Cultura & Lazer Titulo
Um mês multimídia para Chico
Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
13/01/2005 | 15:24
Compartilhar notícia


Um evento multimídia que contempla facetas artísticas e biográficas de Chico Buarque, 60 anos, é aberto nesta quinta-feira, às 19h30, no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Ótima “desculpa” para conhecer essa novíssima – e bem equipada – unidade da rede Sesc, a mostra Chico Buarque – O Tempo e o Artista promete um passeio histórico, emocionante e com entrada franca.

O evento vem do Rio, onde ficou aberto à visitação pública nos últimos três meses na Biblioteca Nacional. Seu curador, José Buarque Ferreira, 30, é sobrinho do compositor carioca. Mestre em cinema pela USP (Universidade de São Paulo), Zeca, como é conhecido, participou como assistente de produção e direção do documentário Raízes do Brasil, de Nelson Pereira dos Santos, sobre a vida e a obra de seu avô e pai de Chico, o historiador, jornalista e advogado Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982).

A experiência de Zeca com Pereira dos Santos foi definitiva. “A mostra é como um documentário e eu não poderia ter tido mestre melhor”, diz. Boa parte da equipe do filme colaborou na montagem, como o pesquisador Antonio Venancio e o finalizador de imagens Flávio Nunes. Neste caminho surgiram pérolas, como um bilhete de uma professora escrito quando Chico tinha 8 anos no qual ela diz que espera no futuro entrar em uma livraria e encontrar um livro do aluno. “De importante interesse político são, por exemplo, os manuscritos de A Banda e de Cálice, esta com trechos do parceiro Gil. Além dos horrendos pareceres dos censores da ditadura”, diz o curador.

Apesar de parte do clã, Zeca evitou por princípios o culto à personalidade, algo que ele confirma que também desagradaria o tio. Chico viu a exposição e, pelo menos ao que revela Zeca, nada comentou. “Mas ele gostou”, afirma o sobrinho, como se não esperasse nada diferente. Surpresa mesmo foi a acolhida “qualitativa” do público: “As pessoas deixam no caderno de presença verdadeiras declarações, recados emocionados. É muito bonito de se ver.”

Logo na entrada, o visitante é levado a acompanhar, por meio de uma projeção, uma das rotineiras caminhadas de Chico pelo seu bairro, o Leblon. Depois seguem-se três módulos. O primeiro mostra a infância do artista na casa da rua Buri, em São Paulo, onde reinava absoluta a influência do pai. A idéia é recompor a atmosfera cultural que Chico respirou nos seus primeiros anos de vida. Estão lá os primeiros livros e as músicas ouvidas naquele período.

A formação musical inicia o segundo bloco, que foca sua carreira, dominada pela presença de grandes sambistas, com fotos e músicas de Ismael Silva, Ataulfo Alves, Noel Rosa e Dorival Caymmi. Para ouvir os sambistas cantando o visitante fica embaixo de uma espécie de holofote. Os contemporâneos de Chico, Gil e Caetano, surgem em imagens de festivais e programas de TV. Documentos, depoimentos, fotos e textos de Vinicius de Moraes e Tom Jobim completam o módulo.

O terceiro segmento da mostra o Chico cidadão – a participação na história política do país com ênfase na oposição como cidadão-artista ao regime militar. O visitante confere em um grande mural documentos da repressão, do movimento Diretas Já, do exílio de Chico na Itália e a volta ao Brasil.

Projetos artísticos, como os grandes projetos O Grande Circo Místico e Cambaio estão no quarto bloco. Assim como as inúmeras cantoras que eternizaram suas obras, como Gal, Bethânia e Nara Leão.

O futebol, paixão de primeira hora de Chico, ganhou na exposição um painel que mostra em fotos seus grandes ídolos. Camisa e fotos lembram seu time Polytheama. Neste módulo, um exemplar do jogo de mesa Ludopédio, criado pelo artista durante o exílio na Itália, entre 1969 e 1970, fruto do ócio imposto pelo retiro político. Na apresentação do brinquedo, que chegou a ser lançado no mercado com o nome de Escrete, o compositor escreveu: “Este jogo foi criado na Itália, numa época em que seu autor, evidentemente, não tinha mais o que fazer.”

Criações de Chico Buarque para o teatro, cinema e literatura são documentados. Exibição de filmes baseados em suas obras e shows completam o evento.

Shows

Quinta-feira e sexta (21h) – O cantor, compositor e violonista Toquinho apresenta parcerias com Chico Buarque, como Samba de Orly e Samba para Vinicius, além de relembrar histórias do exílio na Itália. Ingr.: R$ 10 e R$ 20. Estão previstas ainda apresentações de Francis Hime (dias 15 e 16); Cida Moreira (19); Renato Braz (26).

Filmes

Sexta-feira (20h) – Benjamim, de Monique Gardemberg. Entrada franca. Outros filmes previstos são: Estorvo, de Ruy Guerra (dia 21); e Ópera do Malandro, de Ruy Guerra (28).

Espetáculo infantil

Saltimbancos, com a Cia. 4 na Trilha. Aos sábados, domingos e terças, até dia 30 (16h). Ingr.: R$ 4.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;