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'Depois do Ensaio' tem ligação com Ingmar Bergman
15/10/2014 | 08:00
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A montagem de Depois do Ensaio é a concretização de um sonho antigo. A diretora Mônica Guimarães pensou no projeto quando viu o filme de Ingmar Bergman, de 1984, na Mostra Internacional de Cinema São Paulo, em 85. Na época, o plano era fazer como atriz, ao lado da veterana Myriam Muniz, de quem se aproximou durante seu processo de formação no Teatro Escola Macunaíma. "Mas não conseguimos os direitos", explica Mônica.

O projeto só foi retomado em 2008, quando o filme Você Vai Atuar esta Noite?, centrado no ator Erland Josephson, ganhou exibição no Festival É Tudo Verdade. Mônica já trabalhava como produtora no festival de documentários realizado por Amir Labaki e a figura de Josephson - que atuou no filme de Bergman com Lena Olin e Ingrid Thulin - trouxe à tona o desejo de encenar Depois do Ensaio. "Eu e Amir entramos em contato com o Ingmar Bergman Foundation e adquirimos os direitos", relata Mônica. Amir assina a tradução do texto, diretamente do sueco, em parceria com Humberto Saccomandi. O resultado de tanto esforço está à disposição do público carioca, no aconchegante teatro Oi Futuro/Flamengo. Inserido na programação do Tempo_Festival, o espetáculo permanecerá em cartaz após o término do evento.

Ao resgatar o projeto, Mônica decidiu dirigir ao invés de atuar. "Quis que a montagem priorizasse o trabalho do ator, sem nada de grandioso", sublinha. No elenco, estão Denise Weinberg, Leopoldo Pacheco - atores com experiência acumulada no teatro - e Sophia Reis. Leopoldo interpreta Henrik Vogler, diretor teatral envolvido com os ensaios da peça O Sonho, de August Strindberg, que trava embate com Anna (Sophia), atriz que protagoniza a montagem. Em determinado momento, Raquel (Denise), mãe de Anna, que fez o mesmo papel da filha, aparece em possível devaneio. "Vejo Depois do Ensaio como um Bergman reflexivo e mais tranquilo que Persona ou Fanny e Alexander", diz Mônica, citando outros dois célebres filmes do diretor sueco.

Atriz acostumada a lidar com textos sólidos, característica relacionada à sua longa trajetória dentro do Grupo Tapa, Denise Weinberg interpreta agora a primeira personagem de Bergman em sua carreira. "Fico impressionada quando me deparo com pessoas extremamente sensíveis que têm muita dificuldade de levar a vida real adiante. É algo que Raquel evidencia", declara Denise, que também se identifica com o texto de Bergman por causa da conexão entre o universo teatral e as relações humanas. "O teatro propicia encontros profundos, e não fugazes - como nos dias atuais", afirma Denise, que volta a dividir o palco com Leopoldo após a montagem do Tapa para A Megera Domada, de William Shakespeare, encenada em 1991.

A saída do Tapa não fez com que Denise Weinberg se afastasse da prática teatral. Continuou atuando com frequência, apesar de reconhecer os obstáculos crescentes para seguir em atividade. "Eu vivia de teatro. Hoje não há mais como garantir o sustento por meio da bilheteria", ressalta. Para ela, a situação parece mais complexa do que a crise atravessada pelo teatro. "É urgente repensar a educação no Brasil. O nivelamento por baixo me entristece. Além disso, as pessoas não ficam uma hora sem ligar o celular. Falta calma interior", constata Denise, que firmou vínculo com a Velha Companhia, de Kiko Marques, a exemplo da montagem de Salamaleque, dirigida por Denise e Kiko.

A encenação de Depois do Ensaio estreou como um dos destaques do Tempo_Festival - capitaneado por Bia Junqueira, Cesar Augusto e Marcia Dias - que ocupa espaços do Rio até o próximo dia 19 com uma programação de espetáculos nacionais e estrangeiros. Na seleção brasileira, vale chamar atenção para Carne, reunião de instalações concebidas por Daniela Amorim e Karine Teles, sobre o corpo feminino.

Na internacional, cabe mencionar Matéria Prima, da companhia espanhola La Tristura, com elenco composto por crianças; Islândia, da também espanhola companhia La Veronal, coletivo - integrado por artistas de dança, cinema, teatro e literatura - que, nesse trabalho, se debruça sobre o valor da imagem na sociedade atual; Super Premium Soft Double Vanilla Rich, do grupo japonês Chelfitsch, que contrasta a temática do consumismo com a música de Bach; e o espetáculo inglês Don Quijote, performance de Keir Cooper e Tom Frankland, apropriação do personagem de Cervantes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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