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O governo que perde ganhando
Carlos Brickmann
05/06/2016 | 07:00
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Na gelada Grã-Bretanha, a primeira-ministra Margaret Thatcher enfrentou greve de um ano dos poderosos mineiros de carvão. Exigiu a volta incondicional dos mineiros ao trabalho. O custo do aquecimento doméstico, com carvão importado, se multiplicou, sua popularidade caiu; mas ela venceu. Faz pouco mais de 30 anos, mas até hoje está claro que quem dirige o país é o governo democraticamente eleito, não a estrutura sindical, às vezes interessada apenas em se reeleger – e o país que se dane.

Em Israel, na guerra pela independência, o oposicionista Menahen Begin, líder da poderosa milícia Irgun, encheu um barco, o Altalena, com 1.000 imigrantes e muitas, muitas armas, para entrar na luta por Jerusalém. O primeiro-ministro Ben Gurion exigiu que Begin incorporasse suas tropas voluntárias e suas armas às forças regulares do país. Begin não cedeu. Ben Gurion mandou afundar o Altalena. Mais de 100 pessoas morreram. Ben Gurion marcou a sofrida vitória com uma frase: “Um Estado não sobrevive sem que seu exército seja controlado pelo próprio Estado”.

No Brasil, depois da vitória do impeachment, o presidente Michel Temer já cansou de voltar atrás em suas decisões. Fala em economizar e aumenta em R$ 59 bilhões a folha de pagamentos – um terço do déficit do orçamento. E corre o risco de ter Dilma de volta no lugar que ele ocupa. Afinal, desfritar um ovo pode ser uma bela mágica, mas não é política.

As aparências enganam
Depois de perder no plenário, o PT tomou a iniciativa política, como se tivesse vencido. Promove manifestações, obriga Temer a proteger sua própria casa, calcula quantos senadores tem de atrair, e a qual custo (político), para recolocar Dilma na Presidência. O PT, que parecia desestruturado, se rearticula. Derrota é também questão de atitude. Quando os dirigentes Dalladier e Chamberlain cederam às pressões nazistas e entregaram a Hitler tudo o que ele queria, prometeram “paz para o nosso tempo”.
O grande Churchill foi implacável com eles: “Entre a guerra e a rendição, os senhores escolheram a rendição. E terão a guerra”.

Quem apoia quem
Mas que esperar de políticos que até hoje não decidiram nem o que fazer com um aliado que conhecem perfeitamente, como Eduardo Cunha?

Tudo menos a verdade
E não há saída aparente: Dilma Rousseff ou não sabe o que fala, ou sabe – que será pior? Ela promete, se conseguir do Senado o retorno ao cargo, convocar na hora novas eleições presidenciais. Falso: antes, seria preciso reformar a Constituição. E, além dos prazos de que não dispõe, teria de ganhar o voto favorável de 308 deputados e 49 senadores.

O próximo temporal
A delação de Marcelo Odebrecht tem tudo para sacudir ainda mais a política nacional. Ninguém chega a Príncipe dos Empreiteiros sem saber muito. O mesmo acontece com outros grandes empreiteiros. Mas quem dá mais medo aos possíveis alvos é o filho de Sérgio Machado, Expedito Machado Neto, Did. E não só pela formação familiar. Ele sempre teve fama de grande operador do PMDB. Seu pai contou histórias interessantíssimas sobre pixulecos e acarajés; imagina-se que o filho, já que estava mesmo ali por perto, tenha ajudado os clientes do pai a aplicar bem o dinheiro.

Quem sabe, sabe
Palestra do advogado Romeu Tuma Jr., ex-secretário nacional da Segurança, no centro comercial de Alphaville, em São Paulo. Quando lhe perguntaram sobre nióbio – elemento químico essencial para aços e ligas especiais, do qual o Brasil é o maior produtor mundial – respondeu: “Quem pode falar sobre isso é o Roberto Teixeira”. Teixeira é grande amigo, advogado e compadre do ex-presidente Lula.

A volta da...
A Constituição brasileira proíbe a censura prévia. Então, tá: a pedido de dois delegados da Polícia Federal, ambos participantes da Operação Lava Jato, textos do repórter Marcelo Auler foram censurados, e Auler não pode sequer citar seu nome. Detalhe: não houve ainda qualquer julgamento. Censura, enfim. E um depoimento pessoal: conheço Marcelo Auler há mais de 30 anos. É difícil concordarmos em alguma coisa, mas somos amigos, gosto dele e sempre o respeitei muito. Ele deve cometer milhares de erros, mas sempre de boa-fé. Quem quer brigar com ele deveria pensar melhor, verificar se a briga é justa. É provável que reavalie sua opinião.

...velha senhora
E, de qualquer maneira, censura não. Discutam, discordem, jurem ódio eterno. Mas dar trabalho a nossos juízes sobrecarregados para resolver divergências pessoais ou jornalísticas é desperdiçar o talento e o tempo de nossos juízes.
Acreditem, o Brasil tem causas mais nobres do que essa.




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