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Inflação atinge 6,75%,
maior índice desde 2011

Esta é a segunda vez seguida que IPCA
ultrapassa o teto da meta, que é de 6,5%

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
09/10/2014 | 07:24
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André Henriques/DGABC


A inflação de setembro estourou o teto da meta do governo federal e atingiu 6,75%, no acumulado dos últimos 12 meses, informou ontem o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O percentual é o maior desde outubro de 2011, quando a alta dos preços dos produtos e serviços alcançou 6,97%. Especialistas consultados pelo Diário se surpreenderam com resultado e apontaram que, seja qual for o governo que assumir em 2015, terá de tomar medidas para que os custos não fujam do controle.

Esta é a segunda vez seguida que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), considerado a inflação oficial do País, ultrapassa o teto da meta, de 6,5%. Em agosto, atingiu 6,51%.

As expectativas do mercado financeiro, no entanto, apontavam para resultados menores do que os apresentados ontem. O boletim Focus, do BC (Banco Central), que reúne as projeções de cerca de 100 analistas, divulgou na segunda-feira perspectiva de 0,44% para a inflação de setembro – que encerrou o mês em 0,57%. Para se ter ideia, eles esperam que 2014 encerre em 6,32%.

“Surpreende e muito. Não havia ninguém esperando por isso. A verdade é que as previsões mais pessimistas não falavam disso”, disse o professor de Economia da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) e diretor-presidente do Instituto Fractal, Celso Grisi. “A verdade é que se a equipe do (candidato à Presidência) Aécio (Neves, do PSDB) aproveitar (o resultado da inflação), isso pode influenciar no segundo turno.”

Para o professor de Economia da Fundação Santo André Volney Gouveia, a inflação, além de surpreender as expectativas da maioria dos economistas, “acende sinal de alerta”. “Inclusive derruba uma tese da atual política monetária do governo federal de que é possível reduzir a inflação com o aumento dos juros (alta da Selic, atualmente em 11%).”

A imagem que transparece é que o governo federal deixou um pouco de lado o controle inflacionário para dar mais valor à taxa de desemprego reduzida, avaliou o economista e professor do curso de Administração da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) José Eduardo Amato Balian. Para ele, o próximo governo terá que administrar muito bem a política econômica para contornar a inflação e trazê-la ao centro da meta, que atualmente é de 4,5% no fim de cada ano.

Para os especialistas, com o resultado do IPCA de setembro, aumentou a chance de o governo não conseguir segurar a inflação dentro do teto da meta, que é de 6,5%. Principalmente porque o último trimestre tem uma pressão natural de demanda por causa da proximidade do fim do ano e das festas, como Natal e Ano-Novo. No entanto, destacam que, em setembro, a inflação foi provocada, principalmente, pela queda na oferta puxada pelos alimentos, que sofreram com a entressafra e a estiagem, além dos estímulos do governo ao consumo, que ajudam a ampliar a demanda.

Em nota de áudio da coletiva de divulgação da inflação, a coordenadora do índice de preços do IBGE, Eulina Nunes, afirmou que os alimentos tiveram maior influência no IPCA de setembro, após quedas de três meses, com alta de 0,78% (em agosto, havia recuado 0,15%). “Em particular, neste mês de setembro, a influência vinda das carnes, que tiveram os seus preços elevados em função dos pastos, principalmente, que estão secos, e também da exportação. O Brasil é o primeiro exportador de carnes, e isso exerce pressão (quanto menos produto no mercado interno, e manutenção da demanda, maior o preço).” Os cortes subiram, em média, 3,17%, ante 0,43% de agosto.

CUIDADO - Gouveia destacou ainda que o próximo governo terá que trabalhar muito bem a política monetária, tendo em vista que mais altas nos juros podem retrair mais o consumo, estimular a entrada de capital estrangeiro volátil no País, o que pode gerar desvalorização do dólar e prejudicar as empresas exportadoras. “No fim, afetará até o emprego.”


Cebola é o item que mais encarece

As principais altas mensais da inflação de setembro foram a cebola, de recuo de 0,55% no seu custo em agosto para alta de 10,17% em setembro. Na sequência, aparecem a cerveja (em casa), de 0,37% para 3,48%, as carnes, de 0,43% para 3,17%, a farinha de mandioca, de 1,42% para 2,52%, e as frutas, de -1,96% para 2,11%.

Segundo o instituto, essas variações se enquadram na cesta de consumo das famílias brasileiras com renda média entre um (R$ 724) e 40 salários mínimos (R$ 28.960).

O grupo de despesas com alimentação e bebidas encareceu 0,78%, contra queda de 0,15% em agosto. Os vestuários também tiveram alta nos preços, de -0,15% para 0,57%. Os gastos com habitação, em contrapartida, recuaram de 0,94% para 0,77%. Os artigos de residência, de 0,47% para 0,34%.

Para se locomover, em média, as despesas dos brasileiros aumentaram 0,63% no mês passado, contra 0,33% em agosto, segundo o resultado grupo transportes. Gastos com saúde e cuidados pessoais desaceleraram de 0,41% para 0,33%. Na mesma esteira, com educação baixaram de 0,43% para 0,18%. As despesas pessoais passaram de inflação de 0,09% para 0,39% e os gastos com comunicação se elevaram em 0,13%, contra 0,10% no mês anterior.

O IPCA para a Grande São Paulo passou de 0,18%, em agosto, para 0,65% em setembro, com acumulado em 12 meses de 6,66%. 




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