Em cumprimento ao mandado judicial, 330 famílias abandonaram dois edifícios que ocupavam desde fevereiro, na Avenida Prestes Maia e rua Brigadeiro Tobias. Sob ordens de oficiais de Justiça, garantidos por soldados do Batalhao de Choque, desde 6 horas os moradores desmontaram móveis e carregaram pertences para os caminhoes. Houve confusao. Mulheres desmaiaram, crianças perderam-se dos pais.
Sobrevivendo com salário mínimo, os moradores estavam sem rumo. "Se pelo menos deixassem a gente pagar o que pode pra morar numa casinha", lamentava o vigia Carmelito da Conceiçao, depois de descer 10 andares de escada com um armário nas costas e uma bolsa na mao. Baiano, ele veio para Sao Paulo há três anos "para tentar a sorte". Apesar de tudo, diz que melhorou de vida. "Se aqui a vida é dura, lá é pior", disse. "Agora eu sou trabalhador registrado."
Com o violao nas costas, puxando pelo braço a mulher e a filha de 3 anos, o cantor sertanejo Laércio Afonso da Silva, de 44 anos, apelava para a verve de compositor para definir a desolaçao: "Nao é vergonha nao poder morar/Se eu nao posso ser proprietário/Ninguém é dono de nada/Essa é a realidade da vida." Em dois cômodos, sem cozinha e banheiro, moravam sete pessoas de sua família.
Na calçada, encostados nas parede, ficavam amontoados os pertences dos moradores: roupas, fogoes, quadros, bonecas. Aos 73 anos, o alagoano Antenor Rodrigues Oliveira, tentava encontrar um lugar para o saco de estopa com suas roupas. Veio para Sao Paulo em 1946, foi PM, trabalhou na construçao civil, na lavoura. "É triste demais", dizia. "Esperava melhorar de vida, mas nunca é como a gente quer." No local, um dos proprietários, Augusto Amorim, de 24 anos, disse que os prédios abrigarao um hotel. "É triste, mas nao temos nada a ver com os problemas do país."
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