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Barriga de aluguel é encontrada na região por até R$ 200 mil
André Vieira e Vanessa Fajardo
26/07/2009 | 07:29
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Oferecer o útero para gestar o filho de outra pessoa por dinheiro é prática proibida no Brasil, mas recorrente. Contratar uma barriga de aluguel no Grande ABC custa entre R$ 100 mil a R$ 200 mil, fora as despesas médicas e o procedimento de inseminação artificial, que podem chegar a até R$ 20 mil conforme o padrão das clínicas ou hospitais.

Doze mulheres da região anunciaram o serviço pela internet. Há telefones, e-mails e até endereços para contato. Basta uma busca rápida para localizá-las. E em muitos casos, é o marido quem negocia.

Casada e mãe de um "menino lindo de quatro anos", uma candidata que mora em São Bernardo contou que nunca fez isso antes, mas recorreu ao desafio "devido à falta de dinheiro".

No mesmo desespero financeiro, uma mulher de Santo André, que ainda não teve sequer seu próprio filho, afirmou que está disposta a carregar por nove meses uma criança na barriga e experimentar pela primeira vez as dores e os prazeres da gravidez por outra família. "Tenho plena consciência do que se trata." E noção de mercado também: "Quero R$ 100 mil".

Por telefone, o Diário falou com uma moradora do Parque Novo Oratório, em Santo André, que aceita se submeter à tarefa de servir como barriga de aluguel. Desempregada, Maria (nome fictício), 28 anos, contou que tem três filhos, todos de parto normal. "Um tem 9, outro tem 3 e uma tem 1 ano e dez meses. Todos estão comigo."

Sem rodeios e se dizendo esclarecida sobre o assunto, a mulher contou que aceitaria a gravidez de substituição por R$ 200 mil. O pagamento integral poderia ser feito em até três vezes. Nesse caso, cada mês de gestação custaria pouco mais de R$ 22 mil.

O anúncio com o oferecimento do ventre para realizar o sonho de famílias que biologicamente não podem gerar filhos foi colocado há 20 dias. A mulher contou que, antes do contato do Diário, recebeu quatro telefonemas.

Em uma das tentativas de negociação, Maria declinou por causa do modelo da gravidez que os clientes queriam. "Encontrei com um casal. O problema era que eles queriam fazer a inseminação com meus óvulos. Eu não quis porque assim ficaria sendo meu também."

O inevitável laço com o feto é o desafio emocional que diferencia a gravidez comum da forjada por relação comercial. Para a professora da Faculdade de Psicologia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) Ida Kublikowsy, a ausência de expectativas sobre a criança por parte da mãe de aluguel é um mecanismo de defesa para não alimentar vínculos afetivos.

"É uma gestação que se começa sabendo que não é sua. Quando uma mulher engravida, ela faz planos para o futuro, compra enxoval, pensa no quarto, e isso não vai acontecer com a mãe de barriga de aluguel."

Anúncios estão em site de classificados gratuitos
O texto de anúncio das mulheres dispostas a serem barrigas de aluguel é, em geral, direto e objetivo. Basicamente, informa que a dona do ventre é saudável, como os filhos que quase todas dizem ter, enfatiza que a hospedeira não tem vícios e garante absoluto sigilo.

A motivação financeira é a justificativa em todos os classificados. Alguns até já estabelecem o preço do serviço.

Em um único site de anúncios grátis, o Diário localizou 12 ofertas no Grande ABC: cinco em Santo André, quatro em São Bernardo, duas em Diadema e uma em São Caetano.

O site não oferece qualquer tipo de restrição para anunciar. Basta um cadastro feito em menos de um minuto, até mesmo com dados falsos, para que o usuário tenha permissão de postar qualquer informação.





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