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Dois anos depois, assassinato em balada segue sem julgamento
Yara Ferraz
Diário do Grande ABC
16/10/2016 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


 Após dois anos da morte do jovem Rafael Mendes Caetano, 23 anos, em uma casa noturna de Mauá, o julgamento dos responsáveis pelo crime ainda não foi realizado pela Justiça. Dos cinco acusados pelo homicídio, sendo quatro deles policiais militares, somente dois aguardam o julgamento na prisão.

O inquérito criminal, que foi desmembrado em quatro processos diferentes, corre em segredo de Justiça. Até o momento, duas audiências preliminares foram realizadas, ambas em 2015.

Conforme a SSP (Secretaria de Segurança Pública) do Estado e a Corregedoria da PM (Polícia Militar), dois policiais militares permanecem detidos no Presídio Romão Gomes. Quando o Diário solicitou a mesma informação, em julho deste ano, três estavam presos no local. Os envolvidos respondem a processo criminal pela prática do crime de homicídio qualificado e também a procedimento interno na PM na esfera administrativa.

O técnico de TV e circuito interno morreu em outubro de 2014, após ser atirado da varanda da casa noturna El Cuervo, localizada na Avenida Portugal, pelo grupo (veja mais informações no texto ao lado). Desde então, o irmão mais velho da vítima, Thiago Mendes Caetano, 29 anos, vai mensalmente até o Fórum de Mauá, onde o processo está, para verificar novidades. “Ao cemitério eu não venho muito, porque aqui não posso fazer nada por ele. As notícias não são positivas, já que sempre me dizem que não há previsão de julgamento. A sensação é a de que pouquíssima coisa andou. Parece que esqueceram e está parado”, afirmou.

Desde a morte do irmão, a vida de toda a família sofreu bruscas mudanças. A mãe, Maria José Mendes Caetano, 60, se mudou para o Estado da Bahia logo depois do acontecido junto com a filha mais velha. Rafael era o caçula. “A nossa vida parou. Minha mãe toma remédios e faz tratamento. Inclusive, ela não pode viajar por orientação do médico, já que pode ter um choque emocional”, contou.

Ao falar do irmão mais novo, Thiago não poupa elogios e se emociona muito. “Ele era alguém de muita alegria. Todo mundo gostava dele, que cativava qualquer um onde chegava. No enterro, tinha quatro amigas da família que diziam que se sentiam como mães dele. Ele era muito carinhoso.”

No dia do homicídio, o irmão mais velho deveria estar junto de Rafael e de mais dois amigos, que “Deus não quis que eu estivesse lá naquele momento. Lembro como se fosse hoje, quando o nosso amigo que estava com ele me ligou para falar o que tinha acontecido. Não acreditei que em um momento feliz, no qual ele estava comemorando o novo trabalho, aconteceria isso”, disse emocionado.

Dois anos após o acontecido, a única coisa que pode amenizar a dor da família é a Justiça. “É uma sensação de impunidade que acompanha a gente todos os dias. Precisamos de um julgamento. O caso tem de ser fechado.”

Jovem foi morto após oferecer bebida a grupo de policiais

A morte de Rafael Mendes Caetano, 23 anos, aconteceu na madrugada do dia 10 de outubro de 2014, uma sexta-feira. Ele, que estava comemorando novo emprego ao lado de amigos, foi jogado da varanda do bar El Cuervo, na Avenida Portugal, em Mauá, após oferecer bebidas e a chamar um dos homens de um grupo, formado na maioria por policiais militares à paisana, de ‘parça’.

Um dos amigos de Rafael tentou acalmar os ânimos após o início da briga, mas foi ameaçado. Os colegas do agressor seguraram a vítima enquanto ela era golpeada com socos, chutes e coronhadas. Em seguida, o grupo levantou o jovem e o jogou para o piso inferior, o que causou traumatismo craniano. Rafael chegou a ser levado para o Hospital Mário Covas, em Santo André, onde ficou internado com laudo de morte encefálica. Ele morreu no dia 13.

Conforme o irmão da vítima, Thiago Mendes Caetano, 29 anos, apesar de os proprietários da casa noturna se comprometerem a ajudar financeiramente a família, isso nunca aconteceu. “No nosso primeiro contato, eles disseram que iam nos ajudar com as despesas, porém desde então não conseguimos mais contato. Por mim, isso não tem problema nenhum. Eles fizeram o mais importante, que foi ceder as imagens (à polícia), o que foi determinante para as investigações”, disse.

A equipe do Diário foi até o local onde o El Cuervo funcionava e que atualmente abriga um bar e restaurante. Uma funcionária, que preferiu não se identificar, afirmou que o estabelecimento foi vendido há cerca de um ano e meio e não tem nenhum vínculo com os antigos proprietários.




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