Setecidades Titulo Do formal ao informal
PcDs veem desafios no mercado de trabalho

Segundos dados SIT, o Brasil tinha, em janeiro de 2024, cerca de 545 mil formalmente empregados

Gabriel Gadelha
Especial para o Diário
26/05/2025 | 08:15
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FOTO: André Henriques/DGABC

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Questionamentos sobre a capacidade, promessas vazias de vagas “mais adequadas” e comentários que infantilizam ou idealizam a condição são parte da rotina do PcD (Pessoa com Deficiência) que busca ou tenta manter um emprego. 

No Grande ABC, vivem 201.375 pessoas com algum tipo de deficiência — 7,3% da população total da região, segundo dados do Observatório dos Direitos da Pessoa com Deficiência. As mulheres são maioria, representando 64% desse grupo (128.913 pessoas), enquanto os homens somam 72.492. 

Para Adriel Sampaio Molina, 47 anos, servidor público e conselheiro municipal dos direitos da pessoa com deficiência em São Bernardo, a acessibilidade começa antes mesmo do trabalho. Molina sofreu um acidente de carro no final da década de 90, que resultou na amputação abaixo do joelho direito, ele descreve a dificuldade de simplesmente chegar ao emprego. “Carros nas calçadas, lixo, rampas obstruídas, gente que não respeita a faixa, o semáforo, e, quando chove, tudo piora. É insuportável às 7h enfrentar tudo isso.” Embora se sinta acolhido em sua atual função na Secretaria de Educação, Adriel relembra empregos anteriores com falhas de comunicação e pouco preparo das equipes para lidar com a diversidade.

Thyago Ornellas Dias, 38, é surdo de nascença e preside a Associação de Surdos de São Bernardo. Apesar de ter investido em formação e qualificação profissional, enfrentou diversas barreiras para conseguir um emprego formal. “No caso específico da comunidade surda, as barreiras são ainda maiores por causa da falta de acessibilidade linguística e do desconhecimento sobre a cultura surda”, explica. Em muitos casos, não há intérpretes, os colegas não sabem Libras, e as ferramentas de comunicação são inacessíveis. A exclusão levou Thyago a migrar para o trabalho informal com motorista de aplicativo. 

Já Gabriel Rodrigo da Silva, 35, tatuador de Santo André, seguiu o caminho informal por escolha. Ele perdeu o braço esquerdo na infância por conta de um erro médico. Silva encontrou na arte da tatuagem um caminho para driblar o preconceito. “No começo, um tatuador mais antigo me disse: ‘tatuador é um querendo arrancar o braço do outro. Você não vai ter espaço’. Aquilo me desanimou, mas depois só me deu mais vontade de provar que ele estava errado.” Gabriel hoje é reconhecido e atende um público fiel em seu estúdio.

AUTISMO

O Censo Demográfico 2022 identificou 2,4 milhões de brasileiros com diagnóstico de TEA (Transtorno do Espectro Autista), o equivalente a 1,2% da população. Os dados são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e marcam a primeira vez que o Censo inclui informações detalhadas sobre o TEA.

De São Bernardo, Pedro Lopes Gasperetti, 22 anos, estagiário de comunicação e autista, destaca que sua condição não o limita — pelo contrário, sua atenção aos detalhes é um diferencial. “Muitas vezes, eu faço as tarefas melhor que os outros”, afirma. Ele aponta que dificuldades em entrevistas e ambientes barulhentos ainda são barreiras.

LEGISLAÇÃO

Mesmo com a existência da Lei de Cotas e garantias previstas pela Constituição e pela Lei Brasileira de Inclusão, o que se vê na prática é que acessibilidade, respeito e oportunidades reais são escassas.

“A Lei de Cotas (art. 93 da Lei nº 8.213/91) estabelece que empresas com 100 ou mais empregados devem reservar entre 2% e 5% das vagas para pessoas com deficiência ou reabilitados do INSS”, explica Stephanie Almeida, advogada trabalhista. O não cumprimento dessa obrigação pode resultar em multa administrativa, segundo a especialista.

Segundo dados da Secretaria de Inspeção do Trabalho, o Brasil tinha, em janeiro de 2024, cerca de 545 mil PcDs formalmente empregadas.




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