O livro reúne reproduções dos 4,8 mil trabalhos artísticos criados pelo pintor natural de Brodósqui, no interior de São Paulo, dispostas em ordem cronológica e acompanhadas por verbetes com informações como técnica utilizada na realização da obra, dimensão, onde foi exposta e a quem pertenceu.
“Uma tradução para raisoné seria algo como racional. Existem no mundo publicações do gênero dedicadas a uns 700 artistas”, diz João Candido Portinari, filho único do pintor. Ele é organizador da celebração do centenário e comanda o Projeto Portinari, fundado no Rio há 24 anos e sediado na PUC (Pontifícia Universidade Católica) da cidade, voltado à pesquisa e divulgação da obra do artista.
“Esse é o primeiro catálogo raisoné de um latino-americano. Nem Diego Rivera (1886-1957) e José Clemente Orozco (1883-1949), de um país como o México, que valoriza bastante seus artistas, têm um livro com essas características”, diz João Candido. Christina Penna, diretora técnica do Projeto Portinari, ao qual está ligada desde a inauguração, confirma: “Não existe na América Latina um raisoné dessa amplitude”.
O livro, composto ainda por referências documentais a respeito das obras, como jornais e catálogos nas quais foram reproduzidas, tem tiragem de 2 mil exemplares e é bilíngüe (português/inglês). A distribuição será feita em sua maioria para universidades e bibliotecas, nacionais e internacionais, além de embaixadas do Brasil, pois está em vista também a divulgação da obra do pintor – e por conseqüência da cultura nacional – no exterior. Parte da tiragem deve ser comercializada.
“A publicação de catálogos raisonés significa avanço nas etapas de civilização de uma nação, mostra a necessidade de um povo de preservar sua memória. Só artistas de países de primeiro mundo têm livros do gênero. Acredito que o de Portinari pode estimular o desenvolvimento de iniciativas similares no Brasil”, afirma João Candido.
“São 4,8 mil as obras de Portinari que têm reconhecida a autenticidade, como murais, pinturas, desenhos e gravuras, as quais terão as imagens reproduzidas no catálogo. Entre elas, de 200 não sabemos a localização. Além disso, há ainda 400 em estudo para confirmação da possível originalidade, sem falar das 200 falsificações que conhecemos, bem grosseiras por sinal”, diz João Candido.
A iniciativa de realização do raisoné inclui também a preservação das imagens (cromos) das obras e digitalização das mesmas, material sob responsabilidade do Projeto Portinari. “A Petrobras arca com metade dos custos, R$ 1,8 milhão, por meio da Lei Rouanet. A verba para o catálogo já é suficiente, mas ainda estamos captando recursos com colecionadores de Portinari para a conservação dos cromos. Eles colaboraram até então com R$ 400 mil”, afirma Christina.
Junto ao livro será lançado também um CD ROM com todo o conteúdo. A intenção é disponibilizar o trabalho também na internet, por meio do site www.portinari.org.br, uma ótima maneira para a divulgação da obra, tendo em vista que 95% da produção do artista está em coleções particulares. O local onde se encontra mais trabalhos do pintor é o Rio – cidade na qual viveu a maior parte da vida. Em seguida vêm São Paulo e Minas Gerais. Cerca de 200 obras estão espalhadas por outros 20 países.
“A catalogação da obra começou em 2 de abril de 1979, no primeiro dia do Projeto Portinari, e é um processo ininterrupto. O raisoné registra esses 24 anos de trabalho”, diz João Candido. “O livro começa com um desenho de Portinari realizado aos 11 anos, um retrato do maestro e compositor Carlos Gomes (1836-1896) inspirado na ilustração de um maço de cigarros que levava o nome do maestro, nome também dado à banda de Brodósqui, cidade onde o pintor nasceu. A última imagem é de um óleo sobre tela inacabado, o qual ele morreu pintando e que tem como motivo uma índia carajá”.
A produção do pintor abrange cerca de 480 temas, como os sociais, o trabalho no campo e na cidade, os tipos populares e as brincadeiras infantis. “Uma dissecação do Brasil”. Ainda segundo João Candido, Portinari não foi apenas um pintor com preocupações estéticas: “Ele transmitiu valores humanos de não violência, de justiça social, de respeito a todas as formas de vida. Nascido em um pé de café, usou o pincel como arma pacífica para despertar esses valores”.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.