Wenders, que renovou o cinema alemao com um trabalho pautado na narraçao imagética, nao precisa ser genial o tempo todo, mas continua devendo um grande filme desde Asas do Desejo (1987). O documentário Buena Vista Social Club (1999) é uma exceçao que confirma a regra.

Bono, por sua vez, é um grande letrista, mas roteiro de cinema nao é com ele. A trilha sonora de Hotel... é do U2, Lou Reed e outros. A fita estréia sexta-feira em duas salas na regiao e no circuito paulistano.

O tom melancólico, a cara da banda irlandesa, está impregnado no filme, que se passa em um hotel decadente do centro de Los Angeles, onde habita uma fauna de esquisitos - essa tem sido, aliás, uma marca registrada dos últimos filmes de Wenders. Todo tipo de excluído social está representado lá: índio, prostituta, velho, bêbado, homossexual, doente mental, drogado etc.

Lá, vivia o filho de um milionário, viciado e exilado social por opçao, que teria se jogado do alto do hotel. Agentes do FBI investigam o caso, convictos de que foi um dos esquisitos que empurrou o rapaz. Sobra para um retardado, Tom Tom (Jeremy Davies), e sua paixao platônica, a avoada e etérea Eloise (Milla Jovovich).

Mel Gibson faz o agente Skinner, personagem que usa um colar ortopédico travando seus movimentos. Uma isca para chamar bilheteria, mas fora de esquadro em um papel longe de suas limitaçoes. Outra esquisitice do diretor?

Wenders afirma que a verdade tem várias faces, como se revelasse uma novidade. A história começa e termina com um pulo no ar, digno de figurar em clipes do U2, alguns já dirigidos por Wenders. No meio do filme, um tropeço.