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Orhan Pamuk
Das Agências
12/10/2006 | 17:04
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O autor turco Orhan Pamuk, de 54 anos, ganhou nesta quinta-feira o Prêmio Nobel de Literatura. O júri da Academia Sueca, em comunicado, diz que Pamuk, “na busca pela alma melancólica de sua cidade natal, descobriu novos símbolos para o combate e a mistura de culturas”. O escitor ficou conhecido fora da Turquia quando lançou O Castelo Branco (Record) em 1985, que foi traduzido no Ocidente a partir de 1991, e Meu Nome é Vermelho (Companhia das Letras), de 1998, com versões em mais de 30 idiomas.

Pamuk é atacado pelos ultranacionalistas em seu país por macular a “alma turca” ao defender minorias que sofrem massacres (30 mil curdos na Anatólia, a parte não européia do território do país) e genocídio (1 milhão de armênios, entre 1915 e 1917) no país. O prêmio pode soar como nova provocação para os ultranacionalistas da Turquia, país dividido entre ser um estado de orientação islâmica (religião da maioria da população) ou secular. A visita à Turquia do papa Bento XVI, que condenou a violência dos grupos de fanáticos muçulmanos, é a outra provocação ao país que tenta entrar na União Européia livre de acusações de violações de direitos humanos.

Em sua obra, Pamuk descreve o posicionamento da sociedade turca entre o Oriente e o Ocidente. Escreveu, entre outros, O Livro Negro, de 1990, um dos romances mais lidos na Turquia, que descreve a busca desenfreada de uma mulher por um homem durante uma semana em uma Istambul nevada, pantanosa e ambígua, Istambul: Memórias e a Cidade (recordações de sua infância na maior cidade da Turquia), A Vida Nova (fusão de thriller intelectual com road novel pelo interior do país com conspirações bizantinas e romance) e o recente Neve (2004), reflexão sobre o amor e a política na Turquia moderna.

Na bolsa de apostas no prêmio Nobel da Feira de Frankfurt, a maior feira mundial de livros aberta semana passada na Alemanha, Pamuk estava à frente, seguido do sírio Adonis, do polonês Ryszard Kapuscinski, e dos norte-americanos Joyce Carol Oates, Philip Roth, sempre indicado, e até Bob Dylan. Apareciam com chances o peruano Mario Vargas Llosa, o israelense Amos Oz, o mexicano Carlos Fuentes, o sul-coreano Ko Un e o holandês Cees Noteboom. A literatura de testemunho, pelo menos por essa lista de favoritos, parece a preferida da Academia Sueca.

O autor, que recebeu diversos prêmios literários no exterior, como o Prêmio da Paz das editoras alemãs em outubro de 2005, foi chamado de renegado por seus críticos na Turquia após declarações a respeito de temas considerados tabu sobre questões armênia e curda. “Um milhão de armênios e 30 mil curdos morreram nessas terras, mas ninguém além de mim ousa dizê-lo”, afirmou em fevereiro de 2005 a uma revista suíça. Foi processado na Turquia ano passado por “insulto à nação turca”, crime que prevê uma sentença de três anos de prisão, mas o processo foi arquivado em janeiro deste ano.

Pamuk é o mais conhecido escritor turco da atualidade. Nascido em 7 de junho de 1952 de uma família ricos industriais de Istambul, o escritor abandonou aos 23 anos de idade os estudos de engenharia e arquitetura para formar-se em jornalismo e enclausurar-se em seu apartamento e se dedicar à literatura.

Seu primeiro livro, Darkness and Light (Trevas e Luz) foi publicado em 1979. As portas da fama foram abertas em sua sexta obra, Meu Nome É Vermelho, que alia narrativa policial a história de amor proibida com reflexões sobre as culturas do Ocidente e do Oriente no fim do século XVI.

Istambul, a velha cidade caleidoscópica, é o centro de quase todos os seus livros. Pamuk autor de romances históricos que fundem tradições islâmicas e ocidentais, digressões estéticas e lendas sufis em narrativas comparáveis tanto a Italo Calvino quanto às Mil e uma Noites. Filho de uma família de classe média, estudou engenharia, arquitetura e jornalismo e se dedica à literatura desde 1974.

Pai de uma filha, Rüya (Sonho, em turco) o novo Nobel de Literatura é divorciado e vive em Istambul. Raramente aparece em público para dedicar suas horas a escrever, entre uma tragada e outra de cigarro, em seu apartamento

Ameaças de morte – Suas referências ao massacre de armênios pelas mãos do Império Otomano, assim como ao conflito curdo no sudeste do país, levantaram uma onda de protestos na Turquia. Logo chegaram as ameaças de morte. Uma autoridade de província, inclusive, ordenou a destruição de seus livros, ordem anulada pelo governo turco, que trata com cuidado as questões relativas aos direitos humanos, pois planeja ingressar na União Européia.

Dividido entre sua dissidência política e seu desejo de ver a Turquia na União Européia, Pamuk ficou irritado com o fato de muitos opositores na Europa terem utilizado seu caso judicial como um argumento contra o ingresso de seu país no bloco.

A obra de Pamuk não se distancia da realidade da Turquia. As tentativas do país na conversão em um país europeu, com sua divisão entre Islã e secularismo, tradição e modernidade, se encontram no coração de sua preocupação literária.

Como os outros prêmios Nobel, o de Literatura é orçado em 10 milhões de coroas suecas (1,1 milhão de euros). A entrega dos prêmios será no dia 10 de dezembro em uma cerimônia em Estocolmo, menos o Nobel da Paz, que ocorrerá na mesma data, mas em Oslo, na Noruega. No ano passado o prêmio de Literatura foi para o dramaturgo britânico Harold Pinter.



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