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Ação transforma lacres e tampinhas em cadeiras de rodas

Condomínio ajuda OAB de Santo André a beneficiar instituições carentes da cidade

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
21/11/2020 | 00:01
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Denis Maciel/DGABC


Moradores do Conjunto Habitacional IAPI (Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriais), na Vila Guiomar, em Santo André, estão reunidos pelo mesmo objetivo: ajudar o próximo e preservar o meio ambiente. Para isso, se mobilizam e arrecadam tampas de garrafa PET e lacres de lata de alumínio, que são doadas à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santo André e, vendidas, se transformam em cadeiras de rodas, que são doadas para instituições de caridade.

A ideia partiu de moradora do IAPI, a aposentada Tânia Regina Lacerda, 63 anos, que soube da campanha há um ano e meio, dentro de uma pastelaria na vizinhança. Ela buscou mais informações e conheceu a advogada Silvia Gimenes, 58, idealizadora e coordenadora do projeto, batizado de Campanha Permanente dos Lacres e Tampinhas Solidários da OAB de Santo André.

“Quando este projeto chegou até mim, pensei que é mais do que ajudar”, diz Tânia. Para ela, ver alguém que não tem condições de andar, de correr, sendo beneficiado com uma cadeira de rodas e saber que ela fez parte daquilo, é algo impagável.

Tânia conversou sobre o assunto com um dos vizinhos, o aposentado Roberto Gomes da Silva, 65, que se sentiu tocado por três razões: solidariedade, meio ambiente e cidadania. Decidiu, na hora, participar e começou a ajudar a implementar a ideia no conjunto habitacional ao lado da vizinha.
“Sempre estive envolvido com projetos que chegam na ponta da corda, onde a maioria do povo está pendurada”, explica. “Este tipo de trabalho tem que ser abraçado por todos”, frisa Silva.

A divulgação para a arrecadação no IAPI acontece, principalmente, no boca a boca, além de cartazes e internet. Na frente de cada prédio há galão de água (vazio) de seis litros, onde as pessoas podem deixar tampas e lacres. Junto há aviso da OAB explicando sobre a arrecadação.

“Começou com um prédio, foi para dois, três... Tem nove prédios arrecadando. Fora os colegas e pessoas das redondezas que também ajudam. Tem um pessoal de restaurante que traz para a gente”, explica Tânia. Depois de recolhido, todo o material é concentrado na garagem de Tânia, para que a advogada Silvia possa fazer a retirada.

Os lacres e tampinhas recolhidos são vendidos pela OAB para cooperativas de materiais reciclados e todo o valor arrecadado é investido na compra das cadeiras de rodas. São necessários cerca de 100 quilos de lacres de latinhas de alumínio ou aproximadamente 350 quilos de tampinhas plásticas de garrafas PET por cadeira.

Neste mês, por meio da campanha, foram doadas cinco cadeiras de rodas para instituições andreenses: Lar Benvindo; Adavida (Associação dos Deficientes Auditivos-Visuais e Deficientes Auditivos); Associação Projeto Crer (Carinho e Respeito ao Excepcional – Renovando); Instituição Cidade dos Meninos Maria Imaculada – Centro de Reabilitação; e Instituição Beneficente Irmã Marli. “A média de tampinhas que doamos é entre 500 a 800”, conta Tânia.

“Sempre procurei ajudar as pessoas. Isso está dentro de mim. Me sinto feliz, abençoada e agradecida por ter conhecido este projeto e por poder fazer alguma coisa. É algo que vem lá de dentro da gente. Ajudar é estar com a mão na massa e saber que lá na frente tem resultado”, comemora Tânia. “Digo que são pequenos esforços que geram grandes resultados. O recolhimento de lacres de latinhas e tampinhas plásticas, não importa a quantidade, é uma prova da união de pequenos esforços que, aos poucos, se tornam milhares”, comemora a advogada.

Projeto já contemplou dez instituições

Idealizadora do projeto, a advogada andreense Silvia Gimenes sempre foi a favor da reciclagem e da preservação do meio ambiente. Há tempos escutou a história de que lacres de latinhas podiam se converter em cadeira de rodas, o que lhe causou curiosidade. Teve, então, a ideia de começar a juntar lacres de latas de alumínio. Quando chegou aos 50 mil itens, em meados de 2018, foi até a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santo André e sugeriu, como gesto simbólico, ecológico e solidário, fazer campanha de arrecadação do material.

A ideia foi recebida com carinho e aprovada de imediato. Em novembro daquele ano entregaram a primeira cadeira de rodas. “Foi o Nosso Lar a primeira instituição a receber”, recorda.

Em 2019 a campanha conseguiu angariar mais quatro cadeiras, todas já devidamente doadas. E, agora, o número pulou para cinco unidades. “As pessoas estão mais conscientes durante a pandemia”, acredita a advogada.

Neste ano, a campanha se expandiu. Silvia conta que os envolvidos perceberam que arrecadar tampinhas de garrafas PET é mais fácil do que lacres de latas, “pois nem todos tomam refrigerantes ou cervejas em suas casas, mas todo mundo faz uso de leite, iogurte, produtos de higiene e amaciante. Todas essas tampas integram os itens de arrecadação”, explica.

Além da ajuda dos moradores do Conjunto Habitacional IAPI, na Vila Guiomar, a campanha conta com apoio de restaurantes, bares, empórios e escolas, além das próprias instituições beneficentes. Isso sem contar os outros advogados e familiares.

Como se trata de campanha permanente, quem quiser pode fazer as doações na sede da OAB andreense (Avenida Portugal, 233 – informações pelos telefones 4994-3040/4436-0312), e também no ponto de arrecadação do Conjunto Habitacional IAPI (Rua IX de Setembro – prédio 16 – garagem). Mas é necessário que não se misture os lacres com as tampas, segundo a idealizadora.

Silvia lembra que a reciclagem do alumínio e do plástico gera impactos sociais, econômicos e ambientais. “Isso porque os materiais podem ser reciclados diversas vezes, sem perder suas características principais”, comenta. “Me sinto pessoa feliz por poder estar contribuindo com o meio ambiente e, principalmente, com a ajuda de muitas pessoas. Com doação dos lacres e tampinhas, conseguimos auxiliar instituições sérias, que necessitam de cadeiras de rodas. Vamos esperar que isso se intensifique e se multiplique para a gente fazer corrente do bem”, encerra. 




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