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É um santo e seu contrário

Pobre Carlos Lupi: está sendo atacado porque, como o santo de tantos devotos, foi capaz de estar em dois

Carlos Brickmann
04/12/2011 | 00:00
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Pobre Carlos Lupi: está sendo atacado porque, como o santo de tantos devotos, foi capaz de estar em dois lugares ao mesmo tempo, um emprego no Rio, um emprego em Brasília, ambos naturalmente (bem) pagos com dinheiro público.

Pobre Carlos Lupi: está sendo atacado porque, ao contrário do santo de tantos devotos, estava em dois lugares e não estava em nenhum, ou flanava num terceiro, gastando aquilo que o inesgotável Tesouro pagava por seus empregos lá e cá.

Pobre Carlos Lupi: está sendo atacado porque acumulou cargos públicos, o que a Constituição proíbe, porque ONGs que tinham convênios com seu ministério pagavam propina, porque viajou no avião particular de um empresário que dependia de seus ministeriais favores e com eles mantinha seus negócios.

Pobre Carlos Lupi: está sendo atacado porque mentiu ao Congresso, primeiro negando que tivesse tomado aquele avião, depois dizendo que não conhecia o seu proprietário, sendo desmentido por fatos e fotos. Não se sabe, aliás, qual a acusação principal contra Lupi: se é pela mentira, se é pela mentira mal contada.

Mas convenhamos: se não mentisse, que história poderia contar? Que era funcionário simultaneamente em duas cidades separadas por mais de uma hora de voo e, na impossibilidade de estar simultaneamente em ambas, não aparecia em nenhuma? Ou que, inconstitucionalmente, acumulava cargos públicos? Ou que é meio desligado nessas questões de dinheiro, mas não a ponto de perdê-lo? Ou, pior ainda: pode pedir que não o levem a mal, porque ele é assim mesmo.

DÚVIDA CRUEL

Terá sido o caro leitor o responsável pela nomeação de Carlos Lupi para o ministério? Este colunista também não foi. Lupi, como os que já caíram por corrupção, como os que ainda não foram fisgados no negro monte dos malfeitos, foi colocado no ministério pela presidente Dilma Rousseff. Teria ela se enganado sobre ele, ou eles? Talvez - mas devia conhecê-los, pois foi sua colega de ministério no Governo Lula, supervisionava seu trabalho e tinha fama de boa gerente.

COMISSÃO DE ÉTICA

1 - Do jeito que as coisas andam, precisava se chamar "Comissão"?

2 - "Pertence", para este colunista, sempre foi o que se bota na feijoada.

O BRASIL COMO ELE É

Não cometa, caro leitor, a injustiça de pensar que todos os problemas estão no Governo Federal. Estão no Judiciário, onde os juízes do Trabalho consideram baixo o salário de R$ 21.000 mensais e entram em greve (prejudicam o patrão? Não: prejudicam o público, que já espera longamente pelos julgamentos); está em prefeituras espalhadas em todo o País, onde prefeitos são presos sob acusações de corrupção e abuso de poder econômico; estão nos Estados. Hoje, dez governadores correm risco de cassação, por abuso de poder econômico nas campanhas eleitorais (fora estes, três já foram cassados). Considerando-se que o País tem 27 Estados, é uma belíssima porcentagem.

A GUERRA DA HOMOFOBIA

Esta semana deve ser quente no Senado: está marcada para quinta-feira a votação do projeto de lei contra a homofobia - o ódio aos homossexuais, que a cada instante provoca agressões, ferimentos e mortes. A classificação da homofobia como crime atingirá em cheio os movimentos neonazistas que transformaram as agressões a homossexuais numa bandeira política. E por que a criminalização de algo tão nocivo deve gerar tensões? Porque uma bancada cujo líder é o senador Magno Malta, do PR capixaba, encara a proteção à minoria homossexual como um pecado. Em 2008, falando sobre o mesmo projeto, Malta - que, em termos de defesa dos direitos individuais, considera Átila, o Huno, perigosos liberais - disse que aprová-lo iria "criar um império homossexual no Brasil".

VONTADE DIVINA

Magno Malta se considera religioso e por isso combate a proteção aos homossexuais. Vale a pena citar a esse respeito a frase de um congressista americano religioso, Steve Simon, judeu praticante, num debate sobre casamento de homossexuais: "Quantos gays Deus precisa criar até nos perguntarmos se Ele realmente quer ou não que eles existam?"

O EXEMPLO AMERICANO

O PSD, partido liderado pelo prefeito paulistano Gilberto Kassab, não ocupa nenhuma cadeira extra no Congresso: o número de parlamentares continua o mesmo, apenas redistribuído, com alguns deixando suas antigas legendas e migrando para a nova. No entanto, o presidente da Câmara, Marco Maia, do PT gaúcho, quer aproveitar a oportunidade para criar mais ganchos no já vasto cabide de empregos: propõe mais 60 vagas para atender à nova sigla sem tirar empregos das antigas. Pois é: nos Estados Unidos, até o número de parlamentares é fixo. Se a população cresce, as bancadas ficam estáveis. Se um Estado cresce mais que outro, sua bancada também cresce, mas a do outro diminui. Nova York, que por anos teve a maior bancada do Congresso, hoje é superada pela Califórnia.




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