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Sonho de jogar futebol vira pesadelo para jovens
Deborah Moreira
Do Diário do Grande ABC
29/03/2011 | 07:14
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Fernando Nonato/DGABC


Bola no pé e um sonho na cabeça: se tornar jogador de futebol. Foi o que trouxe para o Grande ABC jovens de Lagoa da Pedra, cidade do interior do Maranhão, região central do Estado. Aqui, tentaram reduzir a idade no documento para passarem pelas peneiras de sub 15 e sub 17. Foi nesse momento que foram pegos, na sexta-feira. A história seria igual a de tantos outros não fosse pelo fato de serem tão numerosos: dez.

Nove deles são menores de idade e foram encaminhados para o Espaço Andança da Fundação Criança de São Bernardo, onde destoam das demais crianças. "São muito educados, tranquilos e têm um cuidado muito grande um pelo outro. São muito amigos", revela Maria Helena Placeres Simões, gerente do local.

Eles têm residência fixa e tinham autorização dos pais e até do Conselho Tutelar local. Estavam morando no Parque São Bernardo, em São Bernardo, há nove dias. Dizem estar matriculados no Ensino Médio e frequentar a escola. O dinheiro para a empreitada foi conseguido pelas famílias.

Se arrependem de ter adulterado a idade, mas não de terem vindo. Apesar de serem apanhados em flagrante cometendo a prática conhecida como gato no esporte, não querem voltar para casa sem ao menos terem tentado. "Sonho é sonho. Não vamos desistir. Estamos à disposição dos times. Só queremos chance para mostrar nosso futebol", afirma P.C.S., 16 anos, que se tornou porta-voz do grupo, que há três anos atua no Tigres do Lago, time da escola de futebol do município.

Bem articulado, o aspirante a atacante lamenta a prisão do amigo A.F.S.F., 18, único maior, que está detido, que queria reduzir a idade para 16. "Ele é como se fosse nosso segundo pai. Sempre nos dá conselhos e puxa as orações nas refeições e antes de dormir", conta o maranhense, que vive com a mãe, o padrasto e irmão mais novo. A família se mantém com renda de cerca de R$ 1.200. O pai, que apresentou o futebol para P., trabalha em um garimpo no Suriname e não o vê desde o aniversário de 9 anos. Mas sempre que pode liga para ele.

Já P.H.P.S, 17, que joga como volante, mora com a família em um sítio no povoado de Lago da Cotia, a cerca de três quilômetros de Lagoa da Pedra. Frequenta a escola de futebol aos sábados. Durante a semana ajuda o pai na roça. "Mas tem pelada todos os dias perto de casa, no fim da tarde. Não dá para ficar sem jogar", conta P.H, que aprendeu a jogar aos 9 com os amigos. Bem como o lateral-direito F.F.S.A., 16, criado por uma tia, depois que os pais se separaram.

Nenhum deles quer voltar. A não ser o meia-esquerda M.A.S., 16, que sabe jogar bola desde os 5, quando o pai, formado em Educação Física e atual professor da escola de futebol, o ensinou. "Estou com saudades da minha família. Nem contei nada para minha mãe, que é muito preocupada", diz.

Expectativa é que meninos possam voltar para casa 

Casos como o dos meninos do Maranhão têm tudo para ter um final feliz, pelo menos no que diz respeito à tentativa de mudar a idade, segundo relato de profissionais da área. Eles não possuem antecedentes criminais e conseguem comprovar residência fixa.

"Trata-se de ato infracional sem violência. Por isso não estão detidos, mas sim acolhidos por medida protetiva, já que não têm um responsável maior de idade com eles", explica Ariel de Castro Alves, presidente da Fundação Criança.

Agora, o MP (Ministério Público) vai ouvi-los. "Em casos semelhantes a esse, se não tiver elementos suficientes, o MP pode conceder remissão, que é uma espécie de perdão, e pedir arquivamento" , explica o juiz Luiz Carlos Ditommaso, da Vara da Infância e Juventude. Se forem aplicadas medidas socioeducativas, como prestação de serviço à comunidade, devem cumprir na cidade de origem. "A expectativa é que eles consigam retornar para suas famílias ainda nesta semana", disse Ditommaso.




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