Em Matrix Reloaded, a atual febre nos cinemas brasileiros, há uma seqüência de mais de 15 minutos que revoluciona toda a noção de perseguição de carros na história do cinema. Nela, dois modelos Cadillac, o Sedã CTS e o Escalade EXT, protagonizam lances de tirar o fôlego que certamente irão agradar em cheio ao público que gosta de carros e efeitos desse gênero. Durante décadas o cinema tem mostrado cenas incríveis que envolvem carros e velocidade, de maneiras diferentes e muitas vezes bizarras. Mas nenhuma delas se compara, em ação, ao o que Matrix traz. E olha que esta é uma longa história.

O automóvel e o cinema nasceram quase ao mesmo tempo, lá pelo final do século XIX. Desde então, têm bailado juntos pelas telas do mundo nas mais diversas situações. Lembra dos Packard pretos cheios de gangsters cuspindo balas e derrapando pelas ruas da Chicago dos anos 30? E das trapalhadas da dupla Gordo e Magro ao volante do famoso modelo T? O fato é que os carros sempre ajudaram a retratar um período ou mesmo o caráter dos personagens.

Ainda no período do cinema em branco e preto, mocinhos e bandidos sempre apareciam em carros grandes e pretos e as moçoilas em carros menores e mais claros. Com a crescente hegemonia americana a partir dos anos 50, o carro foi se transformando no grande símbolo do “sonho americano” e sua presença nas telas cresceu proporcionalmente. Junto com as tomadas de grandes planos vieram as estradas sem fim e os enormes rabos de peixe, aqueles petroleiros maravilhosos dos tempos em que o preço do combustível não era problema.

E como a vida costuma imitar a arte, em 1957 o cinema perdeu seu primeiro ícone jovem, James Dean, num acidente pavoroso com seu Porsche Spider. Foi dele a famosa cena do racha em Juventude Transviada na qual ele consegue abrir a porta e escapar da morte no último segundo antes do seu Mercury 49 cair no precipício. Seu oponente no filme não teve a mesma sorte.

E Rota 66? Os mais jovens talvez não se lembrem do seriado de TV em que dois amigos perambulavam pela famosa estrada que corta os EUA de costa a costa a bordo de uma Corvette, no melhor estilo espírito On the Road.

No cinema, a perseguição de carros clássica começou com o Mustang 68 pilotado por Bullit (Steve McQueen) detonando pelas ruas de São Francisco. É este gênero que está sendo reinventado agora por Matrix Reloaded.

Mas foi fora dos EUA, entretanto, que se formou a mais famosa e duradoura associação entre herói e automóvel. O felizardo James Bond, o agente 007 criado por Ian Fleming, pilotou modelos fantásticos nos últimos 40 anos. Como resistir ao jovem Sean Connery horrorizando com um Aston Martin belíssimo e cheio de truques. As moças (e senhoras também) se derretiam quando ele parava o carro e soltava o sonoro Meu nome é Bond, James Bond.

Novos, potentes e bonitos, homens e carros produziam uma simbiose irresistível. Em alguns casos, o uso dos modelos era uma maneira de valorizar o produto nacional. O agente britânico James Bond por muitos anos dirigiu o inglês Aston Martin. Depois deixou-se seduzir pelo alemão BMW Z3 e depois pelo Z4. Detetives franceses sempre aparecem ao volante de um Citröen ou Renault. Mas foram os americanos que mais dedicaram espaço para automóveis em seus filmes. Lembra do Du Lorean no De Volta para o Futuro I, II e III?. Do Volvo Coupe S90 em O Santo, do Pontiac do seriado A Super Máquina. E como esquecer do Batmóvel, do Match 5 no desenho Speed Racer ou do bólido cor de rosa da Penélope Charmosa...e por aí vai.

Mais do que confirmar o charme do galã, as marcas e modelos que aparecem na tela fazem parte de uma estratégia de marketing voltada para quase todo o planeta. Cada detalhe que a indústria do cinema incorpora ao seu produto (os filmes) faz parte de uma extensa operação de mercado. Com os Cadillac que aparecem em Matrix Reloaded não é diferente. Para quem gosta de carro e cenas de perseguição é realmente uma grande exibição. Já os fãs de motos vão curtir a Ducati 996 que aparece pilotada por uma gata vestida com roupa sintética preta. A cena é de tirar o fôlego.

Se tudo é marketing, situações alucinadas com carros e motos sugerem, muitas vezes, a qualidade dos produtos. As alfinetadas ficam por conta da associação de modelos e marcas aos vilões da trama. Em Matrix, por exemplo, eles descem de um carro que, mesmo com a tomada feita no escuro, é possível perceber que se trata de um Audi.

Se a Cadillac busca aumentar sua presença além das fronteiras americanas, nada melhor que um blockbuster mundial. E nesse novo "arrasa quarteirão" brilham outras duas estrelas. Uma delas é o sedã CTS com motor de 6 cilindros, 3,2 litros e 220 cavalos. Estupidez maior é o Escalade EXT, um endiabrado utilitário esportivo, com motor V8 de 345 cavalos de potência, muita potência...