Não importa há quanto tempo existem, bandas de rock do Grande ABC, refletindo o cenário nacional, vivenciam céu e inferno. Em entrevista com cinco grupos independentes surgidos na região, o Diário reuniu dificuldades e vantagens apontadas por eles em ter as rédeas da própria carreira, dividindo-se entre arte e empreendedorismo.

O paraíso, segundo dizem, é mesmo ter total liberdade criativa. As ferramentas de produção e de divulgação estão mais acessíveis, colaborando com o resultado final. "Nós conseguimos trilhar caminho próprio", afirma Sandro Moretti, vocalista da banda Descolados do Mundo, de Santo André.

O quarteto, que trabalha na pós-produção de um álbum - o primeiro completo, com mais de dez músicas, em cerca de 11 anos de carreira - pode se considerar privilegiado: tem o próprio estúdio, onde ensaia semanalmente.

Há quem consiga, possibilitado pela experiência ou ainda pelo "gás" de início de jornada, dizer o tão sonhado "vivo de música". É o caso d'Os Búlticos, na ativa há 11 anos. O vocalista, Johnny Garcia, responsável pelas letras bem-humoradas, também gasta um pouco mais de sua verve engraçada no cartunismo. As ambições continuam as mesmas do início, garante Garcia. "Continuar fazendo shows, lançando CDs e viajando o mundo tocando nossa música. Ah, e é claro, nos divertir um pouco com isso tudo, senão nada valeria a pena".

Em março, os rapazes do The Cleaners, criado há quatro anos em Rio Grande da Serra, decidiram também apostar todas as fichas. "Você é bom no que faz por fazer. Pois bem, fazemos música e amamos esse desconhecido, por isso saímos de nossos empregos formais, por acreditar muito no que fazemos e por tudo que vem acontecendo", diz o vocalista, Rodrigo Milk. A banda já excursiona pelo interior e por outros Estados.

Os MacCACOS, de São Bernardo, também vivem período singular. Graças ao projeto paralelo Zoombeatles, popular cover dos quatro rapazes de Liverpool, os músicos vivem da arte. Nem por isso, dizem, a batalha segue menos árdua. "O projeto autoral mostra as mesmas dificuldades que nossos amigos têm: falta de espaço para se apresentar e de público de qualidade", diz o vocalista Reinaldo Almeida.

Há certo tempo, tomaram uma atitude ousada: filtrar bem os convites que recebem para tocar sem os terninhos dos Beatles. "Começamos a escolher locais que oferecem o mínimo de estrutura técnica. O público também tem de estar aberto a ouvir nosso som ", afirma Almeida.

A Assoma, de Santo André, caçula do grupo com dois anos de idade, começa a colher agora os primeiros louros, com participação em festivais. Como as bandas vizinhas, se apresenta pela região metropolitana. Assim como os colegas, ainda detecta falta de apoio. "Especialmente para novos músicos, mas acredito que é um problema sociocultural do Brasil todo", diz o guitarrista Alê Kaimer.

A internet é inegável ferramenta de produção e divulgação. Fica a difícil tarefa de se sobressair em um mar de músicos. Para o vocalista do MacCACOS, esse aspecto é dos únicos em que as regras antigas ainda valem. "Com o tempo, quem tem qualidade fica e as pessoas começam a separar quem se aventura e quem é bom de verdade."s

OS MACCACOS
Local: São Bernardo
Quando: 2000
Integrantes: Reinaldo Almeida (vocal e guitarra base),
Rony Almeida (vocal e guitarra solo),
Helton Oliveira (teclado),
Rodrigo Scantamburlo (bateria) e Thiago Colli (baixo e vocal)

DESCOLADOS DO MUNDO
Local: Santo André
Quando: 1999
Integrantes: Sandro Moretti (vocal e violão), Rick Franchiose (guitarra), Nivas Oliveira (baixo) e Daniel Berrettini (bateria)

THE CLEANERS
Local: Rio Grande da Serra
Quando: 2006
Integrantes: Rodrigo Milk (vocal e guitarra), José Filho (guitarra), Rodrigo Lima (baixo) e Duca Olimazzi (bateria)

ASSOMA
Local: Santo André
Quando: 2008
Integrantes: Paulinha Balduino (vocal), Alê Kaimer (guitarra), Rafael Fernandes (baixo) e Léo Prieto (bateria)

OS BÚLTICOS
Local: Santo André
Quando: 1999
Integrantes: Johnny Garcia (vocal e guitarra), Marcos Eduardo (guitarra), Painho Brown (baixo) e Leandro Mutton (bateria)