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CDs permitem conhecer a 'santíssima trindade' do jazz
Joao Marcos Coelho
Especial para o Diário
22/04/2000 | 15:16
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Você, que sempre quis saber por que o trompetista Miles Davis, o saxofonista John Coltrane e o pianista Bill Evans sao considerados a santa trindade do jazz moderno, agora tem uma chance de se iniciar na arte dessas feras.  Estao chegando esta semana às lojas três CDs nacionais - portanto, a preços acessíveis - intitulados Showcase. Tratam-se, na realidade, de coletâneas daqueles notáveis músicos de jazz modernos, pinçadas com muita sabedoria do catálogo das gravadoras Prestige, Fantasy e Original Jazz Classics, cobrindo um período que vai dos anos 50 até meados dos 60 (aqui eles sao fabricados e distribuídos pela BMG). 

Miles e a heroína - Primeiro Miles, o trompetista que melhor sintetizou todas as revoluçoes do jazz moderno, desde o LP Birth of the Cool de 1949, até Bitches Brew, de 1969, que introduziu a fusion ou eletrificaçao dos instrumentos no jazz. Em seus 65 anos muito bem vividos entre 1926 e 1991, Miles sempre esteve um passo à frente da música que se praticava.

Como nessas 11 faixas que - sem exagero - pode-se classificar como pequenas obras-primas, gravadas entre 1951 e 1956.  Ele atravessava uma fase pessoal particularmente perturbada, pois após uma imersao na heroína, lutava para se livrar dela, embora sem sucesso. É curioso que as músicas, pelo contrário, passem uma sensaçao de placidez, calma e relax. 

Em suma, é emocionante observar como Miles lapidou seu estilo inconfundível, ao lado de grandes músicos como Thelonius Monk (em The Man I Love), Sonny Rollins (em Down e Airegin), Charlie Parker (em Round Midnight). Aliás, a atmosfera contemplativa se deve bastante à intervençao em quase todas as faixas da cozinha do Modern Jazz Quartet - John Lewis ao piano, Percy Heath ao contrabaixo, Kenny Clarke e, às vezes, até o vibrafonista Milt Jackson. 

Coltrane radical - Também nascido em 1926, o saxofonista John Coltrane morreu em 1967 coroado como o mais radical representante do jazz moderno, nos anos 60. Esta excelente compilaçao enfoca o período em que Coltrane acabara de deixar o grupo de Miles Davis e assumia a condiçao de líder, pela primeira vez em sua carreira. Na verdade, foram 18 meses entre novembro de 1956 e julho de 1958, com uma produçao abundante: 45 músicas gravadas.  

É impressionante como um artista evoluiu em apenas dez anos de gravaçoes, como é o caso de Coltrane. Nessa showcase está documentado o seu start. E que partida: já inteiramente solto nos improvisos, ele prefigurava a notável capacidade de desossar temas até o limite.   

Confira nas oito faixas: em Bass Blues, brilha Paul Chambers no contrabaixo; na conhecidíssima Soultrane, composta pelo pianista Tadd Dameron, que participa da gravaçao; na versao antológica de Lush Life, a balada composta por Billy Strayhorn, o alter-ego de Duke Ellington; Ruby, My Dear de Thelonius Monk com o próprio ao piano.

Bill Evans - O terceiro showcase traz Bill Evans (1929-1980) em estado de graça, no período 1956-1962, durante o qual gravou para a Riverside. A escolha das gravaçoes é muito feliz, já que mostra a evoluçao do pianista, desde um pouco antes do lendário Kind of Blue, que gravou em 1959 com Miles Davis, instituindo o jazz modal, até a morte trágica do jovem contrabaixista Scott LaFaro.   

Entre um e outro acontecimento, Evans atingiu o clímax de sua criatividade, graças à perfeita integraçao entre seu piano, o contrabaixo de LaFaro e a bateria de Paul Motian. Juntos, eles estabeleceram novos e exigentes patamares para a consagrada fórmula do trio piano-baixo-bateria.  

Entre as 11 performances que compoem o CD, há quatro inacreditáveis: Waltz for Debby; Elsa; Autumn Leaves e Gloria's Step. Outras duas documentam a transiçao imediatamente anterior de Evans, já acompanhado por Motian à bateria, mas com outro contrabaixista, Chuck Israels (extremamente competente, mas nao genial como LaFaro). Israels participa, entao, de Re: Person I Knew e a deliciosa In Your Own Sweet Way.




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