada em 2008 e é uma extensão da Colônia de Pescadores José Bonifácio, localizada em Santos. Atualmente há cerca de 300 pescadores cadastrados.

“No começo foi difícil porque eu e a minha filha de 28 anos saíamos para pegar os dados de todos, e muita gente não queria nem saber, dispensava a gente mesmo. Fomos conquistando a confiança dos pescadores pouco a pouco”, afirmou.

A partir desta semana até fevereiro, não se pode mais pescar na represa. Isso porque é a época de reprodução dos peixes, o que paralisa as atividades. Por causa da data, Vanderléa estava na correria com a documentação dos pescadores.

“Isso porque nesse período eles recebem um salário para não ficar desamparados, já que não vão poder pescar. Os trâmites são todos feitos por aqui”, disse.

Questionada sobre a profissão, da qual ela tem muito orgulho, respondeu que não conseguiria viver sem a pesca e sem a Billings. “Não consigo me ver longe daqui. Não largo por nada. Muitos deles não sabem ler e escrever e eu sinto prazer em ajudar e mostrar a toda a sociedade o valor de cada um.”

Restaurante Netuno é o mais antigo

No Riacho Grande é comum avistar as tradicionais embarcações aportadas na beira da represa que funcionam como restaurantes. O Flutuante Netuno é o mais antigo do ramo e completará 40 anos em dezembro.

Os donos são os irmãos Márcio e Mauro Conti, que compraram o estabelecimento quando ainda não era uma embarcação. “Antigamente tínhamos uma lanchonete no Rudge Ramos e frequentávamos muito a Prainha para lazer. No ponto havia uma casa ribeirinha, que compramos parcelada em 12 vezes. Antes de pagarmos a nona parcela, o imóvel afundou”, lembra Márcio, 65 anos.

O barco em que o restaurante funciona hoje foi comprado pelos irmãos no bairro Eldorado, em Diadema. O ambiente chama tanto a atenção que já foi palco de duas cenas da minissérie da Rede Globo exibida em 2013, A Mulher do Prefeito, com os protagonistas Tony Ramos e Denise Fraga.

As especialidades do local são baseadas especialmente em peixes e frutos do mar, como a tábua de peixes com cação, merluza, abadejo e tilápia e a porção de costelas de tambaqui, que entraram neste ano no cardápio.

O local chega a receber em um fim de semana ensolarado média de 600 pessoas, sendo a maior movimentação no domingo. “A nossa temporada começa agora, com a chegada do calor. Dependemos do tempo para ter um bom movimento.”

Apesar de ser o charme do local, a manutenção do barco dá muito trabalho. “Como tem muita umidade, acaba sofrendo corrosão e temos que fazer reparos. Além disso, temos que pintar toda a estrutura de dois em dois anos, o que gera custos.”

Ele também comentou sobre o nível da represa, que baixou por conta da estiagem. “Já tivemos que recuar o barco por dois metros e meio neste ano.”

Advogado promove turismo ecológico

O advogado ambientalista Gilberto Pereira Guedes, 59 anos, mantém um hobby e uma ocupação diferentes com a ajuda da represa. Morador do Riacho Grande, ele realiza passeios em seu barco, a escuna Luareia, com o intuito de incentivar o turismo ecológico.

Guedes tem o mesmo barco há 14 anos, porém, navega há 45. “Comecei por causa do Parque Estoril. Ia visitar e tinha essa admiração por barcos. Estava com 14 anos quando comprei minha primeira embarcação, que era de madeira e a remo. Só depois veio o motorzinho. Também velejei um bom tempo na Guarapiranga e no mar”, contou.

Mesmo seguindo a profissão de advogado, Guedes nunca pensou em abandonar a navegação. Atualmente realiza média de dois passeios por mês, visando grupos que se interessem pela educação ambiental.

“Estou na estrada há muito tempo e, mesmo que tenha a questão do lazer, atualmente o meu foco é mais o lado ambiental mesmo. Nesta semana, por exemplo, levei um grupo de alunos da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) para conhecer toda a rede de abastecimento aqui da represa. Isso é muito importante para a conscientização das novas gerações sobre a importância dos mananciais”, afirmou.

Atualmente, com todo o Estado enfrentando uma das maiores secas da história, o advogado demonstra grande preocupação com a represa do Grande ABC.

“Por mais que a gente perceba que o nível baixou, o que é bastante preocupante, ainda não temos a mesma situação do Sistema Cantareira. Isso se deve principalmente à quantidade de mata ciliar preservada, o que acaba ajudando na umidade. O desmatamento vem se agravando desde a década de 1970, e é um perigo para o meio ambiente”, explicou.

Guedes já morou em São Caetano e atualmente mantém seu escritório no Centro de São Bernardo, mas não troca o Riacho Grande por nada. “Gosto muito do clima e das pessoas daqui, praticamente conheço todo mundo. Em relação ao meu futuro, ainda não decidi com certeza, a única coisa que sei é que vou continuar navegando.”  




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;